Ela continua em plena forma cênica, e convoca os espectadores para o entendimento da história do Teatro, no teatro. E assim a obra vai ganhando forma.
“A atriz revisita seus personagens, criando diálogos imaginários com pessoas que influenciaram sua vida e sua arte, sem fronteiras definidas. Com cenas projetadas em seu corpo e estabelecendo um diálogo com a câmera e com o espectador, Ítala Nandi transita entre o passado, o presente e o futuro.” (Sinopse)
Apaixonante tudo o que é trazido, graças à tecnologia, mas com energias emanadas da arte.
As histórias de Ítala são prazerosas de ouvir e ainda mais por sua voz mansa, que parece criar a atmosfera necessária para que a conexão se estabeleça. Histórias biográficas da política e da vida da própria atriz.
Poderia ser um documentário —gênero que ela também entende — não fossem a taça de vinho e o vídeo artesanal projetado no corpo da solista.
Algo, que de alguma forma, encarregou-se de se autodenominar TEATRO. Aliás, Dionísio, deus das Artes Cênicas, é mencionado. Quando uma atriz do tamanho de Ítala se propõe a se apresentar em um audiovisual, cabe a cada espectador desfrutar do momento com a escuta aberta, porque a atriz não titubeia, ela vem com onipotência, com fúria e com sua voz absolutamente sedutora.
E daí conta-se as agruras do Olimpo, uma delícia. Ítala, que esteve ao lado de Borghi e Zé Celso Martinez, fundador do teatro Oficina, traz o teatro brasileiro e sua história, em um momento tão crucial para a Cultura.
Uma peça autobiográfica? Que seja! Pois, vale muito ouvir gênios cênicos!
A Jornada de um herói? Por que não?
Fazer Teatro em um país onde a Cultura e a arte não têm espaço é de uma pertinência imensurável, ainda mais quando uma mulher chega sem receios e usa dessa nova linguagem teatral, quando chega sozinha, com bagagens pesadas, histórias impactantes e também hilariantes, afinal eram todos tão jovens quando as asas do Teatro os tomaram…
E assim, com eles, o Teatro brasileiro criou uma roupagem nova. Mas olhares voltados aos grandiosos, Oswald de Andrade, que reconheceu a importância do Teatro, também está lá, nessa narrativa, que bate furiosa, como uma bateria de escola de samba, fazendo sambar no mesmo compasso os corações.
Nelson Rodrigues e Oswald de Andrade deveriam ser relembrados sempre, especialmente quando se fala de Teatro no Brasil, eles que foram verdadeiros dramaturgos brasileiros e reestabeleceram novos caminhos nessa arte.
Hoje é só um audiovisual, amanhã uma enciclopédia do Teatro, uma verdadeira Barsa para os estudantes das Artes Cênicas. Mais de uma hora e trinta de aula, de lembranças bem-vindas, de momentos pessoais, que fazem os espectadores compreenderem o passado, entenderem espetáculos que fizeram história, de momentos registrados com propriedade. E como não questionar a força dessa atriz e sua saúde mental?
Que sorte dos brasileiros!
Ela sorri, chora, conta e em sua performance porta-se como uma rainha com seu cetro, mas poderia ser como um rio também, pois deságua em lindíssimos lagos límpidos, com a serenidade que o brasileiro necessita nesse momento agonizante.
A cadência vocal é perfeita. Os olhares, que encontram outros, são magníficos.
Ítala envolve qualquer crítico de uma forma, que fica impossível saber, se era atuação, ou não. Impossível, não lembrar de Joana do Sobral, na novela de Jayme Monjardim, a atriz eternizada por uma personagem riquíssima, cheia de mistérios, ao lado do grande ator Carlos Vereza.
A defesa dos pretos do Brasil, o reconhecimento de sua importância, foi de uma beleza impecável, tudo por intermédio de Otelo, seu amigo de profissão!
São tantos grandes nomes atravessaram o espetáculo, um verdadeiro céu estrelado, que mantém o Teatro vivo e adentram pensamentos enquanto a atriz encanta com sua narrativa.
Ítala é resistência aos 79 anos, é e sempre será um ícone. Ela é sinônimo de força, ela é do povo. Uma atriz de Teatro, que não se aliena aos fatos e, exatamente por isso, continua sentada em seu trono, apegada ao “Tupi or not Tupi”, do eterno Oswald de Andrade, contestador até que a vitória chegue!
Linda e eterna, Ítala, a primeira mulher a levar a nudez ao teatro, brava durante a ditadura, nomeia certeira o diabo, “Bolsonero”, ainda afirmando à revista IstoÉ, que esse tal pensa com a bunda e deu o recado sobre o que fazer com seu revólver.
Ao SESC gratidão! Nesse momento obscuro, oferece um espaço à Arte, presenteia a todos com uma curadoria impecável, triunfante, vitoriosa! Uma instituição maior, muito maior que a própria Secretaria de Cultura, que anda cambaleante por este Brasil multicultural.
E como diz Ítala: coragem Brasil!
PAIXÃO VIVA
On-line e gratuito
Sesc em Casa
Classificação14 anos
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=pdPQfiX80BU&t=2289s
FICHA TÉCNICA
Texto: Ítala Nandi e Evaldo Mocarzel
Direção: Evaldo Mocarzel
Direção de arte: José Dias
Interpretação: Ítala Nandi
Fotografia: Felipe O’Neill
Produção e assistente de direção: Guilherme Scarpa
Assistentes de produção: Letícia Santos e Niaze Neto
Projeções e edição de imagens ao vivo: Christiann Fonseca
Assessoria de imprensa: ProCultura