Nave Mãe é um espetáculo que chegou sem grande estardalhaço, nada que chamasse a atenção dos amantes do teatro. Mas, assisti-lo, para a surpresa dos espectadores, todos deparam-se com o teatro político, como deve ser, na essência de sua existência. É o teatro do operário, do fabuloso Brecht, se movendo dentro de um corpo cênico.
Não se trata de uma produção, que ostenta grandiosidade, ou uma estética admirável, no entanto, a compreensão da dramaturgia é uma afronta às conquistas trabalhistas que perigam no cenário atual dos brasileiros.
Identificar o audiovisual como arte cênica é possível diante da atuação do ator Alan Pellegrino.
A impressão de que o ator vivenciou suas narrativas é certa, ele se apegou ao texto com lealdade, e faz acreditar se tratar de um processo autobiográfico.
O espetáculo aborda histórias de negros e indígenas até os dias atuais. Da escravidão trazida pela colonização à escravidão contemporânea, sabiamente esclarecida aos espectadores.
“Quando uma mulher indígena é assassinada, eu sempre penso: poderia ser minha mãe.
Quando um homem indígena é assassinado, eu sempre penso: poderia ser eu” (fala da peça)
A dramaturgia conta a história de um descendente indígena, o Guará. Assim como muitos outros, que saem de suas cidades em busca de oferta de trabalho e é enganado. Essa mesma narrativa constrói a obra desse protagonista, saído do estado da Bahia em busca de esperança.
Uma aula de história é dada nesse espetáculo, com clareza e fácil entendimento, às vezes fazendo questionar se é um audiovisual atravessado pelo teatro, ou um documentário de um país, que a cada dia se mostra mais hostil aos seus antecessores.
Embora o momento seja hostil, o ator tem notas de gracejo. A crítica do ator à escravidão parece tentar acordar a sociedade e aqueles que o assistem, causa perplexidade as informações trazidas e relatadas por ele, que nesses dias atuais tão nebulosos tornam-se imperceptíveis.
O ator explicita a verdade nua e crua da crueldade atual pela qual atravessam os mais miseráveis de um Brasil rico. É um mergulho às covardias implícitas, que uma parte da sociedade amarga e outra parte finge não ver.
Surge o questionamento: até quando? São trinta e cinco minutos, que passam rápido demais diante dos olhos e fluem como um rio, tranquilo. Um monólogo de fácil conexão. Além de ser um excelente trabalho, é também um serviço à sociedade.
Diante de um trabalho como esse, fica difícil deixar de reverberar o alerta aos cidadãos, que desnuda a verdade. Viva o Teatro e o artista cênico!
Infelizmente, em tempos sombrios, fica até difícil acreditar, que algo como “Nave Mãe” aconteça em terras brasileiras…
FICHA TÉCNICA
Idealização, dramaturgia e performance: Alan Pellegrino
Direção: Joelson Gusson e Alan Pellegrino
Diálogo Artístico: Maria Luísa Friese
Coordenação de Projeto: Sarah Alonso
Cenário e figurino: Joelson Gusson
Iluminação: GuigaEnsá
Preparação vocal: Jorge Maia
Produtor associado: Osvan Costa
Produção executiva: Máximo Cutrim
Assessoria de imprensa: Christovam Chevalier
Mídias sociais: Marianne Lorole
Programação Visual: Joelson Gusson
Fotos: Carol Nunes e Joelson Gusson
Filmagem: Ubuntú Produtora
Produção: Riquixá Invenções Artísticas
Realização: Dragão Voador
NAVE MÃE
Espetáculo On-line e gratuito
Temporada até 15/5
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=mMZMs_N2fPs
Youtube da Dragão Voador Produções
Duração: aprox. 35 minutos
Classificação: 12 anos
Foto Carol Nunes