Todos têm o direito de manifestar sua opinião, com liberdade, mesmo que possa parecer áspera ou insulte os demais, que não compartilham das suas convicções, desde que não ultrapassem o limite tolerável. Defender seu ponto de vista faz parte do exercício da democracia. No entanto muitas pessoas só são democráticas, no amplo sentido que essa palavra representa, quando o jogo democrático está a seu favor.
Numa democracia é o povo que escolhe, em determinado momento e circunstância, o que considera melhor para si.
Democrata, portanto, é aquele indivíduo que aceita a democracia, até mesmo quando ela não é favorável às suas preferências. Uma sociedade formada por indivíduos capazes de entender e respeitar o processo democrático, amadurece a cada eleição. É necessário que haja o desprendimento do autoritarismo individualista e exclusivista que apenas busca satisfazer interesses pessoais.
O verdadeiro democrata não despreza, nem subjuga como menos capaz ou inferior, os que votam e pensam diferente dele. Ele entende e valida a opinião alheia, tanto quanto a sua, e é capaz de relativizar, sem absolutismo, novos pontos de vista na perspectiva do todo. Reconhece a vontade coletiva e considera o novo caminho a ser seguido, especialmente quando houve uma decisão coletiva e mesmo que ele não concorde com a maioria. Ele sabe que há muitas formas de discordar, manifestar-se contraditório ou apontar outras alternativas.
Passada a eleição e ainda com os ânimos alterados, foi explícito, embora se tenha passado por um pleito de livre expressão democrática, em que o resultado das urnas causou uma onda de revolta, intransigente e agressiva, por parte de alguns eleitores. Nesse momento, houve ataques pessoais, depreciação do outro, injúrias e ofensas mútuas. Um fenômeno relativamente novo, aguçado pelas redes sociais, que nas últimas eleições, diferentemente das anteriores, protagonizaram todo o período eleitoral.
Entretanto, a democracia não se constrói com alicerces tão fracos, sobre declarações inverídicas, boatos, intimidações e preconceito. E certamente se desenvolve quando há respeito e compromisso com as escolhas feitas pela maioria dos eleitores. Democracia significa respeitar as escolhas, ainda que sejam contraditórias à sua vontade pessoal.
Dessa forma, é vital, para que haja numa nação, um senso democrático, que haja tolerância e respeito a diversidade, reconhecendo a pluralidade da condição humana e tratando-a com cordialidade.
Nenhum partido, nenhum governante, ou legislador estará livre das críticas. E é necessário que elas existam, para que se consolide uma oposição saudável e haja uma administração melhor, mais integrada aos interesses do povo. Mas há formas mais polidas de manifestar sua discordância.
O excesso, que extrapola o bom senso, é incapaz de estabelecer uma discussão com argumentos. Pode-se divergir, contestar, questionar, mas com a serenidade necessária, pois só dessa forma caminha-se rumo à construção de um futuro amplamente democrático para todos.
O país fez uma escolha. Essa escolha é soberana e deve ser respeitada. O que se poderia fazer é uma oposição sadia, que cobre dos governantes ações e mudanças que julguemos necessárias. É inaceitável alguém julgar que sabe, melhor que outros, o que é ou não, ideal para o país. É inaceitável alguém apontar erros alheios, sem antes reconhecer os próprios erros. Inaceitável menosprezar o povo brasileiro, ridicularizar e ofender, sendo partícula integrante dessa nação. Como alguns cidadãos brasileiros podem julgar o povo brasileiro e não se incluir nele?
Configura-se arrogante, prepotente, egoísta e antidemocrático todo ser que desrespeita a opinião alheia. Não há democracia nisso e não se construirá nada dessa forma. Haverá maior força, se formos um. Um povo pensante, democrático, atuante e politizado, que sabe a hora de comemorar e a hora de calar. Que lutará por seus direitos, exigindo dos governantes ações e fazendo uma oposição consciente e construtiva. O que foi lido nas redes sociais nos últimos meses, lamentavelmente, soa como uma inversão de valores, uma distorção do que possa ser um ideal político. Que bom seria se todos os brasileiros se banhassem de verdadeira democracia! A base de qualquer sociedade se faz, primeiramente, no respeito ao próximo e no diálogo. Incoerentemente, não foi isso que se viu.