Copacabana Palace, o Musical

“Mariazinha Guinle, viúva de Otavio Guinle e herdeira, junto aos dois filhos, recebe uma proposta de compra do hotel, pelo poderoso empresário James Sherwood e, sem saber o que fazer, esconde dos filhos a tentadora proposta. A única com quem compartilha o dilema é a funcionária e amiga Claudia, e é através da conversa entre às duas que o público faz um passeio por histórias memoráveis do hotel e do Rio de Janeiro.” (Sinopse)

“Copacabana Palace, o Musical” causou um certo rebuliço entre os críticos, de um lado não agradou e por outro, foi aplaudido de pé! A premissa do espetáculo é contar a história do célebre hotel, o mais famoso do país, o que já seria o suficiente para atrair a atenção e levar a todos ao teatro. Afinal não se trata de uma simples história, ou de um espaço qualquer, mas de um patrimônio da cidade carioca, conhecido internacionalmente, com tanta história e relevância, que aguça a curiosidade e o interesse de todos. E que fique claro, Cultura nunca faz mal a ninguém!

Visitar o teatro após vinte e sete anos de portas fechadas, em um momento caótico, onde a arte rasteja diante de um Governo anticultura, já faz valer a pena a ida. Todos devem ir e apreciar o requinte do lugar — tudo bem que o café custa doze reais e qualquer docinho uns dezessete reais, mas o consumo não é obrigatório! Conhecer o glamoroso lugar, por onde centenas de celebridades desfilaram durante quase um século, poder tirar fotos e registrar ter estado lá respirando esse ar, já faz bem a qualquer mortal. No café, um encontro despretensioso entre hóspedes, artistas e público, nem todos podem desfrutar dos serviços e do menu, mas ainda assim a experiência é válida — e o café toma-se antes de sair de casa, oras!

Ao adentrar o tradicional teatro Belmond, mesmo após a restauração recente, que deu novos ares contemporâneos ao espaço, deslumbram-se as retinas com tapetes faraônicos, revestimentos talhados em madeira e poltronas bem acolchoadas, que de tão aconchegantes podem dar sono. Despertamos do transe ao terceiro sinal, quando se abrem as cortinas e é dada partida no túnel do tempo.

Suely Franco deve ser reconhecida por esse magnífico trabalho. Não existem palavras suficientes para descrever sua performance, é fato: ela leva os espectadores às lágrimas, às palmas e aos gritos de “bravo”, que ressoam da plateia quando a atriz para de cantar! Vamos e convenhamos, não se trata de uma atriz de vinte e poucos anos, mas de uma mulher madura, capaz de ainda se permitir viver uma de suas mais importantes personagens. Todos deveriam ter o mesmo vigor de Suely Franco, que ao pisar no palco do teatro Copacabana Palace, para esse espetáculo, não só apresenta sua façanha performática, mas também sua linda voz, entoando um belíssimo repertório. Suely encanta, brilha e sem pedir licença a seus colegas desbanca a obra num todo, pois se faz potente e exata em seu ofício. Excelente escolha!

Vanessa Gerbelli está muito elegante, com uma postura sem arranhões, interpreta Mariazinha Guinle (Suely) mais jovem. A atriz encena belissimamente bem e tudo lhe cai bem, como uma luva, daquelas feitas pelo pai de Shakespeare, o luveiro mais importante da época. Sua postura corporal é elegante como exige a personagem.

O ator Guilherme Logullo, em plena forma, atua com graça e firmeza, uma pena não ter mais espaço durante a peça, para ele que a cada dia, toma mais lugar nos palcos cariocas. Sempre excêntrico, com absoluta entrega. Saltos, coreografias e voz sempre bem afinados, tudo bem feito na construção individual da personagem, o ator chama a atenção, mesmo quando não está em um papel de destaque.

A história do Copacabana Palace por si só já é um deslumbre, lembrar inúmeros presidentes, Janes Joplin, Josephine Backer, Fred Astaire, Fitzgerald, Marlene Dietrich, Ray Charles e Nat King Cole, e tantos outros mais, que passaram por lá, é suficiente para o público compreender a imensidão desse espaço. O glamour do Copacabana Palace sempre estará presente na memória do carioca. Em 1989, todo prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, o que chancela o respeito e o reconhecimento por toda sua história.

Claudio Lins canta e atua como um lord ao contracenar com Vanessa Gerbelli, sempre pausado e gentil com o seu personagem e com sua “esposa”.  Claudio é um ator que fica bem em todos os personagens, sempre muito técnico, atua com leveza quando preciso. Métrico, ele não erra.

Alguns personagens chamam a atenção, entre eles Marlene Dietrich e Carmem Miranda, as quais a figurinista Karen Brustollin desenhou com perfeição. Também não pecou ao desenhar Bibi Ferreira interpretando a querida Édith Piaf, um dos momentos que mais chamam a atenção.

