Para ler nas férias I

Uma listinha de livros que fiz para o Natal e ficaram para as férias… então, para quem tem um tempo de folga, um feriado prolongado e quer paz, em vez de agitação, aí vai uma listinha de boas leituras. Nos sites de livrarias ou editoras, há ofertas que podem fazer a alegria dos leitores nos últimos momentos de 2023.

Especulações cinematográficas (Intrínseca, R$ 89,90), de Quentin Tarantino, é para quem conhece cinema. No primeiro texto, as experiências de Quentin, que antes de completar 10 anos de idade, acompanhava a mãe e o padrasto para assistir filmes nada  adequados à sua faixa etária — O poderoso chefão, Bullit, Domingo maldito, Klute, M.A.S.H. ou Ânsia de amar — demonstram o quanto a geração dos pais dos hoje sessentões nem sempre era zelosa com a moral e os valores tradicionais do american way of life. Os filmes de ação encantavam o menino, os que tratavam mais de novas posturas sexuais nem tanto. Análises muito pessoais a respeito de cineastas consagrados como Martin Scorcese e Francis Ford Coppola estão ao lado de loas a outros mais irregulares, entre eles, Brian de Palma e Peter Bogdanovich. Ao lado dos perfis de Steve McQueen e Clint Eastwood, estão lembranças do breve brilho do ator Barry Brown, que se matou aos 27 anos. A paixão pelo cinemão americano é intensa: Tarantino dispensa o mesmo ardor analítico a Taxi Driver e à Taberna do Inferno, que serve para escrutinar o sucesso e a maestria de Sylvester Stallone. Tudo num estilo apaixonado e reverente, como o próprio cinema de Tarantino.

A vizinha tunisiana (Tabla, R$ 67,90), de Habib Selmi, discute aculturação, imigração e luta de classes no encontro de um professor e uma empregada doméstica, ambos vindos da Tunísia, em Paris. Kamal se mostra perfeitamente adaptado à vida em um bairro rico da cidade, onde fez estudos superiores de Matemática, embora continue sendo visto como um árabe pelos amigos e por sua própria mulher, francesa.  Ao conhecer Zuhra, empregada doméstica que trabalha e vive em seu prédio, Kamal vai questionar seu olhar preconceituoso para a moça pobre e repensar suas raízes culturais.

O bolo fofo e outros contos (Roça Nova, R$ 81) reunindo uma seleção de três livros de Hebe Uhart, é o primeiro lançamento da autora argentina no Brasil. Conhecida como cronista de vidas comuns e coisas mínimas, Hebe Uhart se especializou em microcontos, novelas e crônicas de viagem. Sua “literatura de experiências” traz um raro estilo comedido, mas extremamente sensível.

Os rostos que tenho (Record, R$ 59,90), livro póstumo de Nélida Piñon, traz 147 textos fragmentados que lembram a estrutura de um diário, descrevendo a passagem do tempo para escritora. As recordações da infância e juventude, a identificação com as raízes culturais espanholas – de sua família — e brasileiras — o país de nascimento — se juntam a registros sobre a criação artística. O material inédito reunido mostra não apenas a dedicação à literatura, mas o olhar pessoal sobre o ofício de escrever e o mundo contemporâneo de Nélida, falecida em 2002, a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Até hoje, a representatividade feminina na instituição é tímida. Hoje, entre os 40 imortais, apenas quatro são mulheres.

O arrebatamento de Lol V. Stein (Relicário, R$ 56), de Marguerite Duras, encantou leitores como Jacques Lacan, que, em 1965, escrevia: “Arrebatadora é Marguerite Duras, e nós, os arrebatados”. O romance narra as consequências psíquicas do abandono de Lola pelo noivo. Dez anos depois do episódio público do rompimento, um homem narra a história traumática da protagonista, apresentando quadros que misturam lucidez e delírios. Dez anos depois, um homem assumirá a narração de sua história traumática, trazendo à linguagem a fragilidade entre as fronteiras de luz e sombra, passado e presente, delírio e lucidez. No site da editora 9 (https://www.relicarioedicoes.com), há ofertas de ‘combos’ de livros da autora com bolsas de pano e cadernetas, a preços interessantes.