A dramaturgia “Cora do Rio Vermelho” reúne passagens da vida e diversos poemas retirados dos livros “Vintém de cobre – meias confissões de Aninha”; “Meu Livro de Cordel”; “Villa Boa de Goyaz”; e “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais”.
“A partir de um recorte sensível de obras feito pela Raquel e com a toada poética de Cora, busquei nessa abordagem teatral uma geografia de sensibilidade e memórias, uma paisagem sonora que a atriz observa e traduz a partir do simbólico quarto de escrita, mesclada aos seus fazeres de doçura”, explica o autor Leonardo Simões.
São as mulheres mortas voltando para falar, e detalhe, mulheres brasileiras. Temos mulheres que deram conta do recado, todas a frente de seu tempo, e exatamente por isso, reviver suas histórias é prazeroso demais. O que falar de Cora Coralina, a querida Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas?
“Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.”
Cora é a poesia das mulheres do interior, a fala das mulheres simples, um retrato da vida feito com beleza e poesia por onde passou.
“A linguagem errada dos humildes tem para mim um gosto de terra e chão molhado e lenha partida. Jamais procurei corrigi-los como jamais tolerei o bem falante, exibido.” (Cora Coralina)
A atriz que idealizou o projeto é a mesma que está no palco encarnando a poetiza. Se o leitor está em busca de uma super produção com uma Cora vislumbrante, o teatro Poeira não é o espaço ideal, porque Raquel Penner trouxe para o palco, justamente, toda a simplicidade da autora.
Os olhos de Raquel brilham ao falar das mãos de Cora, de seus feitos, isso basta para que sua personagem fique ainda mais viva e realista.
Das cores aos tecidos e aos doces cristalizados, tudo muito simples remete à vida de Cora, às suas verdades.
“Minhas mãos doceiras
Jamais ociosas
Fecundas. Imensas e ocupadas
Mãos laboriosas
Abertas sempre para dar
ajudar, unir e abençoar.” (Cora Coralina)
A direção de Isaac Bernat, como sempre sensível e glamourosa. Doce, pois ele sabe como trabalhar com mulheres, tanto com as vivas como com aquelas que já não estão aqui em carne e osso, mas continuam reverberando sua arte e sua fala. Isaac esteve à frente do espetáculo sobre Clara Nunes, e nesse a delicadeza também foi um ponto alto de seu trabalho. Ele tange espaços consideráveis entre elas, e tudo com o devido cuidado e respeito.
“Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor.”
A excelência lúdica da atriz no palco parece nos mostrar uma Cora mais jovem e levada! Isso é encantador, porque questionamos quem foi Cora.
“Procuro suportar todos os dias minha própria personalidade renovada, despencando dentro de mim tudo que é velho e morto.”
A atriz deixa em evidência que Cora fala ao seu coração, pois está sempre recomeçando, como os artistas atuais, como ela própria em seu ofício.
“Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma.”
E assim, entremeados versos, é feito o espetáculo “Cora do Rio Vermelho”, um espelho que reflete Cora, sua essência e sua verdade. Sempre disseram que os espaços do Teatro Poeira são adequados a espetáculos robustos e inteligentes, mas fica claro, que nada entra no espaço desse teatro, que não tenha beleza e principalmente, consistência.
O espetáculo Cora é vaidoso, a atriz tem também é vaidosa ao defender sua personagem, mais que isso, ela transborda orgulho ao falar da autora.
A obra saiu de Niterói, passou pela pandemia e construiu bases sólidas, com afinco, para hoje ocupar uma das salas teatrais mais importantes da cidade do Rio de Janeiro, merecidamente!
“Não sei se a vida é curta, ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.”
E Cora Coralina por meio da atriz Raquel Penner, mais uma vez, nos toca a alma!
FICHA TÉCNICA
Idealização e atuação: Raquel Penner
Direção: Isaac Bernat
Dramaturgia: Leonardo Simões
Produção executiva: Clarissa Menezes
Cenografia, Figurino e Produção de objetos: Dani Vidal e Ney Madeira – Ney Madeira Produções Artísticas
Cenotécnico: André Salles
Tingimento, Bordado e Tratamento de objeto: Dani Vidal e Ney Madeira
Costureira: Aureci da Cunha Rocha
Costureira de cenário: Alessandra Valle
Pintura de arte: Paulo Campos
Carpinteiro: Paulo Sá
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Direção Musical e Trilha Sonora: Aline Peixoto
Percussão: Fabiano Salek
Vozes: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle
Operação de som: Rafa Barcelos
Visagismo: Mona Magalhães
Direção de movimento: Luiza Vieira (cenas “Mãos” e “Todas as vidas dentro de mim”)
Fotografias e Designer gráfico: Bianca Oliveira – Estúdio da Bica
Mídias sociais e Planejamento de divulgação: Lyana Ferraz
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Realização: Núcleo de Ensino e Pesquisa de Artes Cênicas – NEPAC
Músicas:
“Aponte” (Lan Lanh/Nanda Costa/ Sambê)
“Maria, Maria” (Milton Nascimento)
“Simplicidade” (Jaime Alem)
CORA DO RIO VERMELHO
Temporada até 26/6
Teatro Poeirinha
Rua São João Batista, 104, Botafogo
Quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Ingressos R$ 25 e R$ 12,50 (meia)
Ingresso único para Moradores da comunidade Dona Marta R$ 10
Informações (21) 2537-8053
Vendas na plataforma Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/73298
Duração 50 minutos
Lotação 50 pessoas
Classificação 12 anos
Redes: Instagram @coradoriovermelho
Youtube https://m.youtube.com/channel/UCayoCIzVQl0-CIpQPVRYzrQ
Fotos Bianca Oliveira/Estúdio da Bica