Todos sabem que os trabalhos de Duda Maia são sempre bons, por seu olhar técnico e refinado. Duda tem uma dimensão artística notável que a cada obra executada parece fazer com que suas asas cresçam.
A sorte de qualquer produtora é ter o sim dessa brilhante diretora, capacitada e absolutamente dona de uma criatividade categórica. Com uma ficha técnica apurada, Zaquim chega e desmonta os espectadores, deixando-os desacreditados de tudo que assistem.
A beleza da obra vai do início ao fim, numa delicadeza que toma o palco italiano e lá fica até o cerrar das cortinas, deixando todos boquiabertos, pode-se até dizer, perplexos.
Na codireção, Luíza Loroza não saiu dos holofotes durante a pandemia. Bebeu da água oferecida por Duda, com sapiência. Aprender com os grandes é uma oportunidade ímpar. Luíza tem sido notada em suas conquistas profissionais e tem enriquecido o cenário teatral carioca com louvor, garantia de que o teatro não vai parar e vem com sede de expectativas, remotas até então.
Dessa vez, é justo começar reconhecendo o trabalho do desenho de luz. Renato Machado assina a luz divina desse espetáculo. E é luz para todo lado, claridade com harmonia, sem impactar por excesso. Cores muito bem colocadas dão vida a cada momento. Profissional impiedoso, provavelmente disse para si: serei o melhor, e foi. Toda fotografia do espetáculo deve-se muitíssimo ao Renato. Ele soube diagnosticar e prescrever o remédio certo, para os espectadores certos. A iluminação condiz com a música. Uma aliança perfeita, uma conexão precisa. As cores bem escolhidas deixam em evidência o propósito do espetáculo, que preza pela sofisticação.
Texto divertido e coerente de Gabriel Pardal.
As músicas merecem especial atenção. Atualmente existe falta de qualidade no cenário musical e poucos artistas conseguem manter o nível de sua obra, pouquíssimos. O povo parece ter se esquecido da poesia, do bom-senso e estar se acostumando a composições empobrecidas musicalmente, que nada, absolutamente nada, oferecem aos ouvidos. Obras apuradas e de bom gosto são raríssimas. Muitos artistas independentes lutam com dificuldades para manterem-se vivos e trabalhando, nesse nicho é possível encontrar beleza e trabalhos coesos, difícil é fazê-los ecoar. Zaquim veio quebrar a regra, mostrar que ainda é possível encantar com qualidade musical, com poesia e sem apelativos.
Mergulha-se em memórias e o espectador mais vivido pode contemplar um passado musical longevo, onde crianças eram tratadas como crianças e eram presenteadas com músicas para crianças. São músicas que até hoje são sucesso absoluto e reverberam, lembrando e atestando um passado musical glorioso!
O nível de Zaquim pode ser equiparado ao dos belíssimos musicais A Arca de Noé, Perlimpimpim e tantos outros desse tempo primoroso, onde a arte não era tratada como mercadoria e sim como interpretação de um povo mais educado.
Oxalá, que todos os musicais possam ser conduzidos por mãos tão qualificadas quanto Zaquim!
Karen Brustollin assumiu o figurino. As indumentárias estão arrebatadoras, elegantes, com flores, cortes, tecidos e muito charme. Karen pôs leveza em suas mãos, pois os figurinos embora imponentes, são delicados, com um toque de romantismo no ar. Branco, muito branco alvejado. Estão todos lindíssimos e cada artista deixa perceptível estar leve e à vontade.
“Com aquela mistura perfeita de música, teatro e dança, o espetáculo não tem uma história linear e nasceu de um processo no qual os artistas, a diretora e toda a equipe foram criando juntos as músicas originais, os movimentos e toda a concepção do trabalho. A palavra “Zaquim” é derivada da junção dos nomes de dois meninos: Zazu, filho de Gabriel Pardal e neto de Aniela Jordan; e Joaquim, filho de Felipe Habib e Marina Palha, todos os artistas que idealizaram a montagem. O musical foi idealizado por Aniela Jordan — diretora artística da Aventura, Gabriel Pardal — escritor, Marina Palha — atriz e Felipe Habib — diretor musical. Uma produção da Aventura.”
