Comemorando 40 anos de carreira, Jayme Periard sobe aos palcos no Rio e estreia o espetáculo “A Quebra”, no dia 4 de setembro, no Teatro das Artes (Shopping da Gávea), na Zona Sul. Com concepção do próprio Jayme e dramaturgia de Regina Antonini, a peça nos leva a conhecer e a refletir sobre os inúmeros casos de abuso sexual contra menores na Igreja Católica. Já amplamente retratadas nos cinemas, através de documentários e filmes, e pela cobertura da imprensa mundial nos últimos anos, essas histórias serão apresentadas, pela primeira vez, no teatro. A direção é assinada pelo ator, que ressalta a importância do teatro nessa discussão. “Essas informações, minha origem e formação católica, e a grande luta do Papa Francisco contra esses abusos foram determinantes para a escolha do tema que queria encenar”, conta ele, que fará o seu primeiro monólogo. O texto, criado a partir de casos reais, não é um manifesto contra a Igreja Católica, e sim, uma reflexão sobre essa terrível e cruel realidade nas últimas décadas. A montagem ficará em cartaz em curta temporada, até o dia 26 de setembro, sempre às segundas e terças-feiras, às 20h.
Em vários países, comissões independentes têm feito levantamentos sobre esses abusos, e seus resultados são assustadores. São milhares de casos em centros católicos espalhados pelo mundo, como na Irlanda, Alemanha, Espanha, Austrália, México, Polônia, no Chile, Brasil, nos Países Baixos e em muitos outros países. A maioria dos abusos sexuais ocorreu quando as crianças tinham entre 9 e 14 anos. E não podemos nunca esquecer: “são crianças, não uma mera estatística.”
Em Portugal, segundo relatório divulgado em 13 de fevereiro de 2023, 4.815 casos foram comprovados. E dizem que essa é apenas a ponta do iceberg. Na França, mais de 330 mil crianças foram violentadas em instituições católicas ao longo dos últimos 70 anos. Já nos EUA mais de 20 mil menores afirmaram ter sido vítimas de abuso por parte de aproximadamente 7 mil membros do clero, de acordo com o site bispo-accountability.org. E não para por aí. Existem muito mais casos, infelizmente.
O espetáculo
O texto se desenvolve a partir de uma reportagem sobre o suicídio entre jovens. O Jornalista, personagem da trama, descobre uma teia aterrorizante de pedofilia no seio da maior organização religiosa do mundo. Sua denúncia revela os sacerdotes abusadores e aqueles que os protegem. E nos apresenta o relato sensível e sincero de uma das vítimas.
Jayme Periard se reveza entre os quatro personagens do espetáculo: o Cardeal, o Jornalista, o Padre e a Vítima. Revelando, através deles, o silêncio sobre esses crimes que ainda imperam no Brasil.
Para a autora, a peça serve como um importante alerta
Segundo Regiana Antonini, mais que entreter, a peça tem como papel fazer um alerta. “Que as pessoas acordem, despertem para esse assunto, principalmente, os pais que têm filhos pequenos. Que entendam que isso pode acontecer com qualquer criança. Então, a gente tem que escutar os nossos filhos, tem que prestar atenção no comportamento deles. Não pode achar que é tudo fantasia da cabeça deles, porque não é. Tem que ficar de olho mesmo. Tem que entender que isso pode acontecer, e que isso acontece.”, frisa Regiana, que coleciona sucessos no teatro. Entre eles: “Doidas e Santas”, “Pra você lembrar de mim”, ”Tô grávida” e “Meu ex imaginário”. Além de “Neura”, com previsão de estreia em outubro deste ano.
A importância do tema no Brasil
Afirmando ainda mais a necessidade e a atualidade de nosso projeto, recentemente, foi lançado o livro “Pedofilia na Igreja: um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” (Ed. Máquina de Livros), que reúne relatos de crimes sexuais praticados por 108 clérigos a 148 menores.
Os 40 anos de carreira
Em sua trajetória de 40 anos, Jayme Periard traz na bagagem muitos sucessos, de novelas a minisséries, passando pelas TVs Globo, Record, Bandeirantes, SBT e pela extinta Rede Manchete. Atuou em “A gata comeu” (Globo, 1985), “Dona Beija” (Manchete, 1986), “Roda de fogo” (Globo, 1986), “Brega & Chique” (Globo, 1987), “Mandala” (Globo, 1987) e “Despedida de solteiro” (Globo, 1992), “O Portador” (Globo, 1991); “Xica da Silva” (Manchete, 1996); “Mandacaru” (Manchete, 1997), “Amor e revolução” (SBT, 2011); “Escrava mãe” (Record, 2016), entre outras obras. Além de várias peças de teatro em que encenou, dirigiu e produziu.
“Comemorar 40 anos de carreira é uma felicidade imensa! E mais do que tudo, esse espetáculo é a comemoração dos encontros que tive durante toda essa trajetória. Não só com os grandes diretores e atores com quem contracenei e aprendi, mas, também, com todos os técnicos, produtores, figurinistas, iluminadores, cenógrafos, maquiadores, enfim, todos que fazem parte desse universo fascinante de ‘contar histórias’. Tive o privilégio de ter vivido momentos áureos da TV brasileira e do teatro produzido a partir dos anos 80. Foram 40 anos bem aproveitados, bem vividos e com personagens que me enriqueceram muito”, avalia ele.
Sempre aberto a novidades e um estudioso das artes cênicas, Jayme Periard decidiu encarar um novo desafio: fazer o seu primeiro monólogo.“Quando comecei a conceber ‘A Quebra’, esse formato se impôs, e me trouxe um grande estímulo. Tem sido uma experiência maravilhosa.”, finaliza o niteroiense.
Foto divulgação: Blad Meneghel
A QUEBRA
Teatro das Artes
Rua Marquês de São Vicente, 52 – Shopping da Gávea
Temporada de 4/9 a 26/9
Segundas e terças, às 20h
Ingressos R$ 80 e R$ 40 (meia)
Classificação 16 anos
Concepção e direção: Jayme Periard
Dramaturgia: Regiana Antonini
Com Jayme Periard
Gênero: monólogo histórico
Sinopse: A trama se desenvolve a partir de uma reportagem sobre o suicídio entre jovens e a descoberta do Jornalista de vários casos de abusos sexuais na Igreja Católica. Sua denúncia revela os sacerdotes abusadores e aqueles que os protegem. E nos apresenta o relato sensível e sincero de uma das vítimas.