Tenho até arrepios quando escuto essa expressão! Quando será que foi inventada? Deve fazer muito, muito tempo. Tenho muitas dificuldades com essa expressão e principalmente com a conduta que ela deseja imprimir como sendo a “correta” para uma mulher. Sofri demais pela minha dificuldade natural em atender ao clamor do que essa expressão pretende.
Lembro-me bem, que ainda no antigo ginasial, criei uma confusão enorme no colégio de freiras em que estudava e que tinha acabado de se tornar misto, porque não queria fazer as disciplinas dirigidas às meninas, que contemplavam a culinária, o bordado, o crochê, e os afazeres domésticos. Eu queria estudar com os meninos a datilografia e as técnicas comerciais. Foi uma árdua luta que travei, primeiro para convencer minha mãe a me defender, e depois para manter o meu próprio posicionamento na escola.
Na adolescência, já no antigo segundo grau, eu era tão feliz com o espaço do meu caderno de matérias destinado somente às anotações sobre o campeonato anual de Fórmula I. Anotava tudo nele, pontuação dos pilotos, das equipes, descontos, tempos de voltas. Entretanto, a pressão social é forte e acabei me sentindo quase coagida pelas minhas amigas a abandonar esse hobby.
Depois chegando à juventude, fui apresentada ao salto alto, que odeio até hoje! Até uso um ou outro salto plataforma, mas sinceramente, salto fino, para mim, ou qualquer sapato que não deixe meu pé confortável, estou fora! Simples assim: para meus lábios sorrirem preciso que o sorriso nasça no meu pé! Conforto é a minha moda para vestir e calçar! Tudo isso por vezes destoa do que a sociedade espera de um comportamento feminino.
Quanto ao cabelo vivi por pequenos períodos vários tipos de escravidões, quando não havia a escova progressiva, nunca me adaptei a possibilidade de fazer uma escova e não poder pegar chuva. Gosto de liberdade, até fiz umas progressivas durante uns dois ou três anos, mas o que me apraz é de verdade ser eu mesma, por completo! Molhar a cabeça todas as vezes que me banho. Gosto de falar do que tenho vontade, conversar sobre experiências sexuais com a mesma naturalidade que falo da receita culinária. A sujeira invariavelmente está na mente de quem se choca, de quem julga, por considerar o sexo sujo, imoral. Sexo é vida! Tudo tem maneira, lugar e espaço para ser dito, independentemente do gênero que diz.
Se homens conversam abertamente, porque mulheres não deveriam? Se homens, muitas vezes, tem o desejo de transar no primeiro encontro, por que mulher não teria esse desejo? Se homens podem ser expansivos, populares, simpáticos e sedutores, por que as mulheres não podem? Podem ser mal interpretadas? Sugerir uma intimidade ao interlocutor? Fiquem tranquilos que também me apropriei do prazer de conceder os cartões amarelos e vermelhos, para utilizar uma linguagem mais compreensível ao outro gênero!
Odeio o joguinho feminino que leva a mulher a se reprimir em seus desejos e vontades verdadeiros para não parecer “fácil” de acordo com o que uma sociedade hipócrita estipulou. A postura da mulher e do homem deve ser uma só: verdadeira, honesta, íntegra, autêntica, já que todos nós somos seres únicos e livres. Uma mulher não pode ser julgada por uma postura diferenciada, assim como, uma vida sexual liberal, por exemplo, não pode anular o valor no desempenho dos papéis familiares, acadêmicos ou laborais. Somos todos reais merecedores de sermos compreendidos, isoladamente, em cada um dos perfis que exercemos concomitantemente: pais, filhos, amantes, estudantes, profissionais e indivíduos produtivos de uma mesma sociedade.