Trinta e poucos anos

No último final de semana, fui ao aniversário de uma amiga de infância. Ela estava comemorando 33 anos, a chamada idade de Cristo. O número 33 é visto como algo cabalístico, poderoso, forte. Para os cristãos, significa a plenitude da maturidade. Foi a idade que Jesus morreu crucificado. Na cabala, a combinação do 3 com 3 representa o “Sephirah Datht” (a potência invisível), que os rabinos chamam de “conhecimento”.

Esse papo de maturidade, sabedoria e conhecimento foi servido na nada santa ceia em um bar no Rio de Janeiro, onde celebrávamos a vida da minha amiga. Alguns dos presentes na mesa, já com seus filhos, falavam sobre a visão que se tem em relação à ideia de responsabilidade. A maioria afirmou que não se sente tão madura assim, apesar de tanta obrigação e do olhar dos mais novos – inclusive dos filhos – afirmarem que somos adultos cheios de conhecimentos e razão.

A certeza de que os compromissos, sejam com os outros ou com nós mesmos, aumentam com o chegar da idade, foi consenso no debate. A margem para erros diminui com o tempo, embora a vontade de errar não seja muito diferente da época dos 20 e poucos anos. O que muda bastante é que passamos a nos preocupar menos com o que não importa tanto. Não dá nem tempo de olhar se a grama do vizinho é mais verde. Nem o vizinho dá para ver. Eu que o diga com essa minha amiga, criada comigo na mesma rua e com cada vez menos contato presencial.

Sabedoria deve ser ter mais noção do que se quer. Somos o que trazemos, mas também somos o que deixamos, conscientemente, pelo caminho. Quanto mais você se aproxima de você mais fácil fica de saber o que se quer ou o que se pode querer. Com trinta e poucos anos, me sinto assim. É mais difícil ser influenciado quando a fase das descobertas já passou. Agora, só quero conhecer bares que já sei quais são. Só entro em furadas consciente disso. Com 30 e poucos, raramente se erra sem querer. É quase sempre vacilo culposo, quando há a intenção de vacilar.

“Os 30 são os novos 20”, dizem algumas pessoas com trinta e poucos anos com saudades do período da vida quando as ressacas eram mais leves. Talvez eles tenham razão. A diferença dos 20 para os 30 são apenas as preocupações com compromissos, as dores no corpo e, às vezes, a conta bancária um pouco mais movimentada. Somos pessoas com 25 anos que não conseguem beber pesado dois dias seguidos. Sinto falta disso. Meu fígado envelheceu antes de mim, mesmo conservado com bastante álcool.
Falando em ressaca, neste dia do aniversário, saímos de um bar e fomos para outro, como bons jovens de trinta e poucos anos devem fazer. Nesta segunda etapa em busca da ressaca perfeita, um rapaz se aproximou da nossa mesa e falou que curtia umas ondas diferentes, que gostava de ficar chapado até parecer uma abelha e sair voando por aí.

Ele também se referiu a um estado alterado de consciência no qual a pessoa anda de carro como se fosse um cachorro. Eu fiquei curioso para saber de onde vinha essa potência invisível, mas ele não conseguiu ser claro ao passar a fonte de tamanho conhecimento, razão e sensatez. Papei mosca; ou abelhas.
Esse rapaz tinha cara de ter uns trinta e poucos anos, assim como nós. Estava no auge da plenitude de sua maturidade, segundo dizem. Vai ver essa tal maturidade seja isso: curtir sua onda por aí sem precisar, ou conseguir, explicar muitos detalhes para os outros. O que eu sei é que no dia seguinte era segunda-feira e a ressaca foi cruel, mesmo eu tendo um monte de compromisso. Não deu nem para virar uma abelha e sair voando.