Educar é a Meta do Ensaio Aberto

“O Círculo de Giz Caucasiano fala de questões como a justiça, a guerra e o amor maternal, pela história de Miguel, um bebê, filho de um governador assassinado durante uma revolta. Abandonado pela mãe, mais preocupada em salvar sua própria cabeça (e seus vestidos), é salvo por Grusche, uma empregada que põe sua própria vida em risco para cuidar da criança. Mais tarde, ela recusa entregar Miguel à mãe natural.” (Sinopse)

“Vale lembrar que a obra tem releitura do grandioso Manuel Bandeira, por aí já se pode ter ideia do valioso texto. Bertolt Brecht tem obras infantis inteligentíssimas, uma delas é ‘Se os Tubarões fossem Homens’, que alimenta e defende qualquer sociedade do fascismo futuro, pois educa, faz do livro uma arma contra qualquer tirano. Brecht é um escritor fundamental, que mudou completamente a função e o sentido social do teatro.” (Flávia Tenório)

Exatamente por isso, devemos dar ouvidos, somos todos parte de uma sociedade pouco favorecida, aprender com esse dramaturgo é sempre uma arma contra qualquer ditador, fortalece a sociedade contra qualquer tipo de escravidão e manipulação mental. O Teatro para crianças chega ao Armazém da Utopia, onde tudo é feito com capricho e graça, como toda obra montada pela companhia teatral e dessa vez, não foi diferente…

Há beleza nos figurinos, nas caracterizações, na atuação de cada artista no palco. Tudo tão artesanal e, ao mesmo tempo, com o olhar minucioso e cuidadoso de sempre.

A execução artística, independentemente do tamanho do espetáculo e o público que se pretende alcançar, é sempre destacada no Teatro do Ensaio Aberto. Os artistas perecem ter sido escolhidos a dedo, cada um deles está ali para agregar, integram um elenco que não causa absolutamente nenhum ruído negativo. Estão todos no lugar certo.

O jogral é bem utilizado no espetáculo. Jogral usado como forma de declamar poemas, ou canções em coro, alternando entre o canto e a fala. Jograis são também um gênero de peça teatral, onde em vez de cânticos, os participantes se organizam em grupos e declamam as falas harmoniosamente em conjunto. Um elemento sofisticado quando bem utilizado. É preciso ter cuidado para que não fique descompassado. Mas, tratando-se da Cia. Armazém da Utopia, lógico que iria dar certo!

Os figurinos trazem verdade ao espetáculo, tudo de muito bom gosto e bem estudado.

Bruna Cesário faz a vaidosa rainha má. A atriz é um desbunde, com uma atuação linda e esplendorosa. O tom de voz, o corpo, as expressões faciais, tudo bem composto. Não há nada para apontar, só para admirar. Um trabalho rico. O corpo alongado da atriz favorece a postura de rainha e mais que isso, sua voz compõe bem o personagem. Vale muito a pena assisti-la.

O ator Daniel de Mello encara dois personagens, ele também soube construí-los, um deles porta deficiência. O ator desempenha muito bem o papel, sabe utilizar suas desenvolturas corporais. E quando assume o advogado da rainha má, com sua voz potente, simplesmente eleva o seu personagem!

Ângelo Bessa faz a plateia rir quando se faz de doente para se casar e não ir à guerra, só o modo como ele entra no palco já vale sua atuação.

Miguel Conti, não sei de onde veio o artista, mas ele é promissor. Caricato e envolto de comicidade. Atua bem como o soldado do antagonista, faz o público rir. Ele é um artista franzino, e por isso quando assumiu o menino Miguel, parecia mesmo um boneco. Tem futuro!

Sabe-se que o autor da peça defendia que a única arte que interessa é aquela que tem compromisso político. Não se sabe sua religião, mas é fato que conhecia bem a Bíblia, pois trouxe ao texto a história do Rei Salomão, um dos reis do antigo testamento. Quando as mães vão ao tribunal, o texto bíblico é bem colocado. Na Bíblia, para resolver o imbróglio, a criança é levada para ser cortada ao meio.  O rei Salomão toma sua decisão quando a mãe prefere perdê-lo a vê-lo morrer. Na história bíblica, o rei Salomão pede a Deus sabedoria na decisão e assim, o antigo testamento o considera um dos maiores reis da história.

No espetáculo, a delicadeza está presente quando a disputa fica por conta de um cabo de guerra com os braços do menino Miguel. A mãe que o salva do Exército, percebe que o puxa-puxa machuca seu filho. O juiz, no espetáculo, é vivido por Diego Diener. Caberia aqui, um parágrafo ou mais, para enaltecer o trabalho desenvolvido pelo artista. Ele traz contemporaneidade e logo ganha a simpatia do público. Um juiz atrapalhado, fanfarrão, que acolhe os ganhos e os sentimentos. A voz do artista é de excelente tom. Ele brinca em uma cadeira suntuosa, ao lado de seu assistente, o artista Erick Villas, uma dobradinha gostosa de assistir.

Enfim, cabe aos pais levarem seus filhos ao espetáculo, a centros culturais, para terem acesso à Cultura e ao aprendizado de forma mais lúdica, para que possam se tornar cidadãos conscientes e defensores de suas ideias, formadores de opinião, e para que tenham a sorte de um futuro mais prósperos. Os livros e o conhecimento ainda são as melhores arma para se vencer qualquer guerra.

FICHA TÉCNICA

Elenco: Amanda Tamarozzi, Bruna Cesário, Dani Arreguy, Daniel de Mello, Diego Diener, Erick Villas, Isabel Jorge, José Ângelo Bessa, Laila Bertholin, Mariana Magalhães, Mariana Pompeu, Miguel Conti, Sidarta Senna, Tom Freitas

Direção e dramaturgia: João Batista

Direção musical: Paula Leal

Cenografia: Doris Rollemberg

Figurino: Mauro Leite Teixeira

Iluminação: Cesar De Ramires

Preparação corporal: Daniela Cavanellas

Realização: Companhia Ensaio Aberto

Fotos Divulgação

𝐎 CÍRCULO DE GIZ

Temporada até 27/11

Armazém da Utopia

Armazém 6, Gamboa (Boulevard Olímpico)

Ingressos gratuitos devem ser retirados pela plataforma Sympla

Acesse https://www.sympla.com.br/produtor/armazemdautopia

Dias e horários:

19/11, sábado, às 16h

20/11, domingo, às 16h

21/11, segunda-feira, às 11h e 14h30

26/11, sábado, às 14h e 16h

27/11, domingo, às 14h e 16h

Informações (WhatsApp) 2516-4893 / 98909-2402

O Armazém da Utopia conta com rampas para acesso e banheiro adaptado, propiciando condições de acessibilidade para idosos, pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Haverá intérprete de libras em uma das apresentações.

𝐂í𝐫𝐜𝐮𝐥𝐨 𝐝𝐞 𝐆𝐢𝐳 é uma livre adaptação da obra homônima de Bertolt Brecht inspirada numa lenda chinesa, na qual um juiz, diante de um difícil processo de disputa de maternidade, resolve estabelecer a justiça colocando a criança dentro de um círculo traçado no chão com giz. As duas mulheres que reivindicam a maternidade devem puxá-lo com força, ao mesmo tempo. A que tiver mais força, puxando o menino para si, será a verdadeira mãe.