Marcus era um adolescente diferente, curioso, um tanto quanto erudito e gostava de passar horas olhando para o céu devaneando sobre questões existenciais. Fazia perguntas complexas de serem respondidas, mesmo por filósofos e grandes sábios. Mas seu pai Francisco, em especial, curtia as suas curiosidades e engatava junto em seus pensamentos e questionamentos.
— Pai, como surgiu nosso planeta? De onde a gente veio?
— Contam que o mundo que conhecemos, veio da grande explosão de um átomo primordial. E que depois desse cataclismo cósmico o universo caminha em eterna expansão astral, filho.
— Estranho…
— Somos pequenos fragmentos do que um dia foi o todo. Somos complexos desmembramentos de uma unidade partida. Uma unidade única, coesa, firme e original que, depois de um comando central, se estilhaçou pelo espaço.
E em cada ser mineral, vegetal, animal e hominal existe, indiscriminadamente, esse pedacinho da semente original. Cada célula do nosso corpo e tudo que nos permeia está eternamente conectado, interligado e entrelaçado.
— Entendi. Mas se somos todos fragmentos da mesma explosão… Se somos todos partículas particulares em evolução… se somos todos oriundos de uma só fonte… se somos todos resultados do mesmo instante… Como alguém pode supor ser um ser superior? Ser mais importante do que o restante?
— Não diria superioridade. Cada um traça o seu caminho, meu filho. São bilhões de anos de evolução. Aprimoramentos fisiológicos, anatômicos, adaptogênicos. Habilidades físicas, mentais e emocionais. Existem seres nos mais diversos estágios evolutivos, por assim dizer.
— E qual é a direção da evolução? Para onde ela aponta?
— Ela aponta pra dentro. Dentro de si.
— A evolução é egocêntrica, então?
Neste momento Francisco ficou um pouco desconcertado e tentou pensar na resposta. Não esperava uma pergunta astuciosa como esta.
— De certa forma sim. Tornar o ego objeto central para que seja estudado e dissecado profundamente. Conhecer todas as suas camadas, uma por uma. E assim, lapidar e impregnar cada uma delas com valores nobres, genuínos e profundos. É o egocentrismo como ponte para o verdadeiro altruísmo e amor universal.