Enfermeiras ou salvadoras da pátria?

Não existe neste século uma profissão tão importante quanto a Enfermagem.

Diante do caos, Camila Pitanga e Lucia Gayotto tiveram a ideia de homenagear essa classe trabalhadora, que tem feito toda a diferença na vida das pessoas, especialmente de quem vive o pesadelo de contrair o coronavirus.

Foram as enfermeiras que inventaram, neste momento pandêmico, as “mãos de luva”, para aquecer e acalentar as mãos daqueles que sozinhos lutam por suas vidas, isolados nas UTIs de todo país. São as mesmas almas generosas que escrevem recados incentivadores aos pacientes internados, que lutam pela vida, também são elas que ligam para as famílias dando conforto e notícias — tão valiosas quanto barras de ouro nesse momento. São as responsáveis pela aplicação das vacinas imunizantes — doses de vida — que trazem alento e esperança.

Claro que a dramaturgia de um espetáculo como “Matriarquia” não precisaria contar com um viés pessoal para ser contemplada, mas um pouco de veracidade dá ainda mais emoção e potencializa a obra.

Quem conhece as obras da autora, já conhece sua competência, neste texto Dione Carlos é absoluta. Ao ser lida, Dione foi imediatamente escolhida para compor o trio e inegavelmente trouxe ainda mais força ao projeto.

Mulher periférica, negra, criada dentro de um centro de umbanda e filha de uma técnica de enfermagem aposentada, a autora fez uma imersão em sua própria vida e emprestou sua verdade e intensidade ao texto.

Admirando as enfermeiras Maria Soldado à Dona Ivone Lara, ambas enfermeiras, a vontade de reconhecer essas profissionais parecia criar asas para alçar esse belíssimo voo. E depois da fase embrionária de concepção da obra, nasceu o espetáculo, do verbo à vida. Pelas mãos de quem? Pelas mãos de Camila Pitanga, com sua imensa vocação de atuar com precisão. Incorporou a personagem, parece que em dimensões espirituais também. A atriz também trouxe um pouco dela para o espetáculo, pode-se dizer “o tudo” dela. O espetáculo é para todas!

“Matriarquia” parece ter gerado uma força entre as mãos que a talharam. Cristina Moura dirige com legitimidade, um olhar de águia, assertivo, indubitavelmente idôneo. E tudo no audiovisual fala: o cenário com os quadros ao contrário deixa claro o momento que não só a enfermeira atravessa. A potente dança de Camila remete às raízes africanas latentes, do verde ao grito nada apolítico e ao Funk, também ícone da resistência de corpos negros que dançam e mesmo diante de tanta violência, recusam-se a morrer.

Em um momento, o público pode sentir o cansaço da personagem, a enfermeira com os trajes pandêmicos no sair e adentrar os espaços, atravessando uma porta de um lado ao outro exaustivamente. Incrível como a cena leva à sensação de exaustão angustiante. O banho de álcool traz representatividade deste momento que todos vivenciam.

A força de Pitanga vai além de sua árvore genealógica, ela é peculiar, evidencia sua identidade. A beleza é admirável, no entanto, a força cênica, parece nascer naquele corpo e se apoderar dele.

O casal Gayotto cuidou dos ritmos da obra com competência relevante. Trata-se também de música, do bom gosto em trazer Carmem Miranda.

E assim segue a indicação de uma obra forte, necessária.

Enquanto houver sopro, haverá teatro! Que o digam as enfermeiras, sempre ávidas a darem oxigênio a quem precise respirar para seguir em frente!

Trecho da Sinopse: Criado por Camila Pitanga, pela preparadora vocal Lucia Gayotto, pela dramaturga e roteirista Dione Carlos e pela diretora Cristina Moura, Matriarquia é um encontro de mulheres e é deste encontro – ou “sistema social liderado por mulheres” – que o trabalho surge. “Matriarquia é sobre o encontro dessas mulheres, é sobre o meu encontro com minhas vivências e percepções, bem como minha experiência neste mundo que atravessa uma pandemia”, explica Camila.

Foto Divulgação

MATRIARQUIA (EM PROCESSO)

Temporada até 15/5

Ingressos gratuitos

Duração 55 minutos

Classificação 12 anos

Gênero Drama

Assista: www.culturaemcasa.com.br

FICHA TÉCNICA

Idealização: Camila Pitanga e Lucia Gayotto

Texto: Dione Carlos

Direção: Cristina Moura

Interpretação: Camila Pitanga

Criação: Camila Pitanga, Cristina Moura, Dione Carlos, Lucia Gayotto

Produção: José Maria e Camila Pitanga

Direção Musical, Trilha Sonora Original e Músico: Luiz Gayotto

Direção Vocal e Interpretativa: Lucia Gayotto

Direção de Fotografia e Primeira Câmera: Clara Cavour

Direção de Arte, Fotos, Criação e Produção das imagens projetadas em cena:

Rodrigo Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli

Assistência de Direção e Segunda Câmera: Matheus Malafaia

Iluminação: Leandro Barreto

Assistência de Produção: Chayene Santos

Cenotécnico: Iuri Wander

Criação luminária objeto bicho da seda: Francisco Palmeiro

Criação objeto Figa: Marc Kraus

Colaboração afetiva: Vera Manhaes, Antonia Pitanga

Assessoria de Imprensa: Trigo Comunicação

Fotos: Rodrigo Pinheiro e Gal Cipreste Marinelli