O espetáculo quando começa ao som do Raul Seixas, obviamente não se pode questionar sua grandeza. E quando os artistas entram em cena, com performances divertidas, ao som de Pluft Plaft Zum, pode-se partir nesta viagem sem problema algum!
Proto Henrique IV é um espetáculo que chega às telas assim, bem chamativo e trazendo Pirandello, o grande renovador do teatro, com profundo sentido de humor e grande originalidade! Mas, mesmo sendo um dramaturgo, que apoiou o fascista Mussolini, é impossível não reconhecer a sua grandeza artística!
”Após descobrir que Matilde, a mulher que ele ama, o trai com seu melhor amigo, um nobre italiano sofre um acidente que depois descobre-se ter sido provocado (talvez por esse seu melhor amigo) e enlouquece em decorrência de uma batida na cabeça. Como isso acontece a caminho de uma festa à fantasia em que ele estava caracterizado como o rei Henrique IV, da Alemanha, o nobre passa a acreditar ser o próprio rei. Incapaz de curá-lo e com pena de seu estado, uma réplica da corte de Henrique IV é construída para que ele possa viver nela.” (Sinopse)
Uma adaptação de texto impecável feita por Claudio Fontana de notável e robusta expertise.
O figurinista apostou em uma mesclagem de trapos e indumentárias dos séculos passados, o que surpreende e dá grande destaque ao trabalho desenvolvido por Gabriel Villela.
A caracterização também merece reconhecimento, pois torna a obra mais sedutora. Maquiagens relevantes, uma obra artística de Claudinei Hidalgo. Mas, o que realmente é assertivo é o empenho de todos envolvidos, a importância dada à tríade cênica, ou seja, ao texto, ao espectador e ao artista.
Chico Carvalho é competente e envolvente, mesmo diante de um texto denso e enorme, ele não erra. O artista está divino! Ele parece cantar a dramaturgia, os movimentos de sua boca parecem ter se adaptado ao personagem. A voz tem as nuances certas para cada frase.
A face do ator provoca delírio aos admiradores das artes cênicas. É de se questionar como o ator consegue trazer um texto complexo de maneira tão rebuscada e sublime.
Os olhares de Chico são atuantes o tempo inteiro, seguem suas palavras, galgando aos céus a cada ato. A postura corporal invoca a importância e a concordância do texto de Pirandello, onde reis, duquesas e imperadores são mencionados.
Sofisticação é a palavra que resume o espetáculo que está disponível na plataforma digital.
Os movimentos do ator são belíssimos, um trabalho de direção que não se vê com tanta frequência. Que personagem é esse? Que montagem significante! Uma criação inesquecível! Que grandeza, caros leitores!
No segundo ato, é apresentado um ventrículo, que também brinca ao som de Raul, Maluco Beleza, com movimentos característicos de um boneco.
“Acompanhando Chico em cena, Breno Manfredini faz, às vezes, de um contrarregra/camareiro cênico”, Breno vem com uma potência, que não discorda do Chico, quando oferece aos espectadores seus conhecimentos.”Pigmentos cênicos de muito valor. Ainda mais com um chapéu alto e cônico, a chegada do boneco ao palco é impactante.
Os colares Elisabetanos utilizados por eles são bem-vindos na construção dos personagens. É uma contação de histórias da mais alta autenticidade por parte do elenco e da ficha técnica.
“Aurora Fornoni nos mostra como o próprio personagem explica sua atitude. ‘Como viver após são, com todos me apontando o dedo? Como viver se todos já me achavam louco antes?’ (Bernarnini, 1990, p.55). Nesse sentido é possível vislumbrar através do drama de Henrique IV, a vulnerabilidade que insere às personagens de Pirandello na angústia de não se ver vivendo para se moldar à forma em que a sociedade o coloca.”
E assim o texto cria suas asas e encontros com os espectadores, propondo análises riquíssimas e pontos de vista, que trazem autoquestionamento, impossível não parar e querer desenrolar os fios de pensamentos apresentados pelo texto.
E volta o ventrículo, senta-se ao lado de Henrique IV, quando mais uma vez, o teatro físico é magnânimo.
Prestes a terminar, o solista traz um texto que é importante mencionar.
“Confiar nas pessoas, isso sim, é uma loucura. Mas é preciso perdoá-los. Estas roupas e este bonecos são para mim uma representação, clara e involuntária, desta encenação diária da vida e a vida nada mais é, que uma mascarada continua, de cada minuto em que somos os palhaços involutórios, quando sem saber nos fantasiamos daquilo que pensamos ser. Eu estou curado senhores, porque eu sou um ator e sei perfeitamente encenar um louco aqui, a desgraça de vocês é que vivem a sua loucura freneticamente sem, na verdade, conhecê-la, e muito menos, enxergá-la.
Fica claro que Proto Henrique não é dimensionável, um trabalho acolhido por profissionais que entendem do melhor que o Teatro pode oferecer. Um texto em nada superficial, os artistas abrangem técnicas com suas performances harmoniosas. O Teatro brasileiro parece um concorde, cheio de força e potência, incrivelmente agigantado. Uma obra que arrebata a todos que se permitem mergulhar nas loucuras de Proto Henrique IV.
FICHA TÉCNICA
Elenco: Chico Carvalho
Texto: Luigi Pirandello
Tradução e adaptação: Claudio Fontana
Direção, Figurinos e Cenografia: Gabriel Villela
Diretor Assistente e Iluminação: Ivan Andrade
Contrarregra/camareiro cênico: Breno Manfredini
Canto e arranjos vocais e instrumentais: Marco França
Assistente de Figurinos: José Rosa
Adereços de arte: Jair Soares Jr
Costureira: Zilda Peres
Maquiagem: Claudinei Hidalgo
Fotografia: João Caldas Filho
Assistência de Fotografia: Andréia Machado
Programação Gráfica: Renata Monteiro
Diretor de Palco: Alexander Peixoto
Produção Executiva: Augusto Vieira
Direção de Produção: Claudio Fontana
PROTO-HENRIQUE IV
Temporada até 5/12
Sexta a domingo, às 20h
Classificação 12 anos
Duração 60 min
Com apresentação em Libras
Ingressos gratuitos disponíveis na plataforma Sympla
Acesse: https://www.sympla.com.br/produtor/protohenriqueiv