Rir, resistir e ensinar

O Teatro de Rua é o lugar certo para artistas cênicos neste momento. Estamos em 2022, ano de eleição, todo artista, por natureza, precisa aproveitar este lugar de fala para enviar seu recado de esperança. Aqui no Rio de Janeiro, temos o grupo “Tá na Rua”, que leva espetáculos teatrais com simplicidade e improviso a áreas urbanas, sob a direção do grande artista de rua Amir Haddad. “Quando um ator entra em cena, entra com ele, a história da humanidade”, essa é uma das frases desse imenso artista e diretor teatral, e não há razão para desprezar esse fio de pensamento, principalmente quando se assiste ao espetáculo “Povo de Rua”.

“Bruno França promove o encontro do seu palhaço Felizardo com o Zé Pelintra. Felizardo diz que não é ator nem palhaço, mas um agente da felicidade. Carregando seu carrinho de feira cheio de ervas, tônicos, pomadas anti-inflamatórias e até uma loção, que promete atrair o grande amor, Felizardo viaja de cidade em cidade oferecendo a cura para os mais diferentes problemas. Durante suas andanças, o palhaço incorpora Zé Pelintra, que chega bem-vestido em seu terno branco e chapéu panamá. Suas vidas se cruzam e as histórias desses dois brincalhões são contadas numa conversa com a participação do público.” (Sinopse)

Já pela sinopse entende-se bem a importância dessa obra, pois ressalva-se a importância da luta contra a intolerância religiosa, e trabalhar isso, de forma lúdica, para uma plateia infantil é a construir uma sociedade mais saudável, menos preconceituosa e mais respeitosa.

O espetáculo foi contemplado pelo edital da prefeitura “Cultura para Infância Carioca”, que disponibilizará à sociedade, durante o ano de 2022, inúmeros espetáculos, nos equipamentos urbanos. Nos locais de apresentação será possível encontrar Ilca Angela, atual gestora dos Teatros Municipais de Marionetes e Fantoches Carlos Werneck de Carvalho, Guignol Municipal da Tijuca e Guignol Municipal do Méier, dando total apoio ao artistas.

Vale dizer, que a escolha do espetáculo “Povo de Rua” tem imenso valor. O trabalho do artista idealizador é imensurável e necessário, além de seduzir os pequenos. Os exigentes espectadores infantis estão sempre abertos a receberem informações, o que também o artista Bruno faz com competência, pois sua performance vem carregada de leveza e comicidade. E os espectadores mirins entendem as mensagens.

Bruno é um artista nato e também um estudioso das Artes Cênicas, isso fica evidente quando ele fala sobre essa montagem. Um artista mergulhado na arte e coroado pelas bençãos da cientificidade cênica. O jovem artista do subúrbio carioca apresenta sua sangria, suas vivências e seus experimentos, a matéria-prima que alimenta fortemente a fonte inspiradora, que deságua em trabalhos potentes. Bruno é fundador do grupo “Surgiu na Hora” e também traduz o Teatro de Rua em suas apresentações, tal como Molière, faz questão de gritar nos palcos urbanos sua dimensão artística e seu saber, provocando análises para a sociedade.

O texto é lindo e atual, tenta fazer os pequenos entenderem melhor as funções e responsabilidades dos líderes e das instituições e corporações, como a polícia, por exemplo, que atira e leva uma chuva de “balas perdidas” à plateia, mas são balas Juquinha, as crianças ficam ensandecidas. A encenação faz lembrar o clássico “O Menino do Dedo Verde”, onde o personagem Tistu ao tocar em um canhão faz dele saírem flores. Que sonho bom, que deliciosa inocência, em meio a uma guerra, poder sonhar com a obra de Maurice Druon.

Bruno foi perspicaz ao mudar seu nariz de vermelho para preto, quando a entidade de Zé se apresenta, e as crianças percebem a mudança. As crianças ficam atentas às mudanças e abraçam o Pelintra super de boa.

O artista estudou Palhaçaria com afinco e traz todo esse movimento ao maior palco de todos: a rua. A destreza do ator enquanto se arruma deixa qualquer um estupefato, seu carisma com o público é enorme, ele que “se achega devagarzinho”, atrai como um ímã e sua interação com a plateia atrai também os transeuntes.

Adultos e crianças são enfeitiçados por um palhaço, que com legitimidade quebra a barreira da intolerância religiosa, especialmente das religiões de matriz africana.

Bruno não faz tudo sozinho, Almir Chiaratti o apoia de corpo presente, um belo e admirável trabalho conjunto, que acaba florescendo como um girassol. É tudo muito solar, tudo digno de muitos incansáveis aplausos!

O espetáculo estará circulando, gratuitamente, por alguns espaços públicos neste mês de março.

FICHA TÉCNICA

Atuação – Bruno França/Palhaço Felizardo

Direção – Zeca Ligiéro

Texto – Bruno França e Zeca Ligiéro

Consultoria corporal – Gabriela Santana

Consultoria vocal – Jane Celeste

Figurino e cenário – Ananda Almeida

Produção executiva – Almir Chiaratti

POVO DE RUA

Entrada franca

Duração: 45 minutos

Classificação: Livre

Classificação: 10 anos

Dia 06/03 (domingo), às 10h  

Local: Teatro Municipal Guignol Méier

(Praça Jardim do Méier)

Dia 19/03 (sábado), às 10h

Local: Centro Cultural Municipal Prof. Dyla Sylvia de Sá

(Rua Barão 1.108, Praça Seca)

 

Dia 26/03 (sábado), às 10h  

Local: Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas

(Rua Murtinho Nobre 169, Santa Teresa)