Que espetáculo emocionante é “Cavalos”!
O artista é caricato, engraçado, com uma voz agradável, recepciona bem, conversa com a plateia antes do terceiro sinal, que inclusive ele próprio, simpaticamente, faz soar.
Um monólogo como a maioria, onde o ator sem incentivo executa quase todas as funções para fazer o projeto acontecer.
A sonoplastia é agradável e tudo bem poético. Logo no começo do espetáculo é possível lembrar da infância, lembrar das vivências ao lado de um pai.
Um mergulho ao passado, numa viagem provocada por meio de uma dramaturgia escrita a três mãos, Alexandre Paz, Nina da Costa Reis e Pedro Emanuel, artistas de peso no mercado cultural.
Impossível não revisitar memórias afetivas paternas e maternas, as lembranças invadem a jato, sem pedir licença.
O ator conta tantas histórias e cataloga tantas categorias de pai, que fica difícil imaginar a vida sem a figura paterna. Inclusive, Alexandre Paz questiona isso. Fala o texto com eloquência, numa narrativa latente.
O espetáculo transcorre sobre as diversas fases paternas, fases vivenciadas por quem teve o privilégio de conviver com um pai. O monólogo “Cavalos” não deixa brechas para adentrar o quarto do solista sem encarar as análises. Os espectadores viajam juntos da adolescência à juventude.
Há também momentos ruins (angustiantes), porque o espetáculo expõe a convivência entre pais e filhos, e nem sempre são flores nessa relação, educar nunca foi uma tarefa fácil. Ama-se e deixa-se de amar a figura paterna no decorrer da execução da obra.
Em certo momento, o ator propõe uma reflexão à plateia, há espaço para todos e uma terapia em grupo naturalmente acontece.
O ator é grande, veste um figurino nada especial, mas oferece uma fotografia diferente. Ele se joga na plateia, se joga na narrativa, se entrega com alma ao trabalho.
O cenário conta com criatividade e os privilegiados em assistir a “Cavalos” têm a oportunidade de resgatar recordações há muito tempo guardadas.
Erros e acertos, sonhos, super-heróis criados ao redor do icônico pai. Será egoísta, ou egocêntrico, criar um ser perfeito?
A masculinidade, a repressão, a ausência e alguns estereótipos masculinos, construídos pela sociedade machista e patriarcal, são abordados com graça e às vezes, sem um pingo dela.
Há musicalidade no audiovisual. O texto fiel e real, recebeu relevantes críticas teatrais.
A menção a um dos maiores solistas do Brasil, Júlio Adrião, traduz o espetáculo: “A busca pelo pai, levantando uma série de questões, sem uma necessária resposta e, acima de tudo, sem medo dos clichês, dão o tom de honestidade e humanidade, que, com devido peso e leveza, proporcionam, a cada um dos presentes, um profundo mergulho, individual, de modo que o espetáculo é, não só um solo na performance do ator, como também um solo na afluição de cada espectador, que têm, cada um, a possibilidade de uma inesperada imersão em sua própria história”.
FICHA TÉCNICA
Direção: Nina da Costa Reis
Atuação: Alexandre Paz
Dramaturgia: Alexandre Paz, Nina da Costa Reis e Pedro Emanuel
Preparação Corporal: Michele Cosendey
Figurino e Cenografia: Nina da Costa Reis
Direção Musical: João Mello
Videomaker: Raphael Belarmino
Projeto Gráfico: Humberto Costa
Assessoria de Imprensa: Passarim Comunicação (Silvana Cardoso E. Santo)
Mídias Digitais: Mario Camelo
Gestão e Prestação de Contas: Martha Avelar
Produção: Fernando Alax
Idealização: Alexandre Paz e Nina da Costa Reis
Realização: Girassol Produções Teatrais
Intérprete de libras: Alexandre Paz
CAVALOS
Temporada até 28/3
Sábados e domingos, às 20h
Classificação: 16 anos
On-line e gratuito
Assista: Sympla/Zoom https://www.sympla.com.br/cavalos__1140352