É delicada a homenagem de trazer ao telão fotos de artistas brasileiros que por ali passaram. Emocionante reviver essa história riquíssima, principalmente sob a trilha sonora da eterna diva francesa Piaf. “Non, Je Ne Regrette Rien”. Como fala a música “não, não me arrependo de nada”, é possível acender a chama com as belíssimas recordações.

Karen Brusttolin desenhou os objetos, que as atrizes carregam nas cabeças, e Dennis o chapeleiro do Rio, com suas mãos potentes os montou. Uma dupla implacável, que não comete erros.

Natália Lana construiu um belo cenário. Fez milagre, um altar com músicos em cena, em um espaço pequeno, que ganhou mais força com o telão, que dava movimentos por trás dos portões do hotel.

Os irmãos Villarouca exploraram a arte com a beleza e o colorido, que dimensionaram o espetáculo. Enquanto Carmem Miranda cantava “Souuth America Way” as frutas rodavam no telão. A linguagem é sensacional, deu vida e movimento ao espetáculo.

Penso que o musical poderia ter um elenco maior, para suprir a dimensão do Copacabana Palace, no entanto, vivemos dias complicados e os investimentos são poucos, os desmontes ainda vieram para atrapalhar as produções, mas o feito já valeu para lembrar que o imponente Copacabana Palace está lá e de portas abertas, com seu teatro renascido.

A dramaturgia foi bem elaborada, principalmente ao contar a história de um dos maiores visionários da época, desde 1922. Como fala o imenso crítico teatral Gilberto Bartholo “tudo contado cronologicamente certo”.

O ator Chris Penna completa o elenco, um ator pronto, que com o personagem Cauby Peixoto alavanca a plateia, sem muitas cores, segundo a figurinista a altura do artista e sua dimensão não poderiam ser dragados por indumentárias demasiadamente coloridas. Bingo!

A direção e a idealização são de Gustavo Wabner e Sergio Módena, que sempre levam os amantes de Teatro à curiosidade, pois nunca são pequenos. Módena está também a frente do espetáculo “As Cangaceiras”, em São Paulo, do dramaturgo e também não dimensionável Newton Moreno. Durante a pandemia, dirigiu “Diários de um abismo”, rica obra audiovisual, com performances de Maria Padilha e Ricardo III, no “Sesc Ao Vivo”, com o grande artista Gustavo Gasparani. Módena não podia estar de fora do Copacabana Palace.

Na guerra entre críticos e “O Copacabana Palace, O Musical” o que mais vale é ver o teatro cheio, a cultura reagindo, efervescendo e que a arte está superando tudo, inclusive o atravessamento babaca de Mario Frias.

COPACABANA PALACE, O MUSICAL

Temporada até 6/2

Quinta a domingo, sempre às 19h

Teatro Copacabana Palace

Av. Nossa Sra. de Copacabana, nº 291

Informações: (21) 2548-7070

Ingressos Plateia R$ 240 e R$ 120 (meia); balcão R$ 50 e 25 (meia)

Capacidade 332 espectadores

Duração 120 min (com intervalo de 15 min.)

Gênero musical

Classificação 12 anos

Vendas na plataforma Bileto https://bileto.sympla.com.br/event/70595

FICHA TÉCNICA

Idealização: Gustavo Wabner e Sergio Módena

Texto: Ana Velloso e Vera Novello

Direção: Gustavo Wabner e Sergio Módena

Elenco Protagonista: Suely Franco, Vannessa Gerbelli e Claudio Lins

Elenco Coadjuvante: Saulo Rodrigues, Ariane Souza, Erika Riba, Julia Gorman, Ana Velloso, Luiz Nicolau, Daniel Carneiro, Chris Penna, Guilherme Logullo, Natacha Travassos e Patricia Athayde

Músicos:

Heberth Souza – teclado e regência

Evelyne Garcia – teclado, acordeom e regência

André Dantas e Diogo Sili – Guitarra e violão

Marcio Romano – bateria e percussão

Tassio Ramos e Pedro Aune – contrabaixo acústico e baixo elétrico

Direção Musical: Heberth Souza

Arranjos: Heberth Souza e Evelyne Garcia

Coreografia e Direção de Movimento: Roberta Fernandes

Cenografia: Natália Lana

Figurinos: Karen Brusttolin

Iluminação: Paulo Cesar Medeiros

Direção de Imagens: Irmãos Vilarouca

Projeto de Som: Branco Ferreira

Visagismo: Guilherme Camilo

Assistência de Direção: Hugo Kerth

Assistência de Direção Musical: Evelyne Garcia

Programação Visual: Cacau Gondomar

Fotografia: Renato Mangolin

Mídias Sociais: Rafael Teixeira

Registro Videográfico: Chamon Audiovisual

Gestão do Projeto: Renata Leite – Rinoceronte Entretenimento

Assistente Financeiro: Patricia Basilio – Rinoceronte Entretenimento

Direção de Produção: Alice Cavalcante, Ana Velloso e Vera Novello

Realização: Sábios Projetos e Lúdico Produções

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany