Esta crônica é para exaltar pequenas coisas da vida. Na verdade, toda crônica é para isso. A função deste gênero literário tão bem abrasileirado por nós como o carnaval e o futebol é usar uma lupa para o ver o mundo. Deixemos os olhos nus para a realidade dos jornais. Quem lê tanta notícia?
Depois de uns dias de folga, volto a publicar no Portal, este jornal que olha para a cultura, que tanto precisa ser notada. Durante esses dias sabáticos — é possível avaliar a condição financeira de uma pessoa somente pelos dias que ele pode tirar só para ela. Se fizer isso por um ano no Brasil de hoje, está com os bolsos cheios —, eu pude viver experiências que pareciam banais, mas que muito me fizeram bem.
Sem grana para um sabático em outro território, fiz igual time pequeno e joguei bem em casa, na defensiva. O que não me impediu de viver momentos únicos. Shows, exposições, mesa de bar com os amigos, encontros com familiares. Tudo muito comum, contudo, cheio de significado num simbolismo que só entende quem vive.
Na casa dos 30 (do primeiro tempo), eu tenho sentido cada vez mais valor em momentos que podem ser considerados pequenos, porém, que se tornam coisas grandes de esquecer. Desculpem a breguiece, é porque é de coração e todo coração é meio brega.
Uma apresentação da cantora Roberta Sá, no meio da semana, me emocionou. Um show intimista, que tinha tudo para ser despretensioso, deixou o satélite mais leve. O anúncio da última turnê de Milton Nascimento surtiu o mesmo efeito, apesar da tristeza de saber que não verei mais Bituca nos palcos depois desses eventos.
Já que o papo foi para esse tom, outro dia, em uma mesa de bar com poucos amigos, gargalhei como se ouvisse música. Tinha muitas outras opções de rolé, todavia, a mais simples escolha possível daquela noite foi a plenamente satisfatória, PS, nota máxima, como nos tempos de escola.
Uma reunião de família para o chá de panela de uma prima que vai casar me fez ter que declarar meus sentimentos ao casal – do qual vou ser padrinho. Haja riso e lágrimas de alegria. A vida tem encontros que compensam todos os desvios de rota.
Um brinde às pequenas alegrias da vida adulta, destacadas na música de Emicida e vividas por todos nós, todos os dias, mesmo que nem notemos.