Uma vez, quando eu era repórter de um jornal esportivo e cobria o Vasco, ligamos para o treinador do time à época, que estava de folga no dia, para checar uma informação muito importante que toda a imprensa esportiva corria atrás, e ele disse que estava comendo um peixe dentro d’água, que não tinha tempo para o papo. Sim, comer peixe demanda tempo. A sociedade atual não nos permite comer um peixe em paz.
Esses dias, na casa da minha mãe, comi um pescado delícia, mas não pude apreciar o alimento numa boa, porque tinha outros compromissos pós-almoço. É fast food demais para o meu gosto. Que Netuno nos livre desses mares, digo, desses males.
A maré, realmente, não está para quem quer viver com menos pressa, no balanço da marola. Já tinha a impressão que a vida estava rápida demais, mas nesse pós-pandemia estou sentindo tudo ainda mais ligeiro. O dia com 24 horas não dá mais conta e a conta não fecha.
A moda agora é chamar os grandes empresários, esses caras que vivem na correria máxima atrás de dinheiro, de tubarões. Para eles, tempo não é dinheiro. Porque tempo para eles é pouco, mas dinheiro, os caras têm aos cardumes. Porém, não sobra muito tempo para gastar, né? Tá nervoso? Vai pescar.
Em uma corrida (essa palavra que saiu dos esportes e veio para as nossas sedentárias vidas) num carro de aplicativo, o motorista me disse que o tempo dele era dinheiro. Eu disse “mas se o dinheiro fosse tempo?”. Ele respondeu: “aí, a gente gastava tempo para ter dinheiro”. Concluímos que daria no mesmo.
Voltando à vaca fria, digo, ao peixe quente, não dá para apreciar esse alimento com pressa. É preciso tirar as espinhas, sentir o sabor. Deixa para engolir andando o hambúrguer do McDonald’s. Falando nisso, o Mc Fish saiu do cardápio. Descobri, porque na Semana Santa do ano passado fui com uns amigos na empresa do Ronald e um deles pediu um Fish, pois não podia comer carne. O atendente riu e informou que esse alimento havia sido tirado do barco.
Não dá mesmo para comer peixe no desespero dos tempos modernos. Você pode acabar com uma espinha entalada no pescoço. Aí, pode não ter tempo de ser salvo. Uma tia minha sempre conta que quando criança, no interior do Nordeste, quase morreu quando se engasgou com cuscuz e peixe. Engolia rápido demais. Teve que beber muita água, rapidamente, para escapar. Certo estava o então técnico do Vasco, se alimentando de peixe frito e tomando banho de mar enquanto a imprensa se afogava em trabalho – sem relógio à prova d’água.