Após sofrer um grave acidente de carro, o famoso escritor Paul Sheldon, conhecido pela série best-seller sobre a personagem Misery Chastain, é resgatado pela enfermeira Annie Wilkes. Autointitulada a principal fã do autor, Annie se revolta com o desfecho trágico da personagem Misery descoberto em um manuscrito de Sheldon e o submete a uma série de torturas e ameaças. (Sinopse)
Em 1990, o filme foi lançado, e levou a atriz Kathy Bates ao Oscar, com legitimidade, quem assistiu ao filme sabe da atuação da atriz, perfeita!
Em todo o tempo, é inegável o espetáculo leva o espectador à adaptação feita no cinema. Mas, vem com uma roupagem diferente, o que chama muito a atenção. O diretor Eric Lenate foi corajoso e criou uma Annie Wilkes contemporânea, menos estereotipada. Sem arrependimento, Annie age como uma desequilibrada, aproximando o público de uma psicopata e esse no que lhe concerne, acha graça. Quem assistiu ao filme, ou leu o livro, às sombras dos desdobramentos feitos por Kathy Bates, não teve a mínima possibilidade da vontade de rir. O olhar do diretor é sóbrio e inteligente, ele regeu uma orquestra desafiadora, soube inovar, trouxe da pandemia para os palcos o que os artistas aprenderam a trabalhar para se conectarem com o público, audiovisuais certeiros, que enriqueceram o espetáculo presencial.
Julia Rufino assumiu a direção do audiovisual e foi simplesmente fantástica. Além de trazer, na íntegra, a personagem, também contribuiu com efeitos visuais muito bem introduzidos às cenas, como o momento em que o fogo queima o exemplar do personagem Paul Sheldon.
A trilha sonora, sonoplastia e engenharia de som trabalhos por L.P. Daniel, simplesmente levam o espetáculo ao requinte. Efeitos sonoros são legítimos e os detalhamentos perfeitos. Por inúmeras vezes algumas atuações dependem da sonoplastia, e juntos se fortalecem, notoriamente conectados. Muito bom! Boa escolha incluir no espetáculo músicas de relevância, repertório belíssimo. Sem contar que L.P. Daniel ainda compôs as inserções musicais. Inacreditável sua dimensão artística.
Carol Brada e Leopoldo Pacheco assinam o Figurino e o Visagismo. Os figurinos estão perfeitos e convincentes, principalmente o da personagem Annie. Uma mulher do interior Norte americano. O figurino desse espetáculo tem o poder de impactar o espectador. Quando a personagem entra de camisola em cena assusta até quem não tem medo de fantasma. Bom desenho! Leopoldo durante a pandemia assinou também o Visagismo de um espetáculo maestral, “Protocolo Volponi”, e novamente o artista trabalha com um olhar elegante, pode-se dizer até visceral. É possível que todos fiquem boquiabertos com que se vê. Incrível.
Outra que convence é Aline Santini, que traz luz para dentro e para fora dos ambientes. Traz relâmpagos, traz a iluminação correta para dentro do quarto, das salas e, minuciosamente, para dentro da caixa de remédios, que a psicopata mantém em casa. Aline trabalha em harmonia com todos os outros quesitos.
Claudia Souto e Wendell Bendelack garantiram a tradução e a adaptação do texto.
Alexandre Galindo dá vida ao Xerife, uma mistura de norte americano com brasileiro, segundo a lei do interior. Ele faz rir, se isso não fazia parte do personagem, é melhor trocar o artista, trocar tudo, porque Alexandre está demais, suas expressões corporais e vocais, quebram o suspense do outro lado do cenário!
Falando em cenário e adereços, tudo obra do engenhoso diretor. Não existem palavras para a arquitetura cênica no palco, as transformações do cenário, o dinamismo, que atravessa o espetáculo e dá vida. São três cenários imensos, que acontecem diante dos olhos. Absurdamente inteligente e inesquecível! Eric, Eric, Eric…
Marcello Airoldi, ator que durante a pandemia fez leituras cênicas, parece ter voltado ao palco como um Deus, que mais parece seu andor, tamanha sua façanha em atuar. Ele faz com que os espectadores acreditem em absolutamente tudo. Ele engana e engana também a personagem, atropela com sua atuação, que está muito acima do esperado. O artista, limitado pelas limitações de seu personagem, na cama, ou na cadeira de rodas, atua com perfeição. Todos sabem que fica mais complicado, não só para a voz, como para toda a atuação, mas Marcelo se vira e faz acontecer, com beleza e vigor. Nada forçado, uma atuação gostosa, embora nos leve a suspenses, ele leva tudo com profissionalismo, com as rédeas nas mãos, parece ser exigente consigo mesmo e esbanja seu saber artístico, uma beleza assisti-lo!
