Sou de uma família católica. Nordestinos tendem a ter mais fé em Deus, apesar de tanto sofrimento e injustiça. Até certa idade, na medida do possível (ou seja, quando eu não sumia pra jogar bola nos campos da zona oeste do Rio), minha mãe me levava para as missas.
Fiz primeira comunhão e participei de um grupo de pré-adolescentes de uma das maiores igrejas católicas de Curicica, bairro onde nasci, fui criado e vivo até os dias atuais. Nesse período, eu fui um pouco religioso. Lembro que me sentia mal por ouvir rock, pois um padre me falou que alguns rocks eram coisa do capeta. Deus me livre.
Com 14 anos, o rock entrou na minha vida de uma vez por todas e a culpa baixou o tom até se calar. Por coincidência (ou não), parei de ir à igreja e segui assim, desde então. Depois do rock, outros gêneros musicais fizeram minha cabeça. Adotei a música como religião. Toda semana passou a ser santa para mim. Todos dos dias.
Um dia desses, repensando minhas crenças, conclui que sou agnóstico. O tal “ateu cagão”, segundo Jô Soares. Depois me senti ateu. Depois não sabia mais e mandei esse negócio de conclusão para o inferno. Livrai-nos.
Esses dias, li que todos os males do mundo terminam em silêncio. Estou salvo. Música é minha religião. Amém.