A menina do planeta fome

É preciso respeitar as crianças, o seu tempo. No entanto, é preciso atualizar algumas outras coisas, pois já não cabe apenas apresentar-lhes a Cinderela e seus ratinhos. Nada contra a encantadora história da loirinha borralheira, mas existem muitas outras heroínas, representativas na sociedade e é importante apresentar-lhes também esses movimentos não fictícios para sejam futuros formadores de opinião. Só dessa forma as crianças, especialmente as brasileiras, estarão cada vez mais integradas à realidade de seu país, bem como poderão compreender o contexto social onde cada uma está inserida e quanto importante o papel de cada indivíduo na sociedade, para futuramente estarem melhor preparadas a contribuírem com o desenvolvimento da nação!

“Quando era criança e nunca tinha saído da favela de Moça Bonita (hoje Vila Vintém), no Rio de Janeiro”, Elza Soares acreditava que as luzes das casas, carros e tudo mais lá embaixo eram estrelas. A menina carioca via seu morro cercado de estrelas por todos os lados e era doida para descer e conhecer os astros de pertinho. E, quem sabe, tornar-se uma estrela?

A história contada pela própria artista, inspirou o musical “A Menina do Meio do Mundo – Elza Soares para Crianças”, que estreou em agosto, no Centro Cultural João Nogueira, Imperator, no Méier. Mas, a partir de 10 de setembro, a peça fará uma temporada no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea.

Primeiro vale mencionar a grandeza desses artistas ao estrearem esse espetáculo na Zona Norte, sem o burburinho das celebridades da Zona Sul, afinal, mais Zona Norte que Elza, impossível!

A mulher do fim do mundo era de Água Santa, um bairro residencial, próximo à Serra dos Pretos-Forros, que é conhecida por esse nome por ser na subida da serra onde os escravos alforriados (forros) e também os fugidos, buscavam abrigo, e construíam quilombos.

Embora a infância de Elza tenha sido de amargar, afinal a menina foi obrigada a casar-se aos doze anos e teve sua infância interrompida, ela tinha fome de viver, e o texto desse espetáculo está leve e lúdico. Seus brinquedos ganham vida, agitam a plateia infantil que ri muito. Eles quebram a quarta parede e trocam com as crianças na plateia, assim como a menina Elza! O texto, inteligentemente, fala sobre as dificuldades da menina, a falta da linha para costurar seus brinquedos, nada que traga algum sentimento triste aos pequenos. Mas, deixa claro, que a mocinha teve um passado difícil, de superação, o que é bastante pertinente, mostra que na realidade nem todos têm o que querem. O Teatro cumpre seu papel e o espetáculo encontrou uma boa forma de educar os espectadores.

Elzinha vem que vem, no corpo da atriz Merícia ganha graça e conforto a olhos e ouvidos, uma potência vocal de arrepiar! Elzinha é uma delícia, com seu corpinho magro e um figurino propício, é possível reencontrar a Elza do passado, sem nenhum tipo de questionamento. O cabelo está uma graça, pois a atriz se apropria do que a levou a ser Elza, uma belíssima atriz negra, que brilha no palco, com graciosidade de sobra! Uma surpresa gostosa é o que acontece quando o público encontra Merícia Cassiano!

Ella Fernandes, que interpreta a Dona Rosária, mãe da protagonista, também emociona. Outra atriz que brinca de cantar, quando duela em uma das primeiras canções com Merícia arrebata a alma. Que belas as duas juntas atuando, uma excelente combinação da direção de Diego Morais. A direção musical também está uma maravilha. Gabriel Quinto e Tony Lucchesi não pecam.

Falando em não pecar, o mesmo pode-se dizer dos cenógrafos José Cohen e Clivia Cohen, que parecem serem coloridos por dentro. Vemos uma comunidade no palco, com caixa d`água, telha de amianto, tudo como deve ser, colorido e simpático. O cenário reluz e ganha ainda mais cor, com Lucio Bragança Junior na iluminação e é possível viajar com Elza do dia para a noite, numa deliciosa viagem!

Os figurinos também são coloridos e divertidos, ainda mais as indumentárias dos bonecos vivos.

Antes da morte da cantora o contrato já tinha sido assinado, Elza sabia que ela iria brilhar para os brasileiros, que a estrela Mór não se apagaria, a cantora do milênio continuará brilhando e cantando aos brasileiros, viva na memória como símbolo da mulher negra e forte que foi, exemplo de resistência.  O espetáculo fez uma belíssima e digna homenagem, além de muito merecida, pois essa obra apresenta a verdadeira história da grande diva, sem esconder as dificuldades por ela enfrentadas, apesar de ter uma fala delicada, ecoa a voz da resistência!

No espetáculo, ela enfrenta dois meninos que tentam atrapalhar Elza, os artistas Caio Nery e Lucas da Purificação também fazem os pequenos se divertirem, assim como a boneca Dindi (Elis Loureiro), a ela não escapa uma, e é assim que sempre será lembrada a mulher da voz rouca que conquistou o mundo! Elza sempre será Elza!

A MENINA DO MEIO DO MUNDO – ELZA SOARES PARA CRIANÇAS

Temporada até 9/10

Teatro Clara Nunes

Rua Marques de São Vicente, 52, 3º andar, Gávea

Sábados e Domingos, às 16h

Ingressos R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)

Lotação 750 pessoas

Duração 60 minutos

Classificação Livre

Vendas na bilheteria e na plataforma Sympla

Informações (21) 2274-9696

FICHA TÉCNICA

Direção Geral: Diego Morais

Direção Musical e arranjos: Gabriel Quinto e Tony Lucchesi

Coreografias: Viviane Santos

Roteiro Original: Pedro Henrique Lopes

Elenco: Merícia Cassiano (Elza), Ella Fernandes (Dona Rosária), Lucas da Purificação (Ary e Alair), Elis Loureiro (Dindi) e Caio Nery (Guri)

Cenário: José Cohen e Clivia Cohen

Figurinos: Lucila Belcic e Clivia Cohen

Cenotécnico: André Salles

Iluminação: Lucio Bragança Junior

Operação de Som: Leonardo Carneiro

Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação (Rachel Almeida)

Assistentes de Produção: Heder Braga e Layla Paganini

Produção e realização: Entre Entretenimento