Sair ou não sair do armário, eis a questão

Mesmo diante dos tempos duros que os brasileiros enfrentam, o Teatro parece estar na frente do front, encarando a guerra com toda a força que um soldado precisa. Usando de uma inteligência soberana para criar e emocionar espectadores cansados em suas casas. 

Com uma equipe de ouro o espetáculo “Rainha” transborda graça, alegria, análises, beleza, cor, realidade, por que não majestade?

Com um audiovisual de grande qualidade executado pelos profissionais Guto Garrote e Bruno Autran, impossível sentir insatisfação ao assistir à peça.

O texto do dramaturgo Guilherme Gonzalez parece provocador, se não fosse a realidade que essa comunidade vivencia. Pois, trata-se de uma sociedade que, impreterivelmente, macera sem piedade aqueles que seguem suas orientações sexuais divergindo das já definidas e aceitas por ela.

Um texto lindo, que acolhe a terceira idade, tão raro de se ver o tema nos espetáculos, principalmente a temática que aborda a velhice de um homem gay.

O monólogo conta a história do mordomo Felício do bairro Peixoto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que toma a inusitada decisão de ser madrinha de bateria de uma escola de samba. 

Mas o belo mesmo, é o percurso da vida do protagonista Felício, em sua narrativa, assim como a natureza de um rio que flui, mesmo com pedras a redefinirem outros caminhos, um afluente segue com precisão o curso que deve ser seguido. 

Com ousadia revela segredos obscenos, mas cheio de vigor, aumenta possivelmente a temperatura daqueles que o escutam.

E a junção do texto com o ator Sérgio Rufino culmina em glória. Sérgio simplesmente apresenta um dos melhores trabalhos desta quarentena. O texto parece cântico em seus lábios, a maquiagem lhe caiu bem, os figurinos apostados para a composição do personagem simplesmente despertam o reconhecimento de mãos preciosas envolvidas nesse trabalho primoroso.

Não, nenhum outro ator teria a presteza em fazê-lo com tamanha leviandade para alguns e não dimensionável perfeição para outros. Sérgio deixa sua plateia virtual em êxtase, isso é um dos louros colhidos pelo dedicado trabalho de inúmeras repetições que também leva a fadiga e inúmeros questionamentos sobre essa nova linguagem que o teatro cada dia mais desbrava.

O armário está ao fundo, evidenciando estar vazio, apenas plumas coloridas e antigos uniformes pairam por lá como lembranças. A penteadeira e o espelho são de extremo bom gosto, principalmente no “jogo de takes” dos profissionais envolvidos.

A direção de Márcio Macena é divina, a comunicação entre ele e Sérgio fica notável para o espectador. Nota-se seu olhar perfeccionista pelo que se vê na tela. Da maquiagem aos objetos utilizados para composição da personagem, da garrafa de vinho ao olhar do ator para a câmera, tudo com uma precisão aguçada. Trabalho de excelência!

Os movimentos de Gláucia da Fonseca fazem de Sérgio Rufino uma pena por alguns instantes.

A iluminação merece uma salva de palmas, em nenhum momento deixou de valorizar o ator em cena e os objetos no cenário.

Merecidamente vencedora do Festival Mix Brasil 2020, como melhor peça, assim como a “Ira de Narciso”, “Rainha” também deixará o rastro da sua glória!

Com enfoque em um público ávido por entretenimento de qualidade e emoção, a peça apresenta amplo leque de possibilidades para atrair um vasto e heterogêneo grupo de pessoas, visto que, além de despertar o interesse da comunidade LGBTQIA+ e simpatizantes.

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Guilherme Gonzalez  

Direção: Márcio Macena 

Atuação: Sérgio Rufino 

Direção de Movimento: Gláucia da Fonseca 

Iluminação: Rafael Pedretti 

Figurino: Carol Badra 

Direção de arte: Márcio Macena  

Vídeo: Estúdio Tocha  

Direção de Imagem: Hudson Senna  

Direção de Fotografia: Jackson Ono 

Iluminação: Rodrigo Alves (Salsicha)  

Produção e câmera: Guto Garrote  

Edição e câmera: Bruno Autran 

Fotos: Hudson Senna  

Arte gráfica: Luciane Nardi 

Edição Teasers: Bruno Zuppone 

Mídias Sociais: Beatriz Miranda 

Assistente de direção no on-line: Rodrigo Risone 

Costureira: Benedita Calistro 

Produção e Gestão: Morena Carvalho 

Realização: Luna Produções Artísticas 

RAINHA

Dias 12,13, 18, 19 e 20/4, às 20h30

Ingressos: Gratuitos ou colaborativos

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https://www.sympla.com.br/rainha__1178469 

Foto divulgação