Professor ou carrasco

Numa época em que a censura começa a tomar formas, o Teatro ainda se mostra livre com suas asas aladas, mesmo depois do Ministério Público ter reconhecido como ato de censura o cancelamento do espetáculo Caranguejo Overdrive do dramaturgo Pedro Kosovski, no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. E os artistas cênicos continuam defendendo suas ideologias em seus ofícios, pois não existe teatro apolítico.

A peça “O substituto” traz um professor ditador, que assusta, ao impor o que acha certo com um tom de voz ameaçador e nada amistoso, apresenta a sua versão dos fatos em uma sala de aula a seus alunos. Os espectadores são os alunos!

O personagem entra em sala de aula ao som do hino nacional com uma câmera em mãos filmando, de imediato causa constrangimento e uma sensação agoniante. E nessa rigidez, segue o espetáculo. O solista Alexandre Lino usa de toda sua experiência cênica e não ameniza em sua narrativa.

Lágrimas rolam quando uma professora por meio de um áudio repete a frase do Darcy Ribeiro: “A crise na educação é um projeto!”

Falido Brasil que nesse momento enfrenta um dos piores momentos de sua história, governado por mãos militares, bem semelhantes ao professor Humberto Arthur Emílio Ernesto Baptista encenado por Lino.

A falta de educação é voraz, leva vidas. O incrível o texto de Daniel Porto deflagra competente dramaturgia, evidencia fatos, pior, fatos bem atuais.

O cenário básico condiz com a frieza do docente, a iluminação, a cereja do bolo, e o figurino de acordo, em nada contrasta com a proposta do roteiro.

O ator Alexandre Lino é brilhante e se encarrega de fazer voar o tempo do espetáculo, pois tudo acontece no tempo exato, com precisão, sem mais e nem menos.

A diretora Maria Maya acompanhou todo o processo construtivo da peça e deixa claro que “só a arte mesmo para tornar a realidade tolerável”.

Três corajosos artistas, revisitam um passado, que deveria ter sido enterrado de vez, mas não pode jamais ser esquecido. Definitivamente, Darcy não foi ouvido…

Mas a peça instiga, inquieta, aflora sentimentos de justiça, faz o público perceber que é ele quem dá as cartas e ainda há tempo de defender ideias e lutar para mudar.

Teatros e salas de aulas são as maiores armas contra a ignorância!

Atitudes nobres devem ser reconhecidas e a grandiosidade do ator Alexandre Lino carimba por intermédio de seus personagens apresentados ao longo do isolamento social por meio das Lives gratuitas, sua preocupação em partilhar conhecimento e dar voz a sanidade no meio de toda essa loucura, e sempre orienta seu público a ficar em casa. Sua arte diverte, faz rir, emociona e transmite suavidade apesar do contexto pesado.

A arte escolhe e buscou Alexandre de sua terra natal, para dar voz a arte e aos artistas do Nordeste brasileiro e durante este período pandêmico, trabalha veementemente entre os atores e espectadores em busca de ajuda ao povo e aos artistas nordestinos. 

Uma história que enche de esperança e orgulho. Orgulho dos artistas brasileiros, que enfrentam as dificuldades com a força do trabalho e ensinam que “subversão” é não ter misericórdia do próximo!

Salve os artistas brasileiros, salve o Teatro nunca apolítico!

FICHA TÉCNICA

Texto: Daniel Porto
Direção: Maria Maya

Solo: Alexandre Lino
Iluminação: Paulo Denizot
Cenário e Figurino: Karlla de Luca
Direção de Produção: Alexandre Lino
Programação Visual: Folha Verde Desing
Fotografia Artística: Janderson Pires
Assessoria de Imprensa: July Caldas
Idealização e Realização: Documental.Cia e De Paula Produções Artísticas.

O SUBSTITUTO
Temporada até 28/3

On-line e gratuito
Sextas, sábados e domingos, às 20h.
Assista pelo YouTube, canal da Documental Cia
https://www.youtube.com/channel/UCw9demHsO-Tu0ZaGkVZyKHA
Duração 50min

Classificação 14 anos