Você colhe o que planta

O réveillon passou. Quantos votos de feliz ano novo você recebeu? Quantas pessoas se despedindo de 2019 sem apego a este ano você viu? Quantas ansiaram pela chegada de 2020 como se seus problemas fossem arrancados de suas vidas como uma folhinha do calendário?

Pois bem, você quer saber primeiro a notícia boa ou a ruim? Ok, comecemos pela ruim.

Não, nada me diz que teremos um 2020 melhor. Sabem, não é questão de desejo. É questão de análise. Há um esvaziamento da educação pública sob argumentos de falta de verba e da incapacidade das instituições. Recentemente o Brasil aprovou uma PEC que congelou gastos na educação. Com isso, apesar de todos entenderem a necessidade de investir em educação, em vinte anos o Brasil investirá metade do que investe hoje. Convenhamos, isso num país que tem um profundo déficit social, não aponta para um futuro próspero, né?

Além do mais, já ia me esquecendo disso que não é um detalhe, temos um governo que considera Paulo Freire, educador brasileiro, já falecido, que tem reconhecimento mundial e recebeu o título de doutor em mais de 45 universidades de todo o mundo, um energúmeno.

Os direitos trabalhistas estão sendo retirados, vulnerabilizando principalmente a camada mais baixa da sociedade. E isso sob o argumento que desta forma o trabalhador terá mais oportunidades já que seu patrão será mais próspero. Alegam até, que o direito trabalhista inviabiliza a economia. Argumento semelhante ao usado no final do século XIX, para defender a continuidade da escravidão.

No mesmo bojo veio a Reforma da Previdência. Pronto. Mais aumento de vulnerabilidade. Mais insegurança. A camada mais baixa, que terá menos acesso à educação e não estará protegida em suas relações de trabalho, também experimentará a falta de assistência em sua idade mais avançada.

Desculpem se isso os aborrece. Desculpem se pareço pessimista. Mas, reparem, só falo do que já é fato. E tem mais. Infelizmente, muito mais. Mas paro por aqui. Vamos agora a notícia boa.

Bem, para ser franco, neste quesito só há um fato. Trata-se da possibilidade de mudarmos tal realidade. Já que o desastre social está em curso. A nosso favor, apenas o fato de que somos sujeitos sociais e históricos, capazes de mudar nossa realidade. Sim, tenho certeza que decepcionei muitos leitores neste momento. Preferiam que eu dissesse que existem previsões astrais de mudança. De que, talvez, com alguma simpatia, a vida iria melhorar. Mas não. Desculpem. Da mesma maneira que nossas ações erradas ou nossa paralisia social e política permitiu que chegássemos onde estamos, vos digo que só nós podemos mudar esta realidade.

Digo mais, se você está triste com esta informação, caro leitor, é que você já não acredita mais em si mesmo. Não desanimem. Não se desesperem. Está tudo muito ruim sim, mas a possibilidade de transformação estar depositada em nossas mãos é algo positivo.

Aliás, como diria Paulo Freire, seria inocência esperar que quem te oprime te liberte. Logo, as ações que nos preservam e nos favorecem só podem ser praticadas por nós.

Enfim, está tudo muito ruim, mas o futuro ainda está em nossas mãos. Não desistamos.