Falar da peça “Maria do Caritó” não é nada difícil, tendo em vista as mãos arteiras que se unem para a execução da obra. Ao começar por Newton Moreno, dramaturgo de excelência, que embora detenha conhecimento sobre o Teatro no mundo, se deleita na imensidão do seu Nordeste, com graça e devoção. Fica impossível não ver a força dessa região tão brasileira nesse trabalho.
Newton parece defender sua cultura com fervoroso amor e respeito e isso é visível e alcança a todos que o assistem, pois é nesse movimentar de sentimentos que o público se vê emaranhado.
Diante desse fato, a crítica torna-se emocionante. Newton convoca os artistas a mergulharem em seu universo, por meio da poesia de seus escritos. Nas sandices culturais peculiares a essa região.
Há um olhar que comove a todos, diante a mulher madura, que ainda não seu casou. Todos são tomados pelas artimanhas desse sensível e inteligente autor. A atriz Lilia Cabral se transformou em Maria do Caritó e encantou o Brasil, virou até filme. Na realidade, ela que já é uma atriz fantástica, superou todas as expectativas. Bela, forte, competente, tem total domínio das artes cênicas e brinca…
Lilia, durante a pandemia, atuou também em um dos melhores espetáculos on-line, ao lado de sua filha Giulia Figueiredo, um sucesso de audiência virtual e crítica.
O espetáculo participou do Festival internacional de Teatro Fita, realizado em Angra dos Reis, verdadeiro representante do Teatro brasileiro. E nesse papel, Lilia encarna bem a mulher que ainda deseja se casar e a defende com beleza singular. Lindo de assistir.
Seu par, Leopoldo Pacheco, é um artista completo e não menos elegante quando está no palco. Uma presença forte, em papéis que parecem sempre desafios complexos, ele atinge êxito. Leopoldo chega para a grande maioria de seus admiradores em um papel antagônico, trazendo aos telespectadores certa rejeição, mas foi tão bem executado, que fica difícil desperdiçar o profissional, que é imenso quando se fala em Artes Cênicas. Durante a pandemia o ator esteve presente no virtual, com a Leitura performática em “A Barba do Pai” e ainda apresentou “Dez por Dez” no teatro Unimed, mais um trabalho de excelência do artista. Dirigido por Guilherme Leme em um solo curto, impactante. Nesse espetáculo ele é potente e pertinente, uma delícia de assistir. Não dá para esperar dele nada que não satisfaça o espectador.
O figurino tange com a leitura de Newton, um casamento gracioso. Colorido como o Nordeste.
O cenário é divertido e colorido também, com tecidos floridos inconfundíveis. Estampas que reportam à região.
E como não falar da querida atriz Dani Barros? Ela sacode a poeira, diverte a plateia por inteiro.
Vem de noiva, vem de galinha, de diabo, um vulcão no teatro. Ela é atriz de teatro, também está na TV e está por aí, sempre mergulhada de alma em seu ofício, para sorte daqueles que a assistem.
O espetáculo é de 2010 e pousa em 2021, em um momento em que a sociedade muito precisa, trazendo leveza e graça. E está disponível on-line e de graça!
Vale muito a pena correr lá, para matar a saudade das festas do interior, das típicas festas juninas, das noites de frio e quentão, quando todos se confraternizavam ao redor da fogueira, com botas e cabelos enfeitados com laçarotes, “pintinhas” pintadas no rosto e caixinhas de fósforos como nó de gravatas. Sem metáforas, fácil de conectar, uma mediação prazerosa!
“Sou vida difícil e dura
Sou Nordeste brasileiro
Sou cantador violeiro, sou alegria ao chover
Sou doutor sem saber ler, sou rico sem ser granfino
Quanto mais sou nordestino, mais tenho orgulho de ser
Da minha cabeça chata, do meu sotaque arrastado
Do nosso solo rachado, dessa gente maltratada
Quase sempre injustiçada, acostumada a sofrer
Mas mesmo nesse padecer eu sou feliz desde menino
Quanto mais sou nordestino, mais orgulho tenho de ser”
(Bráulio Bessa)
MARIA DO CARITÓ
On-line e gratuito
Assista:
https://espetaculosonline.com/adulto-4#fa9f38ae-fa86-4424-817f-88e41cbbad46
FICHA TÉCNICA
Ano de Produção: 2010
Texto: Newton Moreno
Direção: João Fonseca
Direção de Produção: Maria Siman
Elenco: Lilia Cabral, Leopoldo Pacheco, Fernando Neves, Silvia Poggetti e Dani Barros
Cenário: Nello Merrese
Figurinos: J.C Serroni
Iluminação: Paulo César Medeiros
Direção de Movimentos: Kika Freire
Música original: Alexandre Elias
Produção Executiva: Gabriela Mendonça
Realização: Primeira Página Produções Culturais e Lilia Cabral
Registro Vídeo-gráfico: Chamon Audiovisual