Nem frágeis, nem fortes: humanas!

Há vinte e cinco anos aproximadamente, nascia minha primeira filha, prematura, de cinco meses e três semanas, de parto normal. Após sentir a saída do feto escutei algo que parecia um miado fino e fraco. Perguntei a médica o que teria sido assim que anunciou que tinha nascido meu bebê e que era uma menina, o que representava um bom sinal, em virtude dos bebês prematuros do gênero feminino serem considerados, normalmente, mais fortes…

Um tanto paradoxal sermos chamadas de “sexo frágil” se o que a vida nos imputa é absolutamente contrário ao codinome.

Nós mulheres somos todas “mulherões”. A maioria de nós trabalha fora, cuida da casa, das compras da família, do acompanhamento dos estudos dos filhos, dos cuidados com os animais, dos aniversários e datas comemorativas da família e ainda disponibiliza tempo para pequenos gestos de carinho, surpresas, até se aventurando na decoração.

Sempre me intrigou a diferença entre o “estar de folga” do gênero masculino e o “estar de folga” do gênero feminino. O homem quando sai de folga, coloca-se de folga, mas tradicionalmente, a mulher quando está de folga, costuma frequentemente utilizá-la para por as tarefas domésticas em dia. Tenho refletido muito sobre isto. Até onde me submeti ao convencionado? Até onde me cobro executar o que a sociedade estipulou para mim? Tenho conhecimento e aceitação dos meus limites pessoais?

A partir de uma torção no joelho, tenho enfrentado dias de repouso e imobilização forçada. Não que esteja engessada ou algo parecido, mas preciso do repouso até que a fisioterapia seja feita e surta os efeitos esperados. O processo é naturalmente lento. A recuperação do joelho, o sobrepeso, aliado a impossibilidade de no momento fazer uma atividade física… Mas, onde quero chegar com tudo isso? Sempre fui muito dinâmica e agitada, gosto de fazer as minhas coisas em casa e fiquei mentalmente afetada com minha limitação temporária. Passei dias em que, mesmo podendo estar produzindo com o notebook, entrei num processo depressivo por conta das dores, mas principalmente por estar impossibilitada de fazer tudo o que fazia. Incomodava-me por não varrer a casa e passar pano, por ter que deixar a roupa acumular e tudo isto é desimportante comparado ao reestabelecimento da minha saúde. Então, por que me cobrava tão severamente?

Porque fui nascida, criada e treinada para ser forte.  Para suportar as dores físicas, emocionais, e quantas mais aparecerem, minhas e, muitas vezes, da família. Mas não preciso ser assim. Sou antes de um gênero, pertencente a uma raça, a raça humana. Possuo fragilidades, limitações temporárias, ou não, preciso me desligar dos julgamentos e cobranças dos outros e dos que faço a mim mesma. Não deu para varrer a casa? Está cansada demais? Descanse! Vai tirar uma folga? Goze-a! Faça algo para você, que lhe dê prazer e que não esteja incluída na infinita lista de atribuições da mulher ante ao seu lar!

Não quer fazer nada na folga? Durma! Liberte-se da ditadura machista que nos entupiu de jornadas, que não precisam ser necessariamente exclusividade nossa!  Compartilhe suas tarefas e dedique-se mais a você mesma!