“O espetáculo tem a proposta de resgatar o prazer de contar e ouvir histórias, resultado de uma vasta pesquisa, que une cantigas de ninar brasileiras a narrativas populares.”
Mário Brant teatraliza suas histórias com uma sagacidade imensa. Um belo mergulho à cultura popular brasileira! Uma beleza de espetáculo, simplesmente imperdível.
A sociedade brasileira atravessa momentos tão difíceis, que às vezes, parar para sonhar, deixar-se levar pelo encantamento faz-se necessário. Permitir-se encantar com o belo, com o lúdico e com a ingenuidade, vale muito. Funciona como uma limpeza espiritual, ou como uma boa terapia. E, por que não? Dizem que o teatro é a terapia da alma. Teatro como cura, ouve-se muito isso por aí, que o riso e o despertar das emoções ajudam as pessoas. E existem vários depoimentos que comprovam ser a arte cênica um escape para muitos.
Canta & Conta faz lembrar o conto alemão de 1824, “O Flautista de Hamelin”, reescrito pelos Irmãos Grimm, escritores dedicados às fábulas infantis. O flautista ficou de retirar os ratos da cidade, cumpriu sua promessa, mas não recebeu o dinheiro combinado pelo feito. Voltou à cidade e por meio de sua flauta encantadora tirou todas as crianças da cidade. Assim, faz Mário Brant com seus incríveis contos. Sequestra as crianças do universo que escutam suas histórias, todas ficam hipnotizadas. Sua interação com a plateia infantil é simplesmente arrebatadora.
Adultos ficam boquiabertos com tamanha proeza, em como o artista prende a atenção dos pequenos e os envolvem nas suas narrativas. Parece até feitiço! As crianças ficam atentas ao espetáculo, acompanham cada conto e interagem, completando frases e músicas.
E nesse universo de contos regionais, os adultos não ficam de fora. Todos participam e como as crianças, acompanham Mauro atentamente, encantados.
A indumentária do artista é linda, mas nada que desperte a atenção das crianças. Cores claras e bem recortadas. O colete faz lembrar os tocadores de realejo, são inclusive mencionados em um dos textos, elucida o macaquinho que acompanha o artista enquanto toca o instrumento, no que lhe concerne ser medieval. Carol Lobato é quem assina o figurino.
O cenário é o próprio artista, pois olhos e ouvidos ficam fixados nele, não há necessidade de mais nada, apenas ouvidos são também captados pelo músico do acordeon, Tibor Fitel, que se agiganta no palco, imenso como o seu colega narrador. As notas causam admiração e acompanham o artista, com perfeição, em sua cantoria. Existe sintonia entre eles, que estão, indubitavelmente, conscientes do que fazem, com a intenção premeditada de sequestrar almas.
SINOPSE
“As lendas, contos e cantos populares, que habitam a memória da gente a quem chamamos imaginário, refletem a alma de um povo, seus sonhos, temores, sua fé e sobretudo, sua identidade.
No Brasil, a tradição oral mantém as lendas e os contos vivos na boca dos narradores, cantadores e de quem simplesmente conta uma boa história. Um dos mais prestigiados artistas, dedicado a mais de trinta anos à arte da dita: “Cotação de Histórias” no Brasil, o ator, autor e cantor, José Mauro Brant une-se ao músico Tibor Fittel, para resgatar as lendas e cantos da tradição oral brasileira, em três recitais diferentes, de histórias para crianças de todas as idades. Um convite ao público para interagir com as emoções e sentimentos que povoam o nosso folclore.”
São três espetáculos diferentes, o que vale muitíssimo a pena assistir, pois, o artista faz uma visita aos contos de todas as regiões do Brasil. É perceptível a riqueza de detalhes que ele traz a todos os espectadores, em suas histórias. A utilização perfeita de sua voz, é o próprio som do “Flautista de Hamelin”, assistam para conferir e reafirmar essa conclusão.
As expressões corporais do artista, também acompanham o espetáculo, que se faz delicado e comovente. Aos adultos algumas lágrimas, enquanto para as crianças, cabe olhares atentos aos momentos de calmaria. As expressões faciais se comunicam com o texto e com a todos na plateia. É possível, acreditar que o artista muitas vezes, fala diretamente a cada um presente.
Objetos de cena, são perfeitos. Em um dos contos é utilizado um boneco. Bruno Dante, é um dos profissionais que mais chama a atenção na arte de criar esses personagens. Sempre atuante no mercado, por ser um dos melhores do Brasil. Nome forte, que produz com mãos habilidosas seus bonecos. Tudo detalhado, a ponto de gerar impressões duvidosas, pois eles carregam olhares profundos, parecem vivos.
Um dos contos chama-se “A Menina dos Brincos de ouro”. É um conto que narra a história de uma menina — representada por um boneco — raptada por um velho, e enfiada em um surrão (saco de couro). Ela é obrigada a cantar dentro dele, caso não o faça, o velho a castigará. O desfecho da história é lindo e leva a plateia mirim à interação nível máximo. Um conto popular da Bahia e do Maranhão, perpetuado pelos escravos africanos. No original, os personagens eram animais, mas foi reescrito e trouxe a menina para ser a personagem principal.
Vera Angelo Novello também compõe a ficha técnica dessa obra, sem grandes produções, mas primorosa, fato inegável! Com tantos renomados nos bastidores, o que esperar, além de um espetáculo fabuloso? Vera é sinônimo de competência!
Um contista, muitos sonhos e histórias ficarão na memória de todos que estiverem presentes.
CANTA & CONTA
Contador de história José Mauro Brant
Teatro Casa Grande
Av. Afrânio de Mello Franco, 290, Leblon
Saída Metrô Jardim de Alan
Somente até dia 3/10
Sábados e Domingos, às 11h
Às 11 horas
Informações: (21) 2511-0800
contato@teatrocasagrande.com.br
FICHA TÉCNICA
Texto Pesquisa e interpretação: José Mauro Brant
Figurino: Carol Lobato
Bonecos e adereços: Bruno Dante
Arranjos e direção musical: Tibor Fittel