Estou há dias indignada com o caso da embaixadora das Filipinas responsável pelas agressões a sua colaboradora doméstica. Certamente que os maus tratos filmados não deveriam jamais existir nas relações laborais domésticas fosse qual fosse as circunstâncias. Acresço ainda, um agravante a meu ver, em virtude de a doméstica ser uma senhora, o que por si só já deveria motivar um tratamento mais comedido e respeitoso. Sim, porque com os mais jovens podemos até nos reportar de forma mais direta, prática, mas as senhoras são merecedoras desta empatia, que nos faz respeitar muitas vezes hábitos, trejeitos e opiniões peculiares a sua geração.
Sempre identifiquei, com relativa inveja, a cumplicidade existente entre o gênero masculino. De certa forma, isso me afastou das mulheres e desde nova tive muita dificuldade em ter amigas, do mesmo gênero que eu. No decorrer de minha vida, presenciei inúmeras demonstrações do quanto os homens eram e são unidos e empenhados em se defenderem mutuamente.
Já entre nós mulheres, com frequência, não existe este movimento que mais recentemente recebeu o codinome que utilizei no título: SORORIDADE.
Se não sabe ainda do que se trata, consiste na postura da mulher que apoia a outra, promovendo uma aproximação e compondo uma rede solidária, que é movida pelo sentimento de empatia e companheirismo. Temos todas inúmeras razões para querermos bem umas as outras e sermos, dessa forma, mais empáticas reciprocamente. Sofremos com os sintomas da menstruação, com o parto, com cicatrizes das cesáreas, com o machismo estrutural, com os estupros, com a castração exercida em nossas mentes desde a infância em relação às questões da sexualidade, com as jornadas de trabalho duplas, triplas… a lista não tem fim.
Como admitir uma atitude como a da embaixadora supracitada? Sororidade zero! É um não reconhecer o outro como um ser humano, como semelhante, o que já é um absurdo, mas entristece demais a incapacidade de reconhecer uma mulher como merecedora de uma identidade a mais conosco.
Na última matéria, falei da presença tão pequena da mulher na política brasileira e apontei o machismo feminino como uma possível causa. Talvez seja apenas mais uma das causas, nos falta e muito, a tal da sororidade. Precisamos competir menos e nos admirar mais. Entender, que invariavelmente, quer queiramos ou não, a sociedade nos colocou num mesmo pacote.
Julguemos menos a outra e nos empenhemos em concentrar nossa apreciação mais no que nos aproxima, do que no que nos afasta. Aproveito aqui para declarar meu amor, minha admiração a cada uma de vocês mulheres, por tudo que têm em comum comigo, pela certeza que tenho de sua luta, pela disposição em brigar, que as “guerreiras” como nós carregam!