Algumas pessoas, muitas mesmo (2) pediram que eu ampliasse algumas histórias que mencionei apenas por alto. Uma delas é sobre meus encontros fortuitos com celebridades. E foram alguns.
Mas antes conto de um amigo, um excepcional violonista, um músico clássico. Num jantar, na Inglaterra, conversava com um desconhecido, aquela conversa fora, chamado papo furado, bem habitual, o cidadão perguntou se meu amigo era músico, era, claro, explicou que era um violonista clássico, o outro disse que pensando bem o conhecia, e que ele era músico, também. Guitarrista.
— Ah, você toca em alguma banda?
— Toco.
— Qual?
— Led Zepellin.
Era o Jimmy Page…
Bem menos foi comigo. Numa época pré-smartphones, ou pelo menos pré para mim, que não tinha dinheiro para isso, comprei um celular que tinha um GPS embutido, mode me auxiliar numa ida a Nova Iorque. Tenho dificuldades sérias em localização, e nos Estados Unidos se você pede uma informação eles te dizem: caminhe duas quadras para noroeste, depois uma para o sul…
Não sei como eles se localizam assim, devem ter comido uma bússola quando nasceram. Mas o diabo do aparelho resolveu não funcionar, então parei num canto para estudar o problema. Logo em seguida um rapaz baixinho passou por mim e me cumprimentou, muito simpático. Respondi ao cumprimento, ele me deu um tapinha nas costas e fiquei com a impressão que conhecia aquela criatura. Até esqueci do GPS, de onde seria? Do Brasil não era, ele era americano. Seria algum músico, algum amigo virtual? Não, nesse caso ele se deteria — eu ainda não havia superado o trauma de estar atravessando a rua em direção à Grand Central e um carro passar com alguém gritando:
— Ricardo Dias!
Anos e anos se passaram e nunca descobri quem fez isso. Mas, voltando ao baixinho, desisti e segui meu rumo, o tempo estava mudando e ninguém viaja de guarda chuva.
Atravessei a rua e vi a cara do sujeito num mural de uns 10 metros de altura. Era o Matthew Broderick, que estava se apresentando naquele local, um teatro.
Nessa mesma viagem cruzei, na rua, com Charles Aznavour, João Havelange e atravessei a rua ao lado de Whoopy Goldberg, que piscou o olho e fez sinal de silêncio. Não precisaria, eu jamais a assediaria.
Mas também vivi meus momentos de celebridade! Tenho quase 1,90. Isso faz com que me destaque na multidão, uma cabeça pairando sobre a massa. Há milênios existia no meu bairro uma “danceteria” chamada Mamute. Não danço, sequer balanço o pescoço ritmicamente, mas eu entrava de graça, havia moças bonitas lá dentro e a esperança é a última que morre. Ficava encostado à parede, apenas observando com cara de idiota. Um dia, show do Paralamas sendo gravado para um programa de rock do antigo canal 9, tocando Óculos, eu vejo, do outro lado do salão, uma câmera, se dirigindo claramente a mim. Com presteza de raciocínio, me apercebi que estava de óculos, tinha cara de nerd e me destacava naquela parede branca. Célere, me abaixei. Assisti dias depois na TV eles fazendo a repetição da cena, um sujeito comprido, de óculos, se abaixando durante a música. Acharam graça e ficaram repetindo, repetindo…
As câmeras gostam de mim. Ou acham graça, não sei. Já fui pego na rua para dar opinião sobre mais uma cirurgia de Tancredo Neves, no Circo Voador para dizer o que havia achado do show (não tinha gostado), na Praça Saenz Peña sobre a criminalidade, até em Nova Iorque: uma repórter se aproxima e me pergunta, em inglês, do que eu mais gosto na cidade. Respondo que da diversidade, coisas assim, uma banalidade qualquer. Ao perceber um sotaque, a repórter faz a pergunta seguinte, de onde eu vinha (e venho!), respondi que do Brasil, e ela pergunta, em espanhol, do que eu NÃO gosto na cidade:
— Não gosto quando digo que sou do Brasil e falam em espanhol.
A moça me olhou feio e se afastou, acho que não foi ao ar.
Mas meu grande momento foi, incrivelmente, nesse mesmo dia, poucas quadras à frente. Eu flanava sem rumo, quando, ao longe, vi uma cabeça se destacando sobre a massa que iria atravessar a rua. Um colega em altura, certamente, e achei que o conhecia. Além da oligofrenia cartográfica, tenho enorme dificuldade em lembrar de nomes e diferenciar rostos. Gêmeos univitelinos, para mim, são pessoas diferentes; só não os diferencio pois acabo esquecendo os nomes, sou um caso sem solução. Mas aquele cara era famoso, eu sabia, apenas precisava chegar mais perto para ver melhor. Fui cortando o trânsito parado, ele iria atravessar no sinal, cheguei bem perto, mas acredito que tenha exagerado um pouco na aproximação, ele me olhou com um certo espanto. Ouvi um grito vindo do outro lado da calçada. Olhei e havia uma multidão de técnicos, câmeras, o diabo. Era uma filmagem, haviam interrompido o pessoal da rua, todos que atravessavam disciplinadamente na faixa eram figurantes, era coisa rápida, de um único take. Só não contavam com o brasileiro cortando no meio dos carros e atrapalhando a filmagem do Liam Neeson.