Falar sobre relacionamentos afetivos, quase sempre nos remete à orientação sexual, mas é mais do que isto o que este artigo propõe. Primeiramente, precisamos reconhecer que a sociedade se habituou, pelas convenções, a aprovar as relações monogâmicas. Muito convenientes ao controle tanto por parte das classes dominantes como também para o controle dos patrimônios. Toda vez que a sociedade discute um assunto torna-se imprescindível alicerçar os argumentos. Algumas vezes a religião entra como pano de fundo e em outras são estabelecidos critérios oportunos para tal.
Sendo assim, nos acostumamos a ver a poliafetividade como algo no mínimo estranho. Seja por questões religiosas ou até mesmo pelo rigor das leis vigentes no ocidente, é comum considerar as formas diferentes da monogamia como ameaçadoras à moral e aos bons costumes. Todavia, o relevante para a sociedade deveria ser apenas o comportamento social, aquilo que de fato aparece no convívio entre os pares. De forma alguma a vida íntima deveria ser considerada como conduta de civilidade.
Como citado acima, há uma confusão entre orientação à sexualidade e as formas de afeto a serem vividas entre os gêneros. No entanto, quando se decide considerar a idoneidade ou integridade de alguém pelas escolhas dos diferentes tipos de relacionamentos afetivos ou até mesmo pela sua orientação a sexualidade; aí reside o problema. O preconceito, as formatações involuntárias que os núcleos sociais estimulam nos indivíduos, acabam por desconsiderar aspectos relevantes da aceitabilidade, ou não, de determinado padrão. Se atualmente a sociedade considera “normal” a monogamia, ainda que muitas vezes hipocritamente violada às escusas, houve épocas e ainda existem lugares onde a poliginia e a poligamia são aceitas.
A Igreja Católica teve fortes razões para monopolizar o casamento monogâmico, por isso o institucionalizou. A principal delas o interesse da igreja em reduzir o número de herdeiros dos reis e da corte já que tendo apenas uma mulher reduziriam significativamente a quantidade de herdeiros e na ausência deles a Igreja herdava toda a riqueza (forma inclusive que contribuiu com o acúmulo de seu enorme patrimônio). Se pensarmos pelo ponto de vista bíblico, seria necessário que observássemos que a sociedade é quem constrói esses padrões, tanto que Salomão teve muitas mulheres.
A sociedade do século XXI precisa permitir que as leis civis respeitem o comportamento humano, despidas de dogmas religiosos ou convenções que muitas vezes são inescrupulosamente construídas para atender aos interesses mais diversos. É notório que se convencionou dois tipos de associações: a de que os relacionamentos poliafetivos sejam associados à promiscuidade e devassidão (como se neles não houvesse afeto) e a monogamia ao amor (como se nela não houvesse libido). A desconstrução disso é o que importa, e para que ela ocorra existe algo mais imprescindível ainda: o respeito. Afinal quem de nós, já não se viu dividido entre dois ou mais afetos? Quantas vezes não pensamos que determinado parceiro(a) nos completa em tal momento, mas que o outro ou outra é perfeito em outra situação?
Pois é, enquanto nós ocidentais nos deixamos levar por estas construções, os orientais souberam como difundir e respeitar o sexo e sua prática de forma sábia e natural, que o diga o Kamasutra!
Portanto, desejo que nos empenhemos mais a ler e conhecer o assunto, sem receios, sem preconceitos, sem julgamentos, entendendo que convenções infundadas são como vendas, que nos cegam e nos impedem de compreender de fato, no que consiste a sexualidade humana.