Mina Quental assume o cenário, uma caixa de surpresas é o que ela traz. Porque de dentro da caixa, os artistas saem com graça e espontaneidade. Que delícia a senhora Mina apresentou! A caixa foi útil e lúdica. Admirável!
Não existe uma explicação definida, trata-se de um manifesto de corpos artísticos, bem contemporâneo, com novas linguagens e concepções de convivência. O Brasil evidenciado em todos os acordes.
“Guitarra, baixo, acordeon, bandolim, ukulelê, djembê, pandeiro, tamborim, ovinho, caxixi são os instrumentos que ficam soltos, sem fio, no palco e são tocados e trocados pelos atores em cena.”
O trabalho apresenta cena de extremo bom gosto. Com iluminação e cenário apropriados a cada momento. Tudo parece pertencer a um reino encantado e eleva a plateia a momentos únicos.
Ah! Os artistas, que elenco, esses meninos são joias…
Bruno Quixotte dá a sensação que a alegria faz morada dentro dele. Jef Lyrio é caricato, faz rir por excelência. Ele alcança facilmente as crianças. Marina Palha olha para seus amigos de palco com admiração e se entrega com devoção. Quel, que voz! Raphael Pippa é maduro e isso fica evidente no palco e Vitor Novello traz delicadeza com seus movimentos.
Os artistas estão navegando na mesma direção, simétricos, lineares, também muito convincentes, o que desperta atenção, porque preza pela perfeição dos movimentos e usa de tudo que o teatro pode oferecer. São assertivos, parecem ter nascido do arco-íris, como num conto de fadas, daqueles cheios de ingenuidade e bondade.
Os ritmos são diversos, um verdadeiro passeio pelas regiões do Brasil, do Funk ao Samba, mas tudo com legitimidade e muito bom gosto.
O Teatro Prudential foi perfeito ao abrir espaço para Zaquim, eles se complementam na infinita elegância e beleza. Após o espetáculo, as crianças podem ir até o saguão, onde são convidadas a desenhar, acompanhadas por profissionais, que tentam inspirá-los a externar informações da peça.
Vale também mencionar os funcionários do teatro, que recebem o público com sorriso e gentileza, da bilheteria à saída do elevador, sem contar o cuidado de todos na orientação dos protocolos necessários nesse momento de retorno.
Que venham os prêmios, impossível não acreditar neles, pois Zaquim é um dos melhores espetáculos pós-pandemia!
FICHA TÉCNICA
Idealização: Aniela Jordan, Marina Palha, Gabriel Pardal e Felipe Habib
Texto: Gabriel Pardal
Direção: Duda Maia
Diretora Assistente: Luiza Loroza
Direção musical e arranjos: Felipe Habib e Beto Lemos
Criação musical: Felipe Habib, Beto Lemos, Gabriel Pardal, Bruno Quixotte, Jef Lyrio, Marina Palha, Quel, Raphael Pippa e Vitor Novello
Cenário: Mina Quental
Figurino: Karen Brusttolin
Desenho de Luz: Renato Machado
Desenho de Som: Gabriel D’Angelo e Leandro Lobo
Assistente de Direção Musical: Raphael Pippa
ELENCO
Bruno Quixotte, Jef Lyrio, Marina Palha, Quel, Raphael Pippa e Vitor Novello
Duração 60 Minutos
Classificação Livre
Sessões para escolas públicas
As instituições podem entrar em contato com a produção da peça
Leana Alcântara – Produção (21) 99556-6677
producao@aventurateatros.com.br
ZAQUIM
Teatro Prudential
Rua do Russel, 804, Glória, Rio de Janeiro/RJ
Temporada até 31/10
Sábados e domingos, 16h
Sessões extras:
Dia das Crianças, 12/10, terça-feira, 16h
Dia do Professor, 15/10, sexta-feira, 16h
Escolas públicas: 8, 13, 14 e 29/10, 16h
Classificação Livre
Duração 90 minutos
Ingressos R$ 40
Venda pela plataforma Sympla www.sympla.com.br/teatroprudential
Acesse: @zaquimomusical