Não, não tem nada a ver com musicalidade ou circo! Mas, acredito que todos nós devíamos ter conhecimento deste assunto, de preferência antes das escolhas profissionais e/ou acadêmicas que somos levados a fazer ao longo de nossas vidas. Na verdade, inicio este texto em meio a um momento de profundo conflito interno. Para todo escritor, o papel e as palavras são uma catarse, que promovem o alívio a uma infinidade de sentimentos desconfortáveis, minimizam as dores e multiplicam incontavelmente os sentimentos positivos que nascem na alma.
Desde muito nova, arrisco dizer que já na infância e na pré-adolescência, era notório em mim uma disposição vespertina para tudo. Fosse para os estudos, para as leituras, tanto é que a maioria da minha educação fundamental se deu no turno da tarde. Lembro-me que uma vez ganhei um jogo que tinha uma lanterna pequena de brinquedo e eu a levava para a cama, onde por baixo dos cobertores eu a acendia e lia crendo piamente que passava desapercebida. Certa vez um psicanalista renomado disse a minha mãe que era o meu “relógio biológico”. Não entendi muito bem aquilo e segui minha vida, no entanto era notório para mim o quanto eu “funcionava melhor” na parte da tarde. Quando adulta, fazia faxina, lavava roupas, estudava e fazia uma infinidade de tarefas entre à tarde e à noite. E sigo assim. Obviamente que com a pandemia meus horários ganharam uma flexibilidade que os compromissos laborais e acadêmicos impediam. Atualmente, com o retorno às atividades eu consegui adequar minha rotina para tardes e noites, com exceção de um dia: terça-feira. E tenho sofrido bastante por isso. Inconformada em não conseguir comparecer às aulas presenciais às terças-feiras pesquisei sobre o assunto. E neste processo conheci o Ritmo Circadiano, que dá título a este texto.
Este ciclo é o conjunto de mudanças físicas, mentais e comportamentais que ocorre no espaço de 24 horas. A maioria dos seres vivos, desde o homem até micróbios e plantas passam por esse processo. A luminosidade é a principal impulsionadora do processo de produção de melatonina, um hormônio natural, que teria o seu ápice de produção teoricamente entre 2 e 4 horas da madrugada. Lógico, que existem outros fatores, que colaboram com a produção da melatonina, horários de compromissos, idade, temperatura do corpo, tipo de alimentação e realização, ou não, de atividades físicas. Mesmo assim, ainda era muito pouco o que a Ciência comprovava sobre o ciclo, até que em 2017, os geneticistas americanos Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young (Hall e Rosbash também são cronobiologistas) conquistaram o Nobel de Medicina e Psicologia graças a identificação que fizeram, por meio da codificação de uma proteína, que uma vez acumulada à noite, é utilizada ao longo do dia. Segundo eles, o cronotipo dos indivíduos, possui três tipos de comportamento principais. O que faz com que a humanidade seja dividida entre pessoas com cronotipos matutinos (25%), intermediário (50%) e vespertino (25%).
O que difere entre esses grupos é o horário de liberação da melatonina. Portanto, se como eu, você leitor tem dificuldade em acordar cedo, prefere fazer algumas atividades nos períodos da tarde e noite, não se sinta um preguiçoso. De acordo com a pesquisa dos cientistas supracitados, cada pessoa tem um cronotipo e saber qual é o seu tipo fará com que você entenda o seu Ritmo Circadiano e descubra qual o momento de extrema disposição e alta produtividade você tem ao longo do dia.
Saber isso representa ter uma compreensão de qual a predisposição natural que cada um de nós tem, entre picos de energia ou de cansaço. Sendo assim, uma rotina elaborada respeitando esse quesito pode significar uma produtividade muito maior, qualidade de vida e de sono, que farão a diferença na rotina diária. Com base nisso, decidi parar de sofrer com minha inadequação circadiana e respeitar meu “relógio biológico”. Sem culpas, sem traumas, e com aceitação, afinal, pessoas com Ritmo Circadiano vespertino são tão capazes quanto as demais, apenas têm seu sistema de automanutenção em janelas temporais diferenciadas. Somos um mundo plural, assim como o título dessa coluna. Se identificou? Conhece alguém com essas características? Compartilhe!