Texto formidável, não se pode reverberar nada menos que isso da obra do mestre literário Guimarães Rosa e sua maior preciosidade “Grande Sertão Veredas”.
O monólogo “Grande Sertão: Veredas Riobaldo” levou quase seis anos para ser executado, o solista para construir seu personagem fez uma imersão na literatura. Logo, surgiu a coragem de convidar o célebre diretor, que inteligentemente o acolheu.
O texto poderia ser apenas mais um nas mãos de qualquer outro, no entanto, o bom trabalho vocal do artista Gilson de Barros torna a obra sedutora. É possível enxergar Riobaldo contando sua história e travessia, travessia essa, que todos deveriam fazer.
Admirável o sotaque adotado pelo ator para interpretar Riobaldo, uma construção bem elaborada.
O ator sentado em sua namoradeira com seu chapéu de couro nas mãos e sua moringa de barro, coloca o público de frente com o protagonista de Guimarães Rosa, em idade mais madura.
O figurino de linho dá ao personagem elegância, as alpercatas de couro ajudam a construir o personagem nordestino, defendido com garras ferrenhas pelo ator Gilson de Barros.
A grandiosidade do clássico literário é razão suficiente para colocar a montagem na agenda obrigatória. Guimarães Rosa foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura no mesmo ano em que faleceu, impedindo sua provável premiação. O mineiro romancista, diplomata e médico Guimarães Rosa orgulha o país como grande representante do regionalismo brasileiro, no Movimento Modernista, considerado por muitos o maior escritor do século XX.
A leitura e audição dessa obra fazem trabalhar o processo criativo, pois permite redesenhar no imaginário os cenários vivenciados por Riobaldo em sua famigerada trajetória pelo sertão e durante a narrativa do monólogo, um verdadeiro teatro de palavras transporta ao universo da obra.
O trabalho do ator e do seu diretor envolve o espectador por sua beleza. Vale refletir a respeito dos amores de Riobaldo. Uma bela reflexão feita pelo diretor Amir Haddad, numa interessante análise imparcial das relações com a maturidade adquirida pela vivência do passar dos anos.
Quem não adoraria poder sentar-se ao lado de Guimarães Rosa para indagar e questionar sobre seu personagem e o fato da não aceitação do amor sentido por Diadorim. Terá sido preconceito?
Quantas vezes se deixa de amar por questões hipotéticas que não levam a nada? Quem não adoraria ter a oportunidade de refletir a respeito com o grande escritor?
O espetáculo esteve on-line e agora volta no virtual para sorte daqueles que ainda não imergiram na obra de Guimarães Rosa.
O ator e seu diretor ensaiando por meio de Lives abertas aos espectadores foi uma bonita interação da arte com seu público, neste momento tão difícil da pandemia.
Além de temporadas on-line, “Grande sertão: Veredas Riobaldo” esteve no Festival de teatro Midrash também pela plataforma virtual.
O diretor Amir Haddad dispensa comentários, suas experiências e conhecimentos continuam irrigando o cenário cultural e é exatamente por isso que há arte, flores e beleza nos teatros. Haddad é uma pérola preciosa com a qual a arte cênica brasileira pode contar. Em breve, ele estará alçando voos merecidos, por outros estados desse Brasil de Rosa!
A montagem estreou no Teatro Sergio Porto, no Humaitá, uma semana antes da pandemia, com casa lotada, logo em seguida veio o deferimento para o fechamento dos teatros, na cidade do Rio de Janeiro.
Espetáculo indicado para aqueles que admiram trabalhos de excelência.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS RIOBALDO
Temporada até 25/5, às 19h
Gênero Narrativa dramática
Classificação 16 anos
Duração 70 minutos
Ingressos Sympla: www.sympla.com.br/riobaldoteatro
FICHA TÉCNICA
Da obra “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa
Adaptação e atuação: Gilson de Barros
Direção: Amir Haddad
Cenário e figurinos: Karla de Luca
Iluminação: Aurélio de Simoni
Programação visual: Guilherme Rocha e Mikey Vieira
Fotos e videos: Renato Mangolin
Produção executiva e assessoria de imprensa: Júlio Luz
Realização: Barros Produções Artísticas