Como hipnotizar crianças

Incríveis as performances desses artistas, trata-se de uma trilogia, ao todo são três espetáculos. A primeira peça, “Volta ao Mundo em 80 dias”, já começou com o pé direito. Enquanto, na Zona Norte, o teatro do Amazonas brilha, para sorte do público a Cia de Teatro Solas de Vento, de São Paulo, parece mais um game feito especialmente para as crianças, pois a plateia infantil simplesmente fica entregue e corresponde à proposta do espetáculo.

Com um texto de fácil absorção para esse público específico, o elenco arrebata a plateia mirim. Mais do que ter uma fácil absorção, a peça oferece um banho de cultura por intermédio de um texto inteligente e rico em pesquisa. A gastronomia dos países visitados é explorada pelo personagem “Paspatu”, mordomo de Júlio Verne, que não pensa em outra coisa a não ser comer quando chega de viagem. Imagens dos lugares vão enriquecendo o imaginário das crianças e oferecem informações abrangentes da Cultura de cada lugar. Egito, Índia, China, Japão e Estados Unidos, os países e suas peculiaridades vão sendo apresentados durante a viagem.

Os artistas sabem se conectar com o seu público, que mais parece fazer parte do espetáculo, não existe a quarta parede, porque a qualquer momento uma das crianças da plateia participa e dá sua opinião aos artistas. É incrível o que criam, são maravilhosos!

A dúvida que fica é: artistas, ou atletas? Os dois artistas, Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues, protagonizam dois papéis e essa transição de personagens é muito rápida, a ponto de questionarmos se são realmente dois artistas para os quatro personagens!

Durante toda a apresentação eles utilizam do Teatro de animação. Da princesa ao elefante utilizados em uma de suas jornadas.  Os gramelos — sonoridades produzidas pelos atores —chegam com intensidade, e eles utilizam bem do recurso, são absolutamente bem preparados, imensa sagacidade dessa companhia. As mímicas também são fantásticas, assim como o aproveitamento do momento vivenciado por todos durante a pandemia e os vídeos no telão, tudo está incrível.

Parte do espetáculo é executada do chão, exatamente por isso, utilizam filmagens. Eles foram capazes de criar navios, trens com trilhos no chão e de lá, fazem as performances filmadas. O carrinho tipo riquixá é simplesmente perfeito, as mímicas dos pés do personagem Paspatu deixariam o mestre da mímica Marcel Marceau louco, tamanha beleza na execução.

A princesa indiana, que compõe o espetáculo, está magnífica, a boneca é trabalhada por ambos os artistas com muita graça. Os movimentos circenses também estão presentes e auxiliam muito na construção dos movimentos corporais. Embora disponham de excelentes figurinos, os artistas parecem ter luz própria e tudo fica pequeno diante da grandeza de suas atuações. Os pais dos pequenos entram na dança e também são sequestrados pela dupla de artistas.

Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues são lindos. Bruno Rudolf é o “Passepartout” (Paspatu), o que a maioria entende por se tratar da parte emoldurada de um quadro, que o deixa ainda mais atrativo e bem acabado, pois bem, tal qual um “Passepartout do espetáculo”, Bruno emoldura e dá o acabamento, sem ele boa parte do espetáculo perderia graça.

Já Ricardo Rodrigues é um artista com movimentos esplendorosos, uma colocação de voz perfeita. Sua comunicação com o público merece ser mencionada e enaltecida. Ricardo é um artista nato, não poderia estar em outro lugar. Mr. Fog é simplesmente maravilhoso!

A peça conta a extraordinária aventura de “Mr. Fog”, lorde apaixonado por geografia, e de “Passepartout”, seu fiel criado francês. Tudo começa quando Mr. Fog descobre que, segundo seus cálculos, eles seriam capazes de dar uma volta completa no mundo em 80 dias. Assim, é dada a partida para uma grande viagem repleta de peripécias e aventuras. Mas eles não contam com a presença do misterioso “Mr. Fix”, o vilão da viagem, que surge de forma inusitada para atrapalhar a dupla. Atravessando a Europa, o Egito, a Índia, a China, o Japão e os Estados Unidos, os dois aventureiros correm contra o tempo e contra as armadilhas provocadas por “Mr. Fix”.

Eles estarão no Rio de Janeiro até junho, com os três espetáculos da trilogia, no centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para sorte dos cariocas. Quem aprecia boas peças de teatro e especialmente a difícil arte de se fazer teatro infantil, não deve perder de assistir a nenhuma delas, porque se tem uma coisa que merece casa cheia é peça boa. E essas peças foram feitas por quem realmente sabe o que está fazendo e entende de como se deve fazer um espetáculo de altíssima qualidade!

Trata-se de uma trilogia inesquecível e essa foi só a primeira peça!

 

FICHA TÉCNICA

Criação: Carla Candiotto e Solas de Vento

Texto e direção: Carla Candiotto

Elenco: Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues

Direção de arte: Lu Bueno

Figurino: Olintho Malaquias

Ferragens cenográficas: Cia Solas de Vento

Trilha sonora: Exentricmusic (Marcelo Lujan)

Assessoria de Imprensa: Ney Motta

Fotos divulgação: Mariana Chama

 

VOLTA AO MUNDO EM OITENTA DIAS (Primeira peça da Trilogia)

Temporada da Trilogia até junho

Essa 1ª peça até dia 1/5

Centro Cultural Banco do Brasil (Teatro II)

Rua Primeiro de Março, 66, Centro

Sábados e domingos, às 16h

Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia)

Classificação livre

Informações: (21) 3808-2020

Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB, ou antecipadamente, pelo site eventim.com.br