Ao lado de Marcello, a belíssima parceira de palco Mel Lisboa (a eterna Anita do Brasil) transborda teatralidade. Não erra o texto, que inclusive é imenso, praticamente duas horas e meia de espetáculo. Mel brinca com suas falas, dá essência à obra, o Teatro corre em suas veias. A atriz esteve também on-line algumas vezes durante a pandemia. Helena Petrovna Blavatsky, um dos papéis interpretados na telinha, esteve no Sesc ao vivo. Ela alcança facilmente a todos, parece estar em mais perfeita comunhão com plateia e texto. A roupagem desse espetáculo, anteriormente mencionada, veio por Mel Lisboa, que trouxe uma psicopata atual, entre risos e um humor bem colocado. Annie veio diferente sim, mas não deixou de cumprir as torturas, não deixou de trazer sua obsessão ao palco. Deu dinamismo, suspense, tudo com equilíbrio. O corpo da atriz também pareceu pertencer a personagem, principalmente enquanto vestia seu macacão e um par de botas até os joelhos. Mel Lisboa está deslumbrante no palco, viva, como um sol, ela traz calor e atua como uma onça, se apropriou da senhorita Wilkes com sofisticação. É um prazer inenarrável assistir a atriz atuando em “Misery”, usando sua voz e seu talento com imponência!
Os contrarregras são atuantes do início ao fim, fazem acontecer a obra imensa. São eles: David Brenon, Jorge Alves, Rafael Matede e Willian Eduardo.
MISERY
Teatro Firjan SESI CENTRO
Avenida Graça Aranha, 1, Centro
Temporada até 5/6
Sexta às 19h, sábado e domingo, às 18h
Ingressos entre R$ 40 e R$ 20
Gênero: Suspense
Duração 140 minutos
Classificação 14 anos
Vendas pela plataforma Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/71930/d/129651
FICHA TÉCNICA
Texto Original: Stephen King.
Dramaturgia: William Goldman.
Tradução/Adaptação: Claudia Souto e Wendell Bendelack.
Elenco: Mel Lisboa, Marcello Airoldi e Alexandre Galindo.
Direção Artística: Eric Lenate.
Direção De Produção: Bruna Dornellas e Wesley Telles.
Desenho De Luz: Aline Santini.
Arquitetura Cênica e Adereços: Eric Lenate.
Figurinos: Leopoldo Pacheco e Carol Badra.
Visagismo: Leopoldo Pacheco.
Assistente de Figurino e Visagismo: Bruna Recchia.
Trilha Sonora, Sonoplastia e Engenharia De Som: L. P. Daniel.
Direção Audiovisual: Júlia Rufino.
Assistente de Iluminação: Vinicius Andrade
Direção de arte projeções: Sylvain Barré
Fotos: Leekyung Kim.
Criação da Arte: Leticia Andrade.
Assistência de Direção: Mariana Leme.
Produtor Assistente: Tiago Higa
Assistência de Desenho de Luz e Operação Técnica: Clara Caramez.
Assistência de Engenharia de Som e Operação Técnica: Rodrigo Florentino.
Assistência de Vídeos e Operação Técnica: Vj Alexandre Gonzalez.
Direção Cenotécnica: Evas Carretero e Rafael Boesi.
Serralheria: José da Hora.
Designer Gráfico: JLStudio.
Mídias Sociais: Agência Taga.
Coordenação Administrativa: Letícia Napole.
Assessoria Jurídica: PMBM Advocacia.
Assessoria Contábil: Leucimar Martins.
Gestão de Patrocínio: Mina Cultural Consultoria.
Marketing Cultural e Assessoria de Mídia: R+Marketing.
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio.
Apresentado Por: Ministério do Turismo.
Patrocínio: ArcelorMittal e Porto Seguro.
Produtor Associado: WB Entretenimento
Realização: WB Produções.
Produção Original da Broadway produzida pela Warner Bros.
Theatre Ventures em associação com Castle Rock Entertainment, Liz Glotzer, Mark Kaufman, Martin Shafer e Raymond Wu.
Estreia mundial produzida em Bucks County Playhouse, New Hope, PA Jed Bernstein, diretor de produção.