O Nordeste é e sempre será uma inspiração para os artistas brasileiros, e quando esses mergulham de cabeça e alma nessa cultura, tudo fica divino.
“Carregado de brasilidade, o enredo viaja até o interior do Nordeste para contar a história de quatro mulheres: Adelina, Antônia, Francisca e Gumercinda, prostitutas e donas de um bordel que recebem a visita de um forasteiro que vai abalar as estruturas do cabaré. Elas só não desconfiam que o sargento Malaquias de Jesus é o próprio Diabo, que aparece para roubar o coração das moças! As situações são apresentadas de maneira leve e cheia de borogodó, evocando o melhor da tradição teatral e cultural nordestina. O público vai reconhecer a exaltação à força da mulher batalhadora, os “quiproquós” e reviravoltas divertidíssimas. Há também a velha peleja entre o Coisa Ruim e Deus, que aqui no espetáculo é mulher e interpretada pela premiada atriz Vilma Melo, em uma Toda-Poderosa participação afetiva em off.” (Sinopse)
O espetáculo é lindíssimo, esteticamente é um verdadeiro mimo, minuciosamente montado.
E detalhe: é possível ver um trabalho de equipe fenomenal dos artistas envolvidos, no palco, na dramaturgia e na direção. Incrível a beleza desses fazedores de Cultura!
A beleza da cenografia vem de Taísa Magalhães, que trouxe rendas em murais enormes, transformados em casas, que representam um vilarejo, habitado pelas prostitutas, protagonistas do texto. Tudo lindíssimo funciona muitíssimo bem.
Cilene Guedes, Jacyara de Carvalho e Paula Sholl dão um show! São fogosas, sensuais, sentimentais e honestas, uma mistura de tudo! Envolvidas até os fios dos cabelos com o espetáculo! Pode-se até dizer, envolvidas como Anitta!
O figurino é assinado por Arlete Rua, que já esteve em grandes espaços, inclusive no SESC, deixa claro que seu trabalho não é uma expertise qualquer, e sim, competência bem gerenciada em seu ofício. Corpete, cores, babados, rendas, fitas e sianinhas, tudo remete o Nordeste, de cores e riqueza de arte. O trabalho todo é uma graça, a figurinista foi bastante assertiva, isso é inegável!
A peça apresenta as músicas da pernambucana Marinês. E quem foi essa mulher?
Por nascer em um domingo, Inês foi registrada numa segunda-feira, 16 de novembro de 1935. Criada na capital do forró Campina Grande, na Paraíba, viveu numa casa muito humilde no bairro da Liberdade, onde desde menina ajudava seu pai, Manoel Caetano, na fabricação de armas e munições para o exército e posteriormente para o cangaço. O que, aliás, evidencia o aprofundamento da turma, porque tudo leva à Caatinga, tem a influência de Lampião na estética do espetáculo, isso também é notório, foi feita certamente uma pesquisa de caráter idôneo.
Marinês, tem canções inesquecíveis e conhecida por muitos brasileiros.“Eu Sou Estopim”, por exemplo, regravada por Luiz Gonzaga e até hoje reproduzida em toda festa de forró tradicional. “Pisa na Fulô”, outro clássico, que todo nordestino sabe de cór!
Músicas que atravessam o tempo impetuosamente! A artista já esteve com grandes nomes, com Dominguinhos, Alceu Valença, Elba Ramalho, Chico César e também ao lado de Margarete Menezes, atual ministra da Cultura. Que chic!
Marinês cantou pela primeira vez, em um concurso de calouros da cidade, onde ouviu o anúncio no serviço de alto-falantes do bairro. Anos depois, em plena situação de miséria, ela descobriu outro concurso de calouros da Rádio Difusora da cidade, onde o prêmio de 1º lugar pagava cem mil réis em dinheiro e um emprego na rádio Difusora. Marinês, combinando com irmão mais velho Ademar Caetano um passeio despretensioso no centro de Campina Grande, se inscreveu no concurso.
