Preconceito contra o audiovisual é algo a ser desconsiderado.
“Vizinhos” é um trabalho primoroso e emocionante. Aos que têm coração e sensibilidade preparem seus lenços, serão utilizados. São diversas abordagens e desdobramentos que fazem com o que a dramaturgia te sequestre. A narrativa cria um diálogo com o espectador, o instiga a curiosidade. Uma complexa relação entre espectador e obra proposta pelo dramaturgo Renato Farias.
Mesmo tratando-se de um espetáculo virtual, o alcance através dos afetos é o que media o enlace e conquista a plateia. Assuntos que rondam a sociedade são trazidos à tona, muitos temas até esmagadores, abordados de maneira serena.
Impossível não ver Teatro nessa obra. O teatro bem filmado. E assistimos em outro estado, em outro tempo, sem perder as emoções. É possível voltar no tempo da obra, há um encontro e nesse encontro é possível ser tocado, mesmo com um certo atraso (“delay” usual na linguagem da atualidade).
Nesses últimos tempos modernos, apesar de tecnológicos, é mais difícil estabelecer conexão por intermédio de uma tela, todos estão cansados e desgastados, em muitos momentos e, também por conta da agitação e da ansiedade, a concentração às vezes falta, mas esse audiovisual de conteúdo absolutamente sedutor, consegue atingir o objetivo e prende o espectador à tela.
Renato Faria é perfeito em sua atuação, uma delícia ouvi-lo, fica a vontade de assisti-lo para sempre. Maduro e técnico. A performance do ator é devidamente compassada, com exatidão em cada ato cênico. Tudo no tempo certo. Nada cru, o ator é dono de uma voracidade, além de ser elegante, um verdadeiro “Don Juan” cênico! Sua voz, um bálsamo aos ouvidos de quem o escuta. Ele está redondo, encaixado, sem arestas.
Seu parceiro em cena é João Manoel, um ator jovem, que traz muito frescor à peça, embora venha carregado de um texto denso. Ao lado de Renato compõe um trabalho que surpreende o tempo inteiro. Juntos se transformam em um rolo compressor, é impossível passarem desapercebidos pelos que os assistem.
Sirlea Aleixo é Coraldina. A atriz que vem ao encontro aos demais personagens, domina a câmera, como uma deusa de matrizes africanas, uma matriarca, alguém sagrado, imprime sua postura. Deixa o espectador boquiaberto!
Thiago Mendonça trouxe ao palco um figurino contemporâneo, arrojado.
O cenário também segue a mesma pegada, mas traz leveza. Acompanha perfeitamente a dramaturgia. A iluminação consegue cumprir bem seu papel e deixa tudo em evidência.
Sinopse: “No período de isolamento pela pandemia de Covid-19, Matheus, um jovem negro recém-chegado dos EUA para visitar a família adotiva e descobrir informações sobre sua família biológica, torna-se vizinho de Renato, um técnico de natação branco de 50 anos. A relação dos dois, como de muitos vizinhos, tem momentos de tensão e irritação, mas também de amizade, cumplicidade e parceria. E, certamente, irá mudar a vida de ambos.”
Se vale a pena? Vale muito a pena. O texto provoca análises e resgata os mais profundos sentimentos.
Um espetáculo muitíssimo bem filmado. O áudio também merece reconhecimento.
Esse é um trabalho que deixa o espectador com vontade de dividir o mesmo espaço, aplaudir de pé, perdendo-se entre as palmas e o secar das lágrimas.
VIZINHOS
On-line e gratuito
Temporada até 18/7
Exibições diárias, sempre às 20h
ingressos gratuitos disponíveis pelo Sympla
Duração 70 minutos
Classificação 14 anos
Gênero Comédia Romântica
Assista: http://www.sympla.com.br/vizinhos
FICHA TÉCNICA
Elenco:
João Matheus – João Manoel
Renato – Renato Farias
Coraldina – Sirlea Aleixo
Texto e direção geral: Renato Farias
Direção: Rafael Sieg e Raphael Vianna
Direção de cinema: Rafael Blasi
Direção de fotografia: Felipe Sabugosa
Direção de produção: Alain Catein
Assistência de produção: Tathiana Moreira e Thiago Hypolito
Iluminação: Rafael Sieg
Equipe de iluminação: Tábatta Martins e Santiago Luz (teatro solar de botafogo)
Trilha sonora original: André Muato
Treinamento vocal terapêutico: Dodi Cardoso
Direção de movimento: Fernanda Boechat
Figurino e direção de arte: Thiago Mendonça
Cenário: Melissa Paro
Cenotécnica: Humberto Silva Júnior e Beto de Almeida
Câmeras: Felipe Sabugosa e Rafael Blasi
Assistência de Câmera: Allan Simas
Operação de Áudio: Jussimar Teixeira
Montagem e Finalização: Douglas Souza
Fotografias: Thaisa Lotta
Maquiagem: Ton Hyll
Programação Visual: Thiago Mendonça
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado & Bruno Morais
Intérprete de Libras: Rangel produções
Áudio Descrição: Alldubbing
Assessoria Contábil: HB & NS Serviços ltda.
Contribuição Artística:
Bellatrix Serra
Caetano O’Maihlan
Damiana Inês
Eudes Veloso
Gaby Haviaras
Isabel Paiva
Leticia Cannavale
Márcia Medeiros
Michele Zaltron
Sérgio Meyer
Tarcísio Lara Puiati
Valéria Mauro
Realização: Companhia de teatro íntimo e longa vida audiovisual
Foto Divulgação