Há quantas décadas e presidências ouvimos essa frase? Quantas promessas e manifestações! Gerações e gerações. Mas a gente é osso duro de roer, porque a gente apanha, toma na cabeça, ouve um bando de ladainha, e ainda se comove com belos discursos, especialmente quando acreditamos neles. E foram tantos discursos, tantos novos programas de governo e operações federais. Flagrantes, denúncias e delações. Muita sujeira varrida para debaixo do tapete. E sempre aparece alguém disposto a fazer a tal faxina e a ganhar louros por isso. Cá entre nós, um jogo de empurra e de interesses, que nunca convenceu. E o povo brasileiro segue feito gado, sendo marcado.
A gente não desiste, nem cansa, a gente ainda berra. Mas tem muita coisa a passar a limpo, em todas as camadas da pirâmide. Ninguém fica ileso. Nem nós. Cargas acidentadas tombadas nas estradas são saqueadas, veículos estacionados em lugares proibidos e sobre as calçadas, guardas subornados por motoristas flagrados cometendo infrações, votos comprados por sacos de cimento e areia, portas de escolas congestionadas por veículos em filas duplas e triplas, motoristas imprudentes ao celular, a lei do silêncio desrespeitada, “gato” de água, luz e tv a cabo, recibos comprados para abater na declaração do imposto de renda, falsos atestados para justificar ausência no trabalho, condução arriscada por motoristas alcoolizados, imóveis declarados com valores mais baixos do de compra para pagar menos imposto, mesas e cadeiras nas calçadas impedem o ir e vir do pedestre, velocímetros adulterados para tentar vender o carro melhor, notas adulteradas para cobrar maior reembolso das empresas, falsa declaração da própria cor da pele para ingressar na universidade por meio do sistema de cotas, produtos piratas comercializados facilmente – há quem os venda e quem os compre, filhos ensinados a mentir a idade para não pagar passagem, carteiras de estudantes falsificadas para pagar meia-entrada nos cinemas, shows e teatros, material do trabalho levado para casa como se fosse pessoal, declaração fraudulenta ao regressar ao país – tem dinheiro para viajar, mas nunca para pagar as taxas sobre os produtos adquiridos no exterior acima do limite permitido, pouca gente devolve aquilo que encontra e não lhe pertence – afinal, “achado, não é roubado”, não é mesmo? 89 mil depositados em cheque na conta, todos sabem de onde veio e ninguém diz nada, ainda manda calar a imprensa!
Entretanto, queremos sim, passar o país a limpo. Queremos mudar tudo que vemos aí de errado, queremos que as coisas funcionem bem e sejam fiscalizadas, desejamos nossos direitos preservados e respeitados. Mas como cidadãos temos direitos e também deveres. Precisamos cumprir com a nossa parte. Se a intenção é passar a limpo, que tal começarmos por nós mesmos? A faxina deve ser feita primeiro dentro de casa, e no próprio quintal. A boa faxina se faz de dentro para fora. Mude o que está errado nas suas atitudes, e se não há absolutamente nada errado nelas, continue assim, servindo de exemplo aos demais. Aqueles que, colocados pela maioria, lá estão, em Brasília, nada mais são, que o reflexo de nós mesmos, o reflexo da sociedade em que estamos inseridos. Apenas, reflita.