Maternidade, ser ou não ser?

“Filhos… Filhos? Melhor não tê-los! Mas, se não os temos, como sabê-los?” Bastante conhecido, esse ditado popular, eternizado na composição de Vinícius de Moraes. Eternizado pelo poeta, mas, recorrentemente, reproduzido em inúmeras famílias das mais variadas camadas sociais. A mulher é quase que adestrada à maternidade.

A menina, logo cedo, é presenteada com bonecas, estimulada a cuidar das mesmas como “filhas”, colocar nome, trocar a roupinha, segurar ao colo embalando… tudo muito bonito e louvável desde que não se tente fazer desse prelúdio uma imposição para a vida adulta. Casar e ter filhos não é para todos. Obviamente que uso a palavra todos porque a maternidade para mim não se restringe a um determinado gênero. Incluo aqui os casais formados por duas mulheres, dois homens e quantas mais possibilidades existirem. De certo que o gênero feminino costuma ser muito mais cobrado no desempenho dessa função, mas de fato, seja qual for a orientação sexual, nem todas as pessoas nascem com esta aptidão, ou até mesmo, com este desejo.

Ser mãe é maravilhoso, tive essa oportunidade duas vezes não planejadas, mas muito bem-vindas. No entanto, recordo-me que aos vinte e três anos, cheguei a falar com um amigo bissexual, que se não tivesse filhos até os trinta, iríamos providenciar um. Percebo hoje, com a maturidade, que eu estava naquele momento reproduzindo um comportamento, que me foi ensinado. Como tantos outros que permearam a minha vida.

Minha filha, que hoje tem vinte e cinco anos, sonha em ser mãe, percebo os olhinhos dela brilhando quando brinca com uma criança, ela tem esse desejo latente. Todavia, nem todo mundo é assim. Qual o problema em não querer ter filhos? Qual o problema em querer dedicar sua vida a outras coisas como carreira, projetos sociais, ou outras causas?  A mulher é e deve ser livre para fazer suas escolhas, mas precisa muito ser acolhida pelas outras.

A velha mania de estabelecer o certo e o errado padronizados, a tendência perniciosa de cuidar da vida alheia, a prepotência de defender a própria escolha como sendo a perfeita, isso tem que acabar. Se uma mulher escolhe não ter filhos, ela está no pleno exercício de seu direito. E digo mais, talvez ela não queira ser mãe e seja uma excelente tia, madrinha. Talvez queira criar um animalzinho de estimação e vai produzir a ocitocina suficiente para seu equilíbrio, demonstrando seu afeto nesta relação.

Conheço mães de vários tipos: mães de pets, mães de alunos, colegas de trabalho mães, vizinhas mães, chefes mães, amigas mães… vamos vivendo e nos revezando nos papéis de mães e de filhas…

Portanto, mais uma vez, insistirei na máxima: NÃO JULGUEMOS! Permitamos que cada um busque sua plenitude e realização, como lhe aprouver!