O espetáculo é uma belíssima e merecida homenagem! O texto da Cia Bagagem Ilimitada (Jacyara de Carvalho e Pv Israel) é incrível, vivo e divertidíssimo. O artista Pv Israel, construiu seu próprio texto, com legitimidade e soube dar vida a seu personagem, impossível não gostar!
O teatro Claro Rio fez uma excelente escolha em abrir suas portas para este espetáculo, porque ele é uma delícia. Quem pode assistir no teatro Ipanema, pode agora imaginar o show de luzes e a qualidade de áudio de quem for assistir no Teatro Claro Rio! E é exatamente por isso, que essa crítica foi selecionada pelo Jornal Portal, mesmo tratando-se de uma reestreia. É um espetáculo de ponta, merece bis!
A primeira crítica do ano vem reconhecer essa obra, que durante a pandemia recebeu o Prêmio de Humor Fábio Porchat. Um musical carregado de brasilidade merece ter destacada sua grandiosidade!
A atriz Vilma Mello, deusa de ébano, primeira atriz negra a ganhar o prêmio Shell de Teatro, empresta sua voz, discute com o diabo, e conta com o visagismo da atriz Paula Sholl, que está simplesmente impecável.
O diretor, e também antagonista Jefferson Almeida, está iluminado nos dois papéis. Ator, diretor e produtor da Definitiva Cia. de Teatro. Imenso e intenso!
A peleja do diabo com o dono do céu, como canta o nordestino Zé Ramalho, é o conflito da obra, outras picardias gostosas de serem assistidas! Vamos nessa?
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Cia Bagagem Ilimitada (Jacyara de Carvalho e Pv Israel)
Direção / Colaboração dramatúrgica: Jefferson Almeida
Direção Musical / Preparação vocal: Deborah Cecília
Assistente de direção: Clara Equi
Elenco: Cilene Guedes, Jacyara de Carvalho, Paula Sholl, PV Israel e Jefferson Almeida
Participação afetiva: Vilma Melo na voz de Deus
Iluminação/Operação de luz: Felipe Antello
Cenografia: Taisa Magalhaes
Figurino: Arlete Rua
Visagismo: Paula Sholl
Músico Ensaiador: Raphael Pippa
Direção de palco/Camareiro: Júnior Israel
Consultoria de danças populares: Roberto Rodrigues
Costureira: Rute Israel / D. Jandira
Cenotecnico: Moisés Campos
Logo: Alluan Lucas
Designer gráfico: Davi Palmeira
Sonorização: Lucas Campelo
Microfonista: Ananda Amenta
Estúdio: Musimundi
Músicos da base: Violoncelo – Pedro Izar; Piano e Sanfona – Tibor Fittel
Violões – Debora Cecilia e Raphael Pippa; Percussão – Felipe Antello
Assessoria de imprensa: Rachel Almeida/Racca Comunicação
Produção Executiva: Jacyara de Carvalho/PV Israel / Denan Pettmant
Assistente de Produção: James Simão
Coprodução: L2C
Realização: Cia Bagagem Ilimitada
FURDUNÇO DO FIOFÓ DO JUDAS – UMA OPERETA POPULAR APIMENTADA POR MARINÊS
Temporada 18/1 a 1/2
Teatro Claro Rio
Rua Siqueira Campos, 143, 2ºpiso, Copacabana
Quartas-feiras, sempre às 19h30
Ingressos Plateia e frisa: R$ 100 e R$ 50 (meia)
Balcão R$ 80 e R$ 40 (meia)
Lotação 659 lugares
Duração 1h30
Classificação 16 anos
Venda de ingressos pela plataforma Sympla ou na bilheteria do teatro
Acesse: https://bileto.sympla.com.br/event/78470/d/168423
Bilheteria de Segunda a domingo, das 10h às 22h, inclusive feriados
Informações (21) 2147-8060