Estrada desconhecida

…ela andava perdida. Sem eira nem beira, ela caminhava sem rumo, sem saber qual direção tomar e ia, trôpega e um tanto quanto assustada, caminhando cada vez mais rápido. Parecia que a velocidade lhe dava uma sensação de saber o destino. Afinal de contas, os apressados pelas ruas sempre sabem aonde estão indo, não é mesmo? Ou também não sabem e são outros tantos iguais a ela? Que apostam na direção da velocidade? Será que muitos estão apenas correndo porque, como manadas de búfalos acuados, copiam-se mutuamente e compartilham da mesma ausência de direção e questionamentos? Enquanto ela ganhava velocidade, sentiu alívio imediato. Era seu disfarce. Agora ninguém mais desconfiaria da sua total ausência de controle da situação e das rédeas soltas da sua vida. Com o olhar determinado e confiante, andava mirando o horizonte e o seu lugar de chegada, seu ponto final. Que ela não sabia qual, mas por que que isso importa? Importa mesmo é parecer saber, parecer brilhar, parecer confiante, parecer ser.

Parecia saber que isso não daria certo porque ela nunca foi vazia. Nunca se conformou com a não resposta, a não verdade, a não explicação, a obediência cega, surda e muda. E seus passos foram perdendo velocidade, foram desacelerando, vagarosos. Mais um pouco e ela já estava devagar e tropeçando novamente em seus devaneios. E foi quando se deu conta que, mais um passo adiante, ela cairia em um precipício…

Foi salva pelo seu recuo, sua teimosia em frear os ânimos e encher a cabeça de perguntas – muitas delas irrespondíveis, é verdade. Foi salva pela sua indelével curiosidade, como criança que nasce pro mundo e vê tudo pela primeira vez. E se deu conta do perigo que é acelerar demais em uma estrada desconhecida.