Falar de Tônia Carrero, sem mencionar a beleza, seria um sacrilégio, mas esse pecado o audiovisual não cometeu! Aliás, vários erros comuns atuais, que o coletivo não cometeu, entre eles a minutagem que apresenta o espetáculo, nada de longas, que podem acabar sendo cansativas e causar desgaste à plateia virtual.
Sarcástica vem Lana Rhodes, atriz que encarna a diva, e tudo no cenário lembra Tônia.
Talvez, sinta-se a falta da vasta cabeleira loira, apenas isso, inicialmente. Nos últimos anos a bela Tônia aderiu ao loiro, que a deixava ainda mais resplandecente, provavelmente muitos se lembrem.
Mariinha, como era chamada pela família, tinha incontáveis atributos além de sua beleza, ao interpretá-la Lana tentou exatamente exaltá-los, características que vão muito além da imagem sedutora de Tônia Carrero. Mesmo encarnando a atriz e seus trejeitos, Lana não foi caricata e colocou sua personalidade na interpretação, foi perfeita ao respeitar espaços com delicadeza.
A performance da atriz se faz na mesma cadência que o bailar de uma pluma no ar, com sutileza. É uma delícia assistir uma solista charmosa e contundente ao mesmo tempo.
Lana encarna a diva com legítima lealdade, tanto nos olhares quanto nas falas. Sua expressão vocal caminha com o texto o tempo inteiro, numa linguagem clara, capaz de agradar a todos.
As cenas se alteram, assim como as indumentárias. Os figurinos são de uma elegância ímpar. A moda francesa incontestavelmente presente, de Yves Saint Laurent a Chanel, um banho de refinamento. Um trabalho sublime de Fernando Torquatto, que chancela entender muitíssimo bem do ofício. Especialmente sobre o tempo em que Tônia estudou Teatro em Paris, tudo adequado.
A caracterização? Cabelos, maquiagens… tudo além do esperado, de desalinhar os espectadores com sua beleza inegável, tudo distinto e aprumado demais. Palmas para Daniella Kobert pela transformação de Lana! Um trabalho primoroso e delicado feito por mãos, que usam luvas de seda. Há refinamento na execução, leveza!
Os objetos de cena remetem à época de Tônia, o espetáculo foi preciso nas escolhas.
Um audiovisual sedutor, inexistem palavras para desenhá-lo com precisão. Tudo tem um toque divinal e de glamour.
O texto caminha e conta toda a trajetória da atriz. A história de Tônia no teatro é extensa, sempre esteve acompanhada por grandes nomes, como Paulo Autran e Tereza Rachel. O elenco de fora para dentro e de dentro para fora, imensamente envolvido, todos excelentes artistas.
Lógico que ao fundo o piano dedilhado, com ímpeto de salientar a maravilha a que os espectadores assistiam, foi a escolha acertada de Camile Lago, irretocável!
A década de setenta entra com força, exuberante como foi, principalmente no figurino. Relembra as novelas, que alçaram Tônia ao reconhecimento artístico.
O corpo esguio e alongado da atriz a auxiliava nas expressões corporais, mais que invejáveis elegantes e divinais!
A dramaturgia não é densa, mas leve, carregada de exatidão. A história de Tônia contada com verdade. O texto eficiente agrada a todos e merece aplausos.
O teatro quando se faz, seja pelos meios que for, merece aplausos e quanto mais aplausos, melhor! Uma maravilha do dramaturgo Guilherme Gonzalez!
Tônia atravessou a ditadura e enfrentou-a, um exemplo para todas as mulheres. Ela também entendia a força do Teatro. Sua essência encantadora, talvez disfarçasse a agonia que carregava para manter sua beleza, talvez por imposição da carreira e do ícone que se tornara. Uma manutenção, muitas vezes, dolorida e agressiva. Mas a Natureza é sempre impiedosa, todos envelhecem, mas enquanto a grande diva envelhece e vai sendo, abruptamente, vencida pelo tempo, o audiovisual mostra cenas lindas de sua beleza e juventude.
Há pouco tempo, outra diva, Vera Fisher, sofreu essa cobrança pela “eterna juventude” em um maldoso comentário público e foi defendida por colegas de profissão. A cobrança por serem eternas beldades existe e é cruel por parte do público e da mídia. A exposição das atrizes é imensa e seu envelhecimento, que deveria ser, como para qualquer mortal, algo natural, passa a ser alvo de opiniões, o que é lamentável. Mas assim como Tônia, Vera sempre será Vera, uma miss, respeitável atriz, encantadora em qualquer idade e eterna!
“Tônia — A diva no espelho” é um espetáculo estupendo! Minutos preciosos para os fãs de Tônia e para amantes de Teatro. Uma belíssima e merecida homenagem!
TÔNIA — A DIVA NO ESPELHO
On-line e gratuito
Disponível até 31/7
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=G80Gvr4-Z5M
FICHA TÉCNICA
Atriz: Lana Rhodes
Dramaturgo: Guilherme Gonzalez
Diretor e Produtor Executivo: André Hawk
Assistente de direção e preparador da atriz: Kiko do Valle
Assistente de Direção: Lôu Caldeira
Direção de Fotografia: André Hawk e Rodrigo Ocampo
Câmera A: André Hawk
1º Assistente de Câmera e câmera B: Eduardo Kozlowski
2º Assistente de Câmera: Vinicius Scalzilli
Gaffer: Big Joe
Caracterização e Figurino: Fernando Torquatto
Maquiagem: Daniella Kobert
Assistente de Figurino: Alessandro Rey
Coloração: Marcos do Vale
Joalheiro: Carlos Rodeiro
Trilha Original: Edgar Duvivier