Cá estou pensando em muitas coisas enquanto olho para a janela do ônibus. Os outros passageiros seguem o mesmo caminho. Até os que estão no corredor, de pé. Muita gente fala que olhar pelos vidros dos veículos coletivos não inspira pensamentos. Tinha até comunidade no saudoso Orkut sobre isso, e se está no Orkut é verdade. Contudo, o que faz pensar não é o quadrado envidraçado. O que faz pensar é estar parado.
“Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes”. Semanas atrás, escrevi uma crônica aqui no Portal falando que a melhor coisa para uma cabeça cheia era se movimentar fazendo atividade física. Citei a frase de Raul Seixas “quem pensa, pensa melhor parado” em tom de discordância e agora vou discordar de mim mesmo e voltar a concordar com Raulzito. Isso mesmo, quem pensa, pensa melhor parado. Ê, cronista desorientado, sem rumo.
Com esses dias devoradores de horas que vivemos, sobra pouco tempo para parar e pensar. Por isso, as janelas de ônibus, a pausa antes de dormir, o cochilo pós-almoço de domingo, se tornam paradas de reflexão, cantinhos do pensamento.
“Pare, pense, brinque e mexa”, canta Fred Zero Quatro no meu fone de ouvido enquanto o ônibus 348 vence a Linha Amarela rumo ao centro da cidade, saindo da minha Curicica. E eu olho pela janela. As pessoas e os carros correm demais.
Desço do ônibus ainda pensando no que pensava. Ideia dentro de ideia. Agora estou em movimento, mas ainda penso. Penso demais. Penso que não devo pensar só na hora que o mundo, cada vez mais dos negócios, me dê uma folga. “Livre pensar é só pensar”, falava, escrevia, desenhava e pensava Millôr Fernandes. Não deixe para amanhã o que você pode matutar hoje.
Não é à toa que a janela do ônibus reflete. Todavia, um monte de outras coisas reflete, instiga, medita. Toda hora é hora de pensar. Pare e pense nisso. Eu parei um pouco e pensei nessa crônica. Você deve conseguir pensar em algo melhor. Parado como um passageiro ou em movimento como um ônibus.