Espetáculo cearense ‘Egoísta’ debate etarismo, no Sesc Tijuca

O solo protagonizado pela atriz Ana Marlene passeia pelas impressionantes memórias de Jô Feitosa, uma mulher que vive como nômade

Mochileira, viajante, passageira do mundo. É assim que se define Josefa Feitosa, cearense que inspira o espetáculo “Egoísta”, a nova produção da Peixe-Mulher. Idealizada e dirigida por Juracy de Oliveira e protagonizada pela atriz Ana Marlene, a peça estreia dia 17 de julho, no Sesc Tijuca, e fica em cartaz de quarta a sábado, às 19h; e domingo, às 18h; até 4 de agosto.

“EGOÍSTA” nasce do desejo de levar ao teatro a história de Josefa, ou Jô, como prefere ser chamada, mulher negra, que decidiu driblar as regras e renegar tudo o que se espera de alguém na terceira idade. Para ela, nada de ficar em casa ou cuidar de netos, a vida está no movimento que se faz para viver no mundo.

Longe de ser um diário de bordo, EGOÍSTA é um espetáculo sensível e impactante, que passeia pela vida de Jô – das memórias de sua infância até as de suas viagens – mas que aborda, essencialmente, questões ligadas à maternidade e ao etarismo, em diálogo direto com a plateia.

A história de Jô e a concepção da peça

Jô nasceu em Juazeiro do Norte, é mãe, avó e assistente social por formação. Há sete anos “vive onde a sua mala está”. Depois de se aposentar, decidiu viver viajando, conhecendo novos lugares, novas pessoas, sem destino certo, guiada sempre pelo mistério e o encantamento de viver o inédito.

Aos 64 anos, já percorreu mais de 60 países e compartilha suas andanças pelo mundo nas redes sociais, cujo uso aprendeu com os jovens durante suas viagens. Jô não troca por nada a sua liberdade e o desfrute de viver na companhia de sua mochila. Porém, nem sempre foi assim.

Para quem almejou tanto viver a liberdade plena, Jô escolheu caminhos contrários ao que sonhava. Foram quase 30 anos dedicados ao sistema carcerário cearense, onde atuou fortemente na luta por Direitos Humanos. Fora dele, criou sozinha três filhos e acompanhou a criação de um neto. Para algumas mulheres, a maternidade solo também pode ser sinônimo de encarceramento.

“Conhecer a Jô foi uma surpresa, a história de vida dela é inacreditável e por ter sido criado em uma família com uma maioria de mulheres, a coragem dela me atravessou, me fez lembrar das mulheres que são referência pra mim. Essa peça parte de um desejo genuíno de homenagear pessoas enquanto estão vivas, ainda que não sejam famosas”, explica Juracy, diretor do projeto.

A coragem de Jô foi também o chamariz para Ana Marlene aceitar viver essa personagem. Assim como Josefa, Marlene também se prepara para viver o inédito: aos 45 anos de carreira, a atriz que fundou a Trupe Caba de Chegar – o primeiro grupo de teatro de rua de Fortaleza – se prepara para estrear o seu primeiro solo.

“A Jô me inspira. A história dela conta também uma parte da minha: uma mulher negra, que saiu de casa pra viver um sonho, que não teve medo de enfrentar o preconceito, não teve medo de ousar e se aventurar. Mesmo no alto dos seus 50, 60 anos, quando tudo o que a sociedade quer é que você se esconda, ela fez o contrário, apareceu mais ainda e pintou o cabelo de azul”, conta a atriz.

O projeto, que começou a ser construído no início de 2023 no Cena Absurda – Escola Livre de Encenação da Casa Absurda, e que tem sua temporada carioca fomentada pelo edital Sesc Pulsar, surpreendeu a protagonista da história real:

“Eu já vivi tanta coisa na minha vida, que sempre achei que daria até um livro, mas nunca um espetáculo, porque não sou nenhuma Leila Diniz. Porém, sempre vivi a vida com muita coragem, então espero que outras mulheres se inspirem, que olhem mais pra si, que também se encorajem para viver o que quiserem”, conclui.

SINOPSE:
“Egoísta” conta a história real de Josefa Feitosa, cearense de Juazeiro do Norte, que sempre acreditou que o mundo era muito grande para se perder tempo em um lugar só. Após sua aposentadoria, ela colocou a mochila nas costas e saiu em busca de sua liberdade.

EGOÍSTA
Datas: De 17 de julho a 4 de agosto | De quarta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h.
Local: Teatro 2 – Sesc Tijuca
Endereço: R. Barão de Mesquita, 539 – Tijuca
Ingressos: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia) / R$ 7,50 (credencial plena Sesc) *Gratuidade para PCG
Livre. 60 minutos.

FICHA TÉCNICA:
Direção e idealização: Juracy de Oliveira
Concepção dramatúrgica: Juracy de Oliveira e Sara Síntique
Texto: Sara Síntique
Elenco: Ana Marlene
Coordenação de Produção: Luana Caiubi
Coordenação de Comunicação: Renata Monte
Figurino: Cris Rodrigues
Cenário: Li Coelho e Cris Rodrigues
Ass. Direção: Alda Pessoa
Direção musical: Clau Aniz
Fotos: Karla Brights
Redes sociais: Desvio
Design: Lorena Araújo
Iluminação: Aline Rodrigues
Apoio: Trupe Caba de Chegar
Realização: Peixe-Mulher

Foto Karla Brights.