Uma atriz quando tem fome fazer, mergulha em dimensões desconhecidas pela maioria dos seres e possibilita a seu personagem estéticas jamais imaginadas, intriga o público tamanha sapiência ao trazer ao palco tamanha grandeza. São segredos divinos entre a atriz e sua arte, beira o místico, que faz a plateia flutuar em estado de êxtase.
Trata-se de Patrícia Selonk, a fera em forma de atriz, absoluta nas Artes Cênicas, ela ganha o Brasil com suas nada efêmeras concepções, eternizando-se nas memórias.
Hamlet é um espetáculo clássico, que continuará lotando as salas de teatro, e não poderia ser diferente. São mais de duas horas de espetáculo, imperceptíveis, pois toda expertise do elenco e dos profissionais envolvidos na produção e na técnica da montagem resultam numa perfeita execução.
Uma obra-prima que dispensa apresentações, um espetáculo robusto, majestoso, sucesso de crítica e de público, que não poderia ficar de fora desta coluna, já que é uma honra poder falar do Teatro brasileiro e do que os artistas brasileiros são capazes de realizar, além de trazer aos leitores uma das obras shakespearianas de maior bom-tom da história.
Um espetáculo premiadíssimo, por reconhecimento, um trabalho de excelência.
Quanto as indicações, seria uma larga extensão de linhas, sem contar os demais espetáculos impecáveis da Armazém Companhia de Teatro, que sempre apresenta obras do mais alto nível à sociedade.
Hamlet é a maior obra do dramaturgo inglês William Shakespeare, o filho do luveiro, o favorito da rainha Elizabeth. Ele, que de maneira inteligente lutava contra o autoritarismo dos ditadores de sua época, e essa dramaturgia fala sobre um golpe vivenciado pelo rei da Dinamarca — qualquer semelhança mera coincidência…
Depois de alguns anos, houve mudanças no elenco, entre elas, Clara Santanna, que interpreta Ofélia, claro que a atriz brinca no palco. Ela utiliza a sua voz para cânticos soberanos. “Hi Lili Hi Lo, Ev’ry time we say goodbye” e “There’s a lull in my life”. Lindíssimo!
Além de trajar um vestido longo com um rufo elisabethano, que alimenta a beleza dessa peça.
O cenário chama muito a atenção dos espectadores, tudo acontece por intermédio dele. A aparição do pai de Hamlet, com uma belíssima interpretação em vídeo feita pelo ator Adriano Garib. Que também manifesta a imensidão da obra!
Em algumas partes do texto, enquanto Patrícia Selonk traz versos arrebatadores, a história sórdida dos golpistas acontece por detrás de uma parede de ferro com janelas, que evidenciam todo o panorama dos antagonistas.
Sergio Machado dá vida a Claudius, o usurpador do trono, uma interpretação forte e precisa.
“Hamlet é o príncipe da Dinamarca. Seu pai morreu repentinamente de uma doença estranha e sua mãe (Gertrudes) casou-se com o irmão (Claudius) do falecido marido, na frente de toda a corte, depois de apenas um mês. Hamlet tem visões de seu pai, que afirma que seu irmão Claudius o envenenou e exige que o filho se vingue e mate o novo rei, seu tio e padrasto. Hamlet se finge de louco para esconder seus planos e, no meio deste processo, vai perdendo o controle sobre sua própria realidade.” (Sinopse).
Não há um arranhão nesse trabalho, algo concebido com beleza, contemporaneidade e óbvio, com uma dimensão artística fantástica e para sorte de todos, a obra ainda está nos palcos.
Não há como não mencionar uma cena, onde um relógio antigo com metrônomo é utilizado como objeto de cena, e por meio dos ruídos emitidos Patrícia atua e se movimenta de acordo com o tilintar — Tic-tac, Tic-tac —, o que insinua a loucura de Hamlet, em um movimento corporal simplesmente arrebatador.
Seria maravilhoso adentrar nos bastidores de todos os espetáculos e vivenciar um pouco mais dessa beleza cênica que esse coletivo apresenta. Todos os artistas do Teatro deveriam colocar em suas agendas essa obra, para aprender mais e para compreender como se faz Teatro, como tudo é possível! Principalmente os novos coletivos!
FICHA TÉCNICA
Direção: Paulo de Moraes
Tradução: Maurício Arruda Mendonça
Elenco: Patrícia Selonk, Sérgio Machado, Jopa Moraes, Isabel Pacheco, Clara Santhana, Daniel Braga e Felipe Bustamante
Música Original: Ricco Viana
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Carla Berri e Paulo de Moraes
Figurinos: Carol Lobato e João Marcelino
Design Gráfico: João Gabriel Monteiro e Jopa Moraes
Vídeografismo: João Gabriel Monteiro
Fotografias: Mauro Kury
Assistente de Produção: William Sousa
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio: Secretaria Municipal de Cultura / Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro – FOCA
HAMLET
Últimas apresentações
Sábado, 17/9, às 19h
Domingo, 18/9, às 18h
Segunda, 19/9, às 19h
Espaço da Cia Armazém, na Fundição Progresso
Rua dos Arcos, 24, Lapa, Centro
Ingressos gratuitos via Sympla
Em 23/9, às 19h, na Arena Fernando Torres
Rua Bernardino de Andrade, 200, em Madureira