Esse título poderia ser de um texto de história, da dependência do Brasil em relação aos Estado Unidos durante o governo de Juscelino Kubitschek. Mas é sobre a eleição de Joe Biden e Kamala Harris (JK), os rumos que aguardam o Brasil e seus brasileiros.
Primeiro ponto, até agora o presidente do Brasil não deu parabéns, “Wellcome”, um “joinha” ou um “tamo junto” ao novo presidente eleito nos EUA. A subordinação ao Trump é tão grande, que nem derrotado ele consegue se desvencilhar do “vira-latismo”. Antes fosse esse o maior problema, mas a questão central é que: governar um país é fazer relações políticas, é representar uma nação e seu povo, e isso não inclui agir como quem não dá bom dia para o novo vizinho, posto que o Brasil não é um condomínio. É um Estado, democrático, autônomo, economicamente forte, com diversidade social, cultural, líder político-econômico na América Latina e isso implica que seu chefe aja de acordo com os interesses do país, não de seus gostos pessoais.
Segundo ponto, as mudanças de orientações estadistas, que virão com a eleição de JK, nos sugerem a necessidade de adaptações na política externa e interna brasileira para manter e estabelecer novos padrões de acordos comerciais, como por exemplo, a já declarada guinada ecológica norte-americana. É notório deste governo estabelecido no Brasil o descaso com a política ambiental, vide todo processo de descrédito das queimadas na Amazônia, no Pantanal e as reiteradas tentativas de desregulamentações das políticas ambientais, historicamente desenvolvidas no país. Talvez isso prejudique as relações bilaterais com o novo governo estadunidense.
Terceiro ponto, espero fielmente que as eleições nos Estados Unidos, na Bolívia e em outros países, que se desvencilharam da onda populista autoritária direitista, incitem uma virada progressista nas eleições brasileiras, tanto em 2022, quanto este ano. As eleições municipais estão silenciosas, o foco continua sendo o executivo, e a possibilidade de uma “nova política” “contra tudo que está aí”, “fazer diferente”, que no fundo é mudança para o mesmo. Sem esquecer o profundo apagamento, esquecimento e desdém pelo legislativo, tão caro e importante para governabilidade. Formular políticas e governar é articular consensos com o legislativo, mas ninguém nem lembra dos vereadores, deixa para anotar qualquer número na última hora. Será que podemos confiar nesses ares internacionalmente refrescados?
Quarto ponto, nem se fala sobre o impeachment do presidente peruano, da influência das eleições bolivianas, da mudança constitucional no Chile, da Nicarágua, e pouco até do Amapá sem luz há dias, mas a mídia passa o dia todo acompanhando as eleições estadunidenses, comemora vitória e ainda analisa a semiótica do terno da vice-presidente eleita nos EUA, a dificuldade dela de ter relacionamentos e o som da sua risada. A que podemos chamar esse processo? Que tal, subserviência com leve toque de machismo?
Para concluir, é bem verdade que a eleição de JK não é o melhor dos mundos, ainda se admite uma política de direita com foco nas empresas privadas, capitalismo financeiro e concentração de renda típica dos Estados Unidos, mas derrotar Trump é uma grande vitória! E abre sim, caminhos para repensar o Brasil e seu governo, suas eleições e os rumos políticos. Caminhos para pensar de fato um projeto de Brasil autônomo, participativo, que considere a diversidade do povo, que converse e colabore com a América Latina.