Era chegada a hora! Mariana já sentia muita dificuldade para levantar da sua cama e fazer mínimos esforços. A respiração estava curta e as suas pernas tão inchadas que ela sequer conseguia enxergar seus pés. Estava grávida do seu primeiro filho e indo para os dias finais antes de entrar em trabalho de parto. Sentou na sua cadeira de amamentação, já posicionada estrategicamente no quarto do Gabriel, e achou que era a hora de uma conversa derradeira, afinal de contas, Gabriel precisava ser informado do que estaria prestes a acontecer.
— Ei, filho, tudo bem com você? Precisamos conversar. Puxa uma placenta confortável e senta aí. Eu sei que aí dentro está aconchegante, a luz é baixa, tem o som do mar.
— A comida é farta e a água doce… ninguém para te incomodar. Eu sei que tá tudo certo aí dentro. Que o sono é gostoso, o ninho é quentinho. É o mundo todinho, sem sair do lugar. Sei disso tudo, mas eu preciso te dizer…
— Percebe que tá ficando apertado? Que já tá difícil rodopiar como antes? Que embora haja paz e muito conforto, parece não ser o bastante? Percebe que mamãe está mais cansada? Fala entrecortada, um pouco sem ar? Ando sem forças e um peso enorme pra sustentar? Pois é…
— Já, já você vai sentir o seu primeiro desafio. Uma forte contração, como uma onda, ou empurrão. Uma luz forte vai surgir e é pra lá que você deve ir, filho.
— Tudo bem! Não se assuste tanto. É melhor do que imagina. Mamãe está aqui com você, vou segurar sua mão, te aconchegar nos braços. Nada de mal vai te acontecer. Porque eu não vou deixar, não permito nem se aproximar.
— Você só precisa chorar e chorar bem forte. Aquele choro inicial estrangulado, mas depois esguelado. Pra contar ao mundo todo, ao seu belo mundo novo, que foi dada a largada, pra sua linda jornada.
— E eu estarei aqui, te olhando de perto e depois de longe. Primeiro eu te ensino a caminhar, depois eu te ensino a voar.