Perto do céu e do purgatório. Esperar é constância. Esperar uma vida melhor. Esperar um ônibus vazio. Esperar um ônibus. Esperar. Esperar. Esperar. Esperar o carnaval. Esperar o baile funk. Ninguém é todo de ferro. Nem carro alegórico, nem palco de show.
A vida é ruim até quando chove no chão. Quando chove é que complica mesmo. Os sonhos deslizam pela encosta e racham na base. Mas os sonhos voltam. Inteiros. Por algum lugar, por algum motivo, os sonhos voltam. E são eles quem jogam o astral para cima, para o alto, para todo o morro e sua gente feliz e triste, como a vida que pinga diariamente. A vida é boa também. Depende da hora.
A gente é boa sempre. Ótima. Toda hora. Dança no chão dos contratempos. Reza na cara dos inconvenientes. Se ajuda. Se protege. Se completa. Se governa e se ilumina. A alegria em meio aos problemas parece contraditória. No entanto, pode ser uma forma de luta. Ser feliz avizinhado de contrariedades é um ato revolucionário.
Mais um se perdeu. Mais dois. Mais três. Mais tantos. Contudo, tanto tentamos encontrar um caminho melhor. Um caminho de paz. Um caminho para o céu – que fica tão perto. No alto do morro e na fé da gente.
Dá para ver o mar, infinito de possibilidades, e a vala comum a céu aberto. Tudo pertinho. É um cartão postal e um cartão real. Cada abrir de olhos é um crédito para seguir. Tentando, sem muita ajuda de quem pode e com tanto apoio de quem menos tem, seguir para o alto e além.
É a favela em frente ao mar. É a cidade partida. O cartão postal em cima do esgoto. É a beleza e a exclusão. Não tem que ser assim. Dá para mudar. Precisa mudar. A vida tem que valer. Sempre. Para todos. Mas os que mais precisam, precisam mais.