Metrô lotado. Mal consigo me segurar. Mas nem preciso, não há espaço para cair. Gosto de olhar as pessoas nessas situações. As pessoas são muitas. Com a discrição que minha cara de bom moço me concede, observo sem ser recriminado.
A viagem é rápida, mas longa. Isso nem é uma frase complexa. Estou indo para longe. Um casal não parece estar indo muito bem. Ele tenta falar algo, ela desvia a rota do assunto para uma rua sem saída.
Um grupo de homens fala mal de um colega de trabalho. Duas mulheres trocam elogios. Uma idosa está de pé. Uns garotos estão sentados no chão.
Uma moça, roupas velhas, olha para o nada. Parece triste. É uma afirmação perigosa, eu sei. Toda intuição é perigosa.
A viagem está cansativa. A cada estação é um grupo grande que sai esbarrando com violência e uma nova leva de pessoas que chega com ainda menos delicadeza.
Pisaram no pé. Tomei uma braçada no rosto, empurrão pelas costas, dor no braço. Não, não estava jogando bola. Ainda estou no metrô. Segue o jogo.
Olho para a moça triste. Ela está olhando para o nada. O nada cheio de pessoas. Sem prefácio, ela sorri. Um sorriso sem causa. Uma revolução possível.
Minha estação chegou. Minha e de tantos outros. As coisas melhoraram. Na plataforma, consigo andar, tem mais espaço, novos ares. Deu vontade de sorrir, também.