Mãe de Santo desmistificada

Chega Vilma Melo, esplendorosa, é possível descrevê-la assim. O que falar dessa atriz?

Falar da sua maestria no palco, da sua maturidade artística, da sua devoção, das suas expressões faciais e corporais sempre bem executadas, sua voz bem imposta. Nada falta. Sempre forte e exuberante em seus papéis. Vilma é uma atriz negra, que causa admiração em tudo que faz, é preciosa para o Teatro carioca. Atua em diversos campos do teatro, em esferas são infindáveis, trata-se de uma profissional potente, seria um descabimento não se reter em elogios e reconhecimento.

Durante a pandemia trabalhou e atuou com esmero usando a nova linguagem virtual, não só aceitou falar por intermédio de telas com os espectadores, como foi muito bem aceita por eles. Quem acompanha a atriz, conhece sua caminhada. Interpretou um dos grandes personagens de Shakeaspeare, trouxe fragmentos do espetáculo Sorriso Negro, fez os espectadores rirem, propositalmente, do que é lastimável. Apresentou um dos maiores prêmios do Teatro e agora segue sua trajetória de sucessos, colocando mais este, na lista de trabalhos legitimados por seu talento. Em “Mãe de Santo”, desmitifica as ialorixás.

Um universo, ainda subjugado por alguns, exposto de maneira magnifica nesse espetáculo. Seu idealizador e produtor Bruno Mariozz teve a iniciativa de apresentar uma Mãe de Santo para Vilma Melo, daí nasceu a ideia de trazer para o teatro a Mãe de Santo, aquela mesma que atriz conheceu, sem estar paramentada, trajando apenas jeans e camisa de malha, apressada para tomar um voo para a Europa, onde faria uma palestra, como qualquer outra profissional em seu ofício. Essa mesma mulher auxiliou a catalogar peças para o Museu do Amanhã, sua colaboração para a cultura brasileira também é incontestável. E assim nasceu o espetáculo produzido pela Palavra Z, que desde o início da pandemia abriu espetáculos lindíssimos e premiados para uma sociedade em isolamento.

O audiovisual contou com a ilustre Helena Theodoro na elaboração do texto. Graduada em História, a escritora integra a coordenadoria de Experiências Religiosas Tradicionais Africanas, Afro-brasileiras, Racismo e Intolerâncias Religiosas (ERARIR), do Laboratório de Histórias das Experiências Religiosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A iluminação de excelência é feita por Anderson Ratto. A sonoplastia e a música são mérito da dupla Wladimir Pinheiro e Vilson Almeida, que causam impacto. Tudo bem elaborado. Renata Mizrahi também se funde ao projeto e traz ainda mais vigor à obra. Uma construção belíssima, que leva alguns espectadores a análises, outros ao entendimento.

A sociedade ainda carrega um parecer cercado de secretismo relacionado às religiões de matriz africana. Já passou da hora de desmistificar, reconhecer e respeitar. E esse papel o Teatro assume com dignidade e leveza. Alcança a todos, educa e alimenta almas sedentas por cultura e conhecimento. 

Mãe de Santo é uma obra esclarecedora, que tende a acabar com achismos irrelevantes.

Uma obra elucidativa, fidedigna e atraente, executadas pelas mãos de profissionais rebuscados e exigentes. Um ponto, uma cachoeira, um orixá e toda beleza, que somente um país laico pode compreender por meio das Artes Cênicas! 

Salve Jorge Amado, criador dessa emenda!

MÃE DE SANTO

On-line e gratuito
Temporada: até 25/7

Sextas, sábados e domingos, às 19h
Assista: https://www.youtube.com/watch?v=66JY9C3J5ww
Duração: 40min
Classificação: 12 anos

FICHA TÉCNICA

Argumento/texto: Helena Theodoro
Direção: Luiz Antônio Pilar
Com: Vilma Melo
texto: Renata Mizrahi
Direção de arte Clivia Cohen
Assistente de direção: Ruth Alves
Direcao de Fotografia: Daniel Leite
Trilha Sonora: Wladimir Pinheiro
Sonoplastia: Vilson Almeida
Iluminação: Anderson Ratto
Visagismo: Estúdio Belezura
Programação visual: Patrícia Clarkson
Design gráfico e comunicação: Rafael Prevot 

Assistente de mídias Sociais: Ana Nerys

Assessoria de imprensa: Alessandra Costa 

Direção de produção: Bruno Mariozz 

Produção e idealização: Palavra Z Produções Culturais