Penúltimo ano do primeiro quarto do século XXI. Primeiro dia do ano. Como de costume, é comum as pessoas refazerem seus votos, suas promessas, encherem seus corações de esperança, fazerem planos, estabelecerem metas, não sou diferente. Vivo esse misto de sentimentos que vão (re) surgindo a cada virada de ano. No entanto, há uma diferença: a cada ano, temos menos tempo para alcançar nossos propósitos. Não que isso seja necessariamente ruim. Pelo contrário, pode ser um gancho motivacional para sermos a melhor versão de nós, que pudermos ser.
Tivemos um ano de 2022 atípico, que nos assustou com a Omicron em seu início, mas graças à Ciências nos devolveu a virada (superlotada) em Copacabana.
Decepções e alegrias no esporte e igualmente na política. Catástrofes climáticas, consequência do nosso desrespeito à mãe natureza. Guerras covardes, que atingem inocentes e levam outros tantos ao “front”, enquanto líderes estão conjecturando e reivindicando direitos que acreditam ter.
O Brasil, teve aumento nos feminicídios e, inadmissivelmente, seguimos como o país que mais mata LGBTQIA+. Até a expressão da fé tem sido cerceada, atacada e alvo de intolerância religiosa. E tudo isso me faz refletir sobre quem somos.
O que a humanidade pretende? Onde erramos? Onde acertamos? Certo é que o tempo é breve e assim como o ano que termina todos nós teremos um fim. E a cada ano que inicia, gastamos um que acaba de terminar. Nada faz sentido se não for para contemplar o ato de “ser”, de ser alguém melhor a cada ano.
Abro as redes sociais e me deparo com uma tendência péssima ao julgamento, ao juízo de valor. Tudo vira polêmica. Uma foto, uma roupa, um desabafo, uma fala… Enfadada disto tudo. Quero usar meu novo ano em prol de me tornar melhor pro mundo. Não forçando ninguém a aderir aos meus pensamentos, mesmo porque não existe o certo ou o errado, mas entendendo que cada um de nós é uma construção. Que as crenças e convenções nos atingem invariavelmente e muitas vezes passa-se uma vida defendendo valores que acreditamos ser nossos, e que na verdade nos foram impostos. Com consciência, ou não, somos todos “corpos dóceis” como disse Foucault e por trás dessa docilidade esconde-se a disputa pelo poder.
E nós, que poder temos? Temos, mas não nos deixam saber. Envolvem-nos numa trama muito bem arquitetada e quando nos damos conta estamos nos desentendendo, nos agredindo entre nós mesmos, desmerecendo o que de mais valioso existe em nós: a humanidade. Somos todos humanos, pertencentes a uma única raça. Que desde sempre foi segmentada entre os que mandam e os que obedecem. Seja qual for o regime, ou o tempo histórico, haverá sempre esta divisão. Somente a Educação e a Cultura, poderão nos levar a beber em fontes que abrirão nossos olhos. A arte é especial por isto. Mas não me refiro a arte com um conceito colonial. Entendo a arte como toda e qualquer expressão de sentimento de qualquer povo. Com igual valor. Consegui enxergar isso a vida toda? A resposta é não. Tanto que a minha antiga versão provavelmente (se tivesse condições) teria ido ao Louvre, sem antes olhar o artesanato Marajoara. Não desmerecendo o renomado museu, mas destruindo uma hierarquia elitizada, que subestima um povo em detrimento a outro.
Por isso talvez ainda nos falte o verdadeiro amor pela nação que nos pariu. Talvez por isso, ainda nos escondamos atrás de personalidades e mitos. Precisamos nos orgulhar de fato de quem somos, somos o indígena, o negro e o branco, e precisamos lutar pela igualdade dessas três etnias em tudo. Esta luta não consiste obrigatoriamente em militância, mas precisa iniciar na intimidade da individualidade de cada brasileiro. Será que nos incomodamos quando não vemos a representação do indígena e do negro com igualdade em todos os stratos sociais? Ou nos acostumamos com isso uma vez que os primeiros foram quase dizimados e os outros estão enquadrados numa categoria laboral que nos serve?
O que eu desejo para nós? Que sejamos mais atentos, que valorizemos mais os povos, que nos conformaram. Que reivindiquemos mais a representatividade, que não apenas assistamos as desigualdades econômicas, sociais, étnicas, de gênero e do que mais for. Mas sobretudo, que tenhamos a consciência de que tudo começa por nós.
Portanto, este ano, quero acompanhar cada político em que votei. Quero entender que meu papel de cidadã não se resume a urna. Quero ser melhor para mim e para o outro. Amar mais, me aproximar de minha fé (seja ela qual for), gastar menos, reciclar mais, reformar roupas, não ser acumuladora e olhar para o guarda roupa sempre pensando que em algum lugar do mundo alguém está com frio e em outro, paradoxalmente o oceano se vê entupido de lixo têxtil. Não levaremos nada material também neste ano, mas as melhorias que fizermos em nossa construção biopsicosocial, permanecerão conosco! Que 2023 portanto, seja um “novo” ano novo!