Luis Lobianco vem como um concorde, com força total, para interpretar sete personagens divertidíssimos! Numa narrativa atual, recheada de expertise, apresenta “Macbeth”, o personagem de Shakespeare, ele mesmo! De certo o maior dramaturgo de todos os tempos teria uma síncope se o assistisse. Mas não seria uma síncope de desgosto, mas de gargalhadas infindáveis, o filho do luveiro certamente iria adorar. Não há dúvidas de que a senhora Heliodora também, já que adorava o dono do “Globe Theatre” e as comédias despretensiosas!
Lobianco tem o dom de fazer rir, de se transformar em tudo, num verdadeiro show de metamorfoses. E em “Macbeth 2020” não foi diferente, sete artistas relatam suas vivências teatrais. A maldição de Macbeth cruzou o Atlântico e atracou em portos brasileiros para alegria de todos! Tá amarrado! Evoé!
Hélio de Gales, Litller John, Rejane Galdán, Melchiades Veronese, Carlo Strazzer, Brigitte Fausta e Su Weismann são os artistas que conduzem a picos risíveis. É impressionante a variedade de personagens interpretados pelo ator, cada um com sua peculiaridade, narrativa e identidade própria, fica evidente a grandiosidade cênica desse ator. Os takes tomam as telas com personagens diferentes, partituras corporais, vozes e expressões faciais distintas, um show de criatividade!
O texto contribui e cada personagem leva a um mergulho hilariante distinto. Uma personagem conta que mandou espectadores para casa, que uma atriz recusou um papel de personagem mais velha e assim segue o texto… com Medéia, Jocasta, Antígona e até um almoço com Getúlio Vargas. Todos em volta de Macbeth, numa estética diferente, com novas técnicas, a reutilização de material e de alguma forma o teatro pulsa. Pulsa quando falta o fomento, se debate para manter-se vivo, como peixes sufocados na beira dos riachos em busca de oxigênio, como um credo que atravessa gerações.
O Coletivo Buraco Show, formado no Buraco da Lacraia, último espaço do verdadeiro cabaré no Rio de Janeiro, durante a pandemia tem executado astuciosamente obras de excelente qualidade, por artistas que provam do dissabor de um governo ineficiente e negligente também ao destratar e desmerecer a arte, a cultura, os artistas, a saúde… a lista é imensa!
Mas esses artistas, mesmo desgastados e cansados, parecem abençoados e protegidos pelo “Deus do Teatro”. Dionísio certamente os revigora e os inspira a alimentar os palcos sagrados, com excelência e devoção!
Quem imaginaria que um encontro de colegas criativos, em um inferninho na Lapa, há doze anos atrás, poderia se tornar um coletivo tão frutífero, cuja beleza resulta em obras como essa?
Uma bela homenagem aos artistas do Teatro. Todos caricatos.
Filmado no Teatro Poeira a obra ganha um saudosismo relevante, como não relembrar bons momentos em um dos espaços mais importantes do teatro carioca?
Cadeiras vazias… esse é o cenário, que há de ficar na memória dos espectadores, não só pela ausência do público, mas também pela capacidade criativa que o artista carrega, que supera o momento difícil, com a finalidade de alimentar a sociedade de cultura e entretenimento, tão necessários hoje.
O texto de Rafael Souza Ribeiro é de uma jovialidade, de um primor, sem tensão, muito ao contrário, descontraído e inteligente, a cara do novo teatro.
A iluminação e a filmagem de incontestável excelência.
A direção de arte de Sidnei Oliveira mais uma vez assertiva. Figurino e caracterização de uma criatividade sem igual. Perucas de papel e sisal desfiado.
O elenco deixa de ser só o solista para ser todos os envolvidos, porque de certa forma, todos estão no palco.
Impossível ser feliz sozinho, assim cantava Jobim… entre linhas a poesia aparece meio desapercebida. “Ninguém faz teatro porque ama, faz teatro porque tem uma missão… “
Assista até o final, e cuidado com as bruxas de “Macbeth 2020”, elas aparecem por lá, com um figurino digno de louros aos profissionais, que parecem se desafiarem!
MACBETH 2020
Temporada até 30/5, às 21h
Gratuito e On-line, 24h por dia
Adquira acesso digital YouTube pelo Sympla http://www.sympla.com.br/macbeth2020
Classificação: 12 anos
Duração: 40 minutos
FICHA TÉCNICA
Atuação: Luis Lobianco
Direção Geral e Idealização: Luis Lobianco
Direção de Produção: Claudia Marques
Roteiro: Rafael Souza-Ribeiro
Direção de Áudio Visual: Thiago Sacramento
Direção de Arte: Sidnei Oliveira
Direção Musical e Trilha Original: Lucio Zandonadi
Direção de Ator: Tatiana Tibúrcio
Atores Convidados: Letícia Guimaraes, Simone Mazzer, Pedroca Monteiro e Sidnei Oliveira – Cia Buraco Show
Assistente de Direção: Anax Altamiranda
Produção Executiva: Rogerio Garcia
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Programação Visual e Artes Gráficas: Rafael Paschoal
Fotos de Still: Anax Altamiranda
Fotos: Pablo Henriques
Parceria: Teatro Poeira, TV Zero e Cia Buraco Show
Realização: Fábrica de Eventos