É Teatro, mas quando a cortina se abre é como se um livro de Contos de fadas se abrisse a sua frente, como comentou um dos espectadores, com razão, “é um espetáculo suntuoso”, impossível negar tal observação.
“Iolanta — A Princesa de Vidro” é realmente uma obra-prima, daquelas que desacreditamos estarmos assistindo, principalmente diante da crise instalada no setor cultural, entre as produções e os artistas brasileiros.
Na peça, tudo parece um sonho a partir do terceiro sinal. De frente a um cenário perfeito, desenhado com perceptível devoção, riquíssimos detalhes e de uma beleza inesquecível. Glauco Bernardi foi exímio em sua criação.
Os artistas apresentam-se com indumentárias riquíssimas, elaboradas pela figurinista Karen Brusttolin, que soube sonhar alto, tanto quanto Glauco, casaram-se diante do que estava proposto para esse projeto. Karen está em um momento especial da carreira, pois aparece em fichas técnicas com assiduidade, e não é difícil entender o porquê, suas criações são belíssimas e sempre conectadas às propostas. Ela dessa vez, traz vestimentas de malha e couro, que não atrapalham em absolutamente nada a desenvoltura e evolução cênica dos artistas, que dançam e saltam durante os atos. As botas, também desenhadas por ela, em total harmonia com as roupas. As cores fechadas trazem um erudito nato.
A iluminação também está um arraso, desenhos de luz da profissional Ana Luiza Mlinari de Simone compõem lindamente cenas surpreendentes, ainda mais quando a fumaça entra em cena e valoriza os feixes de luz. A mistura devora e deixa qualquer um boquiaberto. Notável ficha técnica, constituída por mãos potentes e abençoadas por sapiência imensurável.
Os que conhecem o Teatro sabem da maestria do diretor Daniel Herz, que sabe muito bem dançar conforme a música, um camaleão disfarçado em roupagem humana. Dani, como é carinhosamente apelidado, mais uma vez mostra a sua competência. Não deixou passar desapercebida sua saudade dos palcos e do seu ofício. Daniel vem sem limites, como sempre sua marca registrada são os movimentos corporais, que dão o dinamismo certo para seus espetáculos, ele bebe de uma fonte inesgotável de criatividade. Ele utiliza das expressões corporais e exige do artista, sempre com um olhar generoso, pois entende bem, que por meio dessa entrega, convence a plateia em todas as suas direções.
O palco está em movimento em quase duas horas de espetáculo e não cansa o espectador. Um musical que deixa adultos e crianças impactados e conectados, pois é notável o silêncio da plateia, a concentração do público e atenção dos pequenos a tudo. Daniel é exatamente o que um espetáculo precisa, uma mão conhecedora, um olhar crítico que encanta a todos, um homem ilimitado do Teatro Carioca.
Vanessa Dantas e Anna Paula Secco são da trilha sonora desse musical mágico, escrito com caneta de ouro, pois trata-se de uma obra trabalhosa, um espetáculo cantado. As profissionais souberam tirar da ópera russa “Yolanta”, de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, textos condizentes. Sem arranhões foram artistas brilhantes em suas criações. A responsabilidade de reproduzir uma obra de 1892, estreada em São Petersburgo, não é lá tão fácil, haja coragem para o feito! No entanto, elas esbanjaram coragem e tudo deu certo. Viva!
“Iolanta” é um deslumbre de história, um conto lindo criado pelo irmão de Tchaikovski. Com mensagens belíssimas, de que nem tudo os olhos podem ver: o calor do sol e o aroma das flores apenas podem ser sentidos, e para a plateia isso fica em evidência quando a princesa Iolanta nos ensina. Amor não se enxerga, se sente.
“Justamente por não saber que lhe falta algo, a Iolanta representa um dom além dos sentidos. Por ser cega, ela explorou profundamente a beleza do mundo invisível. Ela se comunica com a Natureza, fala a língua dos pássaros, das flores”, conta Vanessa Dantas.
O sublime amor é algo que todos aprendem com essa obra, vai além que do que se pode ver, é inexplicável, não é nada manipulável, apenas sentido com devoção, são descobertas inesperadas, como age o tal amor. A história conta o amor imaculado, sem desculpas pequenas, um conto tão ingênuo, que poderia ser mais real.
O artista Tiago Herz faz um trabalho lindo, de corpo e de expressão facial, impressiona como Floriam. Belo! Leandro Castilho é o narrador da história, que entra com um objeto de cena belíssimo: um carrinho de realejo, que mais parece uma escultura, uma obra de arte. Leandro entra confiante e conquista a plateia. Kiko do Valle, apresenta o pai de Floriam, brinca nesse espetáculo, faz com que todos soltem boas gargalhadas. Incrível, apaixonante e pode-se dizer: imenso! Chiara Santoro está no elenco, e um rouxinol desse, dispensa qualquer comentário! As irmãs Viamonte certamente nasceram para os palcos. Lindas e talentosas! Sofia trouxe humor com legitimidade e delicadeza, tal como uma boneca de porcelana!
Todos os artistas cantam ao vivo, vozes que fazem vibrar corações e poltronas! A curadoria do Centro Cultural Banco do Brasil foi assertiva ao escolher “Iolanta” e abrir suas portas para uma obra belíssima, que merece todos os aplausos fervorosos e gritos de bravo que recebe!
Flores vermelhas ou brancas a cada profissional dessa obra, que soube mostrar a todos presentes que o valor das coisas não está no que se vê, mas no que se sente!
IOLANTA — A PRINCESA DE VIDRO
Temporada até 13/3
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Teatro II
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, RJ
Sábados e domingos, às 16h
Informações: (21) 3808-2020
Ingressos: R$30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Ingressos na bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 20h
Ingressos pelo site: www.eventim.com.br
Classificação livre
Duração: 80 min.
FICHA TÉCNICA
Libreto: Vanessa Dantas, Ana Paula Secco e Wladimir Pinheiro
Texto original a partir da ópera russa “Yolanta”, de Tchaikovsky: Vanessa Dantas e Ana Paula Secco
Música e letras originais, adaptação musical: Wladimir Pinheiro
Direção: Daniel Herz
Direção musical e arranjos: Wladimir Pinheiro
Direção de movimento: Daniel Herz e Esther Weitzman
Elenco: Caio Passos, Chiara Santoro, Kiko do Valle, Leandro Castilho, Mariah Viamonte, Marino Rocha, Saulo Vignoli, Sofia Viamonte e Tiago Herz
Músico: Pedro Izar
Cenário: Glauco Bernardi
Figurino: Karen Brustolin
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Desenho de som: João Gabriel Mattos
Preparação vocal: Chiara Santoro
Assistente de direção: Fernando Queiroz
Operador de som: Arthur Ferreira
Microfonista: Adriana Lima
Costureira: Vera Lucia dos Santos Costa
Comunicação visual: Bruno Dante
Assessoria de imprensa: Paula Catunda
Mídias sociais: Guilherme Fernandes
Fotografia: Caique Cunha
Maquiagem: Bruno Alsiv
Direção de produção: Pagu Produções Culturais
Produção executiva: Fernando Queiroz
Gestão administrativa – financeira: Natália Simonete – Estufa de Ideias
Assistente financeiro: Pedro Henrique Cavalcante – Estufa de Ideias
Patrocínio: Eletrobras Furnas e Centro Cultural Banco do Brasil
Realização: Marcatto Produções, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal. O projeto conta com a Lei de Incentivo à Cultura
Iolanta no Instagram: @marcatto